Os trabalhos de restauração das ruínas da cidade milenar síria de Palmira, classificada como Património Mundial pela UNESCO, vão começar a partir de junho ou julho deste ano, anunciou na terça-feira o diretor de Antiguidades e Museus da Síria.

“Vamos começar a restauração pela cidadela, mas primeiro temos de garantir que não existe qualquer mina ou explosivo naquela zona”, explicou Maamun Abdelkarim, em declarações à agência noticiosa espanhola EFE.

Quase durante um ano, a população de Palmira viveu sob o controlo do grupo extremista Estado Islâmico (EI), que conquistou a cidade em maio de 2015.

No domingo, e após vários dias de uma ofensiva apoiada pela aviação russa, o exército do regime sírio anunciou a recuperação do controlo total de Palmira.

Depois de as autoridades sírias terem terminado na segunda-feira a desminagem da zona arqueológica, onde existem ruínas greco-romanas, uma equipa da Direção-geral das Antiguidades chegou na terça-feira de manhã a Palmira para avaliar a dimensão dos danos, um processo que irá prolongar-se durante os próximos dois meses.

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“A situação geral é boa, uma vez que 80% da zona antiga está preservada”, apontou o responsável arqueológico, que está em contacto com os peritos destacados para Palmira e que teve acesso às imagens mais recentes das ruínas.

Desde que assumiram o controlo da cidade milenar, os ‘jihadistas’ destruíram, com recurso a explosivos, três torres funerárias do século I, o templo de Bel, o templo Bal Shamin e o arco do triunfo.

Os arqueólogos verificaram danos nas ruínas greco-romanas, localizadas nos arredores da cidade, mas também no museu de Palmira, onde o EI danificou estátuas.

“Eles destruíram os rostos de vinte estátuas que estavam no museu por motivos religiosos, já que este grupo tem uma ideologia extremista”, referiu Maamun Abdelkarim.

Apesar dos danos, o responsável arqueológico acredita que os rostos das estátuas poderão vir a ser reconstruídos.

Os danos no museu não foram maiores porque, segundo recordou Maamun Abdelkarim, as autoridades sírias conseguiram retirar e colocar em zonas seguras 400 estátuas, antes da ofensiva ‘jihadista’ contra Palmira.

“Só ficaram no museu as peças maiores que não podíamos transportar”, precisou o diretor de Antiguidades e Museus da Síria.

Maamun Abdelkarim prevê que serão necessários cerca de cinco anos para restaurar os danos provocados pelo grupo radical sunita.

O projeto de restauração vai contar com a colaboração da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e da população local.

A UNESCO anunciou que vai enviar uma missão de peritos para Palmira e que vai organizar, em finais de abril, uma conferência sobre a reconstrução do património cultural da Síria.

Em outubro de 2015, o antigo responsável pela arqueologia na Direção-geral de Antiguidades e Museus de Damasco Michel al-Maqdissi esteve em Lisboa e defendeu então que a preservação da herança arqueológica da Síria, fortemente ameaçada, só seria possível com uma mentalidade pós-conflito “clara e unida”.

Uma tarefa que dependerá em muito das novas gerações do país, mas também das organizações internacionais como a UNESCO.

O mesmo perito, que atualmente trabalha no Museu do Louvre (Paris), frisou na mesma altura que a herança arqueológica daquele país “está à mercê de todos os grupos presentes no terreno”, do Estado Islâmico à oposição síria, passando também pelas forças do regime de Damasco que, muitas vezes, são responsáveis por “pilhagens silenciosas”.

Palmira foi classificada como Património Mundial pela UNESCO em 1980. A “pérola do deserto”, como é apelidada esta cidade com mais de 2 mil anos, está situada a cerca de 210 quilómetros a nordeste da capital síria, Damasco.

Antes do início do conflito sírio, em março de 2011, as ruínas de Palmira eram um dos principais pontos turísticos da Síria e da região. A Síria conta com seis locais classificados como Património Mundial da Humanidade.