O vice-presidente do Brasil, Michel Temer, voltou a dizer que está preparado para assumir a Presidência do país caso o impeachment de Dilma Rousseff passe na Câmara dos Deputados e no Senado.
“Se o destino me levar para essa função, e mais uma vez eu digo que eu devo aguardar os acontecimentos, é claro que estarei preparado porque o que pauta a minha atividade é exatamente o diálogo”, referiu numa entrevista ao Estado de São Paulo divulgada na terça-feira à noite.
O político mostrou-se cauteloso nas respostas porque a votação do impeachment ainda não aconteceu, mas realçou que tem “uma vida pública já com muita experiência” e destacou o seu currículo.
Michel Temer afirmou que, se chegar à Presidência, pretende governar promovendo o diálogo entre todos os partidos e voltou a referir que manterá os programas sociais do Governo.
Quanto à possibilidade de permanecer no cargo de vice-presidente se o pedido de destituição da Presidente Dilma Rousseff for rejeitado, respondeu: “Se nada acontecer, tudo continuará como dantes, não é? Nada mudará”.
A Câmara dos Deputados vota no próximo domingo o pedido de impeachment e, se for aprovado, segue para o Senado. Caso Dilma Rousseff seja afastada do cargo, Michel Temer assumirá temporariamente o cargo.
“Não gosto de usar a palavra golpe, que está sendo muito indevidamente utilizada, politicamente utilizada”, disse, a propósito do argumento que tem sido repetido pela Presidente e pelos seus apoiantes.
Quanto à possibilidade de antecipar as eleições, Michel Temer mostrou-se contra, por ser “muito apegado ao texto constitucional”.
“Toda a vez que se quiser sair do texto constitucional está-se propondo uma rutura com a Constituição. E toda e qualquer rutura com a Constituição é indesejável para o país”, comentou.
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de Michel Temer, decidiu, a 29 de março, abandonar o executivo, mas nem todos os seus ministros concordaram em deixar os cargos.
Na terça-feira, a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, acusou Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de serem “dois chefes do golpe, da farsa e da traição”.
“Vivemos estranhos tempos de golpe, farsa e traição. Existem, sim, dois chefes que agem em conjunto de forma premeditada. Como muitos brasileiros, tomei conhecimento e confesso que fiquei chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento [divulgação]”, disse a chefe de Estado.
A líder brasileira referia-se à divulgação, na segunda-feira, de uma gravação com Michel Temer a proferir um discurso de eventual tomada de posse como chefe de Estado brasileiro.
No mesmo dia, e após ser conhecida a gravação, o ministro-chefe do gabinete pessoal da Presidente, Jaques Wagner, disse que Michel Temer deve renunciar ao cargo de vice-presidente se o processo de ‘impeachment’ de Dilma Rousseff for rejeitado no Congresso.
“[Temer] macula a sua própria história, rasga a fantasia e assume o papel que antes poderia estar escondido, de patrocinador do golpe. Não me consta que ele tenha bola de cristal. [Na] votação de domingo, ele pode ficar desmentido e um pouco sem saída. Uma vez desmentido, só restaria a renúncia”, afirmou Jaques Wagner.
O chefe do gabinete de Dilma Rousseff acrescentou que, “depois de assumir a conspiração, uma vez derrotada [a conspiração], vai ficar um clima insustentável”.