Entrar no Belcanto durante os dois meses em que o restaurante esteve encerrado para obras permitiu, a quem o fez, apanhar cenas tão pouco habituais como o chef José Avillez a montar ele próprio a nova instalação artística da sala de refeições: um conjunto de pratos de cerâmica desenhados por si e executados pela ceramista Cátia Pessoa. E quando se escreve montar não é figura de estilo: foi mesmo ele que colou os ditos pratos um a um.
Pode parecer estranho que um dos mais reputados chefs portugueses ponha as mãos na massa — especialmente numa que não coze — desta maneira. Mas Avillez é mesmo assim: combina uma certa hiperatividade com a atenção constante a todos os pormenores. Tanto que foi ele que tratou de conceber e coordenar a nova decoração da sala com o objetivo de, como diz, “elevar ainda mais a qualidade do ambiente, do serviço e da cozinha”. Dessa decoração fazem também parte fotografias tiradas pelo seu pai nos anos 70 e outras, de Lisboa, de autoria de Luís Mileu, além de quadros de Pedro Batista e Marco Pires.
Será também legítimo questionar a necessidade de mexer de forma tão profunda num restaurante que tem sido um enorme caso de sucesso desde 2012, ano em que o chef cascalense pegou nele, e que é o único em Lisboa com duas estrelas Michelin e presença no reputado guia The World’s 50 Best Restaurants. Terá a ver com a ambição de chegar à terceira estrela? “Não. Tem a ver com a vontade de querer sempre fazer mais e melhor, pensando sobretudo no cliente e não nos prémios”, responde Mónica Bessone a responsável de comunicação dos restaurantes de José Avillez.
E terá também a ver com uma cozinha que, até aqui, surpreendia quem lá entrava pelas dimensões exíguas. Agora está bem maior e permite, diz o chef, “executar, nas melhores condições, o trabalho atento e rigoroso” a que se propõem. Tanto assim é que os clientes mais curiosos são convidados, a determinado momento da refeição, a conhecer os renovados bastidores do restaurante, sem correr o risco de esbarrar com alguém por falta de espaço. A reação? “Ficam sempre surpreendidos com a tranquilidade e com a organização”, refere Mónica.
Para alargar a cozinha a sala perdeu alguns lugares. Sobraram 28, distribuídos por dez mesas. Tornou-se, portanto, ainda mais difícil obter mesa para experimentar os menus que, por enquanto, são os mesmos do período pré-renovação. Mas o sacrifício terá valido a pena. “Quem conhece o chef percebe que o restaurante está bem mais pessoal”, descreve Mónica Bessone, que justifica a afirmação com o “amadurecimento da ideia que ele tinha para o restaurante quando aqui chegou”. Isto porque, como explica a responsável, a primeira renovação, em 2012, “funcionou como uma espécie de transição” entre a casa original, aberta em 1958 e o que Avillez queria fazer dela no futuro. Chegados a 2016, o Belcanto está muito mais próximo disso, tanto na cozinha como nos materiais, na luz ou nas obras que decoram a sala. Ou seja, o futuro chegou.
Nome: Belcanto
Morada: Largo de São Carlos, 10 (Chiado), Lisboa
Telefone: 21 342 0607
Horário: De terça a sábado das 12h30 às 15h e das 19h às 23h
Preço Médio: Há menus degustação de 125€ e 145€. Pedindo à carta o preço médio por pessoa ronda os 100€.
Site: www.belcanto.pt