Com as tecnologias e as novas descobertas a chegar ao mercado da beleza, vão surgindo mais e mais produtos que apostam em ingredientes hi-tech, investigações elaboradas, embalagens futuristas e que prometem resultados extraordinários. E no que toca a problemas mais difíceis como hiperpigmentação, flacidez ou rugas profundas, vale a pena saber mais do que as duas linhas que aparecem na frente da embalagem. Supondo que aplica, por dia, 10 diferentes produtos (cabelo, rosto, corpo), a sua pele está a absorver qualquer coisa como 130 químicos diferentes. E sabe realmente o que é que isso significa?

“Só porque um produto usa o termo ADN ou vem numa embalagem prateada futurística, não significa que haja alguma ciência credível por trás”, diz Leslie Harris, diretor-geral da marca SkinCeuticals à revista Marie Claire. Tal como a tecnologia usada para desenvolver o mais recente smartphone, também a tecnologia de cuidados de pele está em constantes mudanças e atualizações. A pensar nisso, reunimos algumas dicas para se tornar expert no que toca ao mercado da beleza de forma a fazer compras inteligentes que façam efeito naquilo que pretende sem riscos para a saúde.

Use o seu telemóvel enquanto faz compras

Falamos da aplicação Think Dirty. Só tem de escrever o nome de um produto, ou passar o código de barras pelo scan, e a aplicação diz-lhe a sua classificação com base nos ingredientes tóxicos e químicos, se tem, ou não, ingredientes naturais, e quão “poluído” (dirty) é o produto em termos de toxicidade e potencial cancerígeno. Também mostra alternativas para garantir que encontra o melhor produto para aquilo que procura.

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Numa conversa com a autora da app, o Huffington Post explica que os produtos que não são ingeridos não são obrigados a ter a sua listagem de ingredientes, pelo que se torna difícil saber o que realmente estamos a aplicar na nossa pele diariamente. E, ao não obedecerem aos mesmos padrões de segurança que os alimentos ou os medicamentos, muitos deles contém químicos que ainda não foram testados como seguros e que têm, normalmente, uma sigla: GRAS, que significa “Generally Recognized As Safe” (geralmente reconhecido como seguro) que apenas prova que o produto não é prejudicial. Ou seja, não mata mas pode moer.

think dirty app

Apresentação da app, que é gratuita.

Estude os ingredientes que procura, para não comprar produtos errados

E já não tem desculpas porque, aqui no Observador, já explicámos não só o que significam os ingredientes mais comuns nos cosméticos mas também o que, normalmente, a pele precisa em cada idade. Se tem acne, por exemplo, comprar o produto contra o acne juvenil que vê na televisão não faz grande sentido porque são dois tipos de acne diferentes nas causas e nas manifestações (e também já explicámos isso aqui). O importante será procurar cosméticos com os ingredientes que atuam nesta problemática como BHA, ácido salicílico ou peróxido de benzoíla.

Não se deixe enganar por ingredientes “xpto” e hi-tech

Os produtos com fórmulas milagrosas com baba de caracol, células estaminais ou caviar, por exemplo, prometem mundos e fundos mas, como a revista Marie Claire explica, no caso das células estaminais, aquilo que se encontra no mercado são cosméticos que contêm extratos de células estaminais de plantas e esse processo é caro. Isso significa que tem de ter cuidado com os produtos milagrosos e baratos que garantem ter o ingrediente X de última geração. Basta ver a marca La Prairie, que tem uma das mais conceituadas investigações de caviar no mundo, e cuja gama “Caviar Collection” tem preços que vão dos 160€ aos 700€.

Se ainda não se tornou adepta dos cosméticos seguros, esta é uma boa altura

Em 2014, a União Europeia baniu cerca de 1.400 químicos dos cosméticos e produtos de cuidados pessoais por não serem considerados seguros. Ao contrário dos Estados Unidos (que, no mesmo ano, só baniu 11), a Europa tem um grupo de cientistas independentes da indústria da cosmética — o Scientific Commitee on Consumer Safety (SCCS) — que pode tomar decisões. Nos EUA esta ainda é uma realidade que depende da autoregulação da Cosmetics Industry Review e o mercado, como se pode imaginar, enfrenta muitos lobbys contra uma legislação que ponha em causa toda a indústria da cosmética. Mas há ainda muitos passos a dar, deste e do outro lado do oceano Atlântico. Um exemplo são os já familiares parabenos: servem para conservar os cosméticos e impedir a sua contaminação mas a União Europeia só baniu cinco tipos de parabenos por serem prejudiciais — muitos outros tipos continuam a ser usados em cosméticos banais do dia-a-dia.

Várias marcas já apostam neste mercado seguro, não tóxico, e não é um pesadelo procurá-las: Weleda, REN, Caudalie, Nuxe, Avène, Klorane e Novexpert são só alguns exemplos. Se quiser, pode mesmo contactar as marcas em Portugal e questioná-las sobre a sua segurança.

Atenção: sempre que ler natural, não significa que é seguro

O site Fashionista, que falou com Perry Romanowski (um ex-formulador de cosméticos, professor e criador do blogue Chemists Corner) explica esta questão de forma muito prática: os rótulos podem ser duvidosos, uma vez que muitas marcas querem fazer parecer que os seus produtos são bons, saudáveis e naturais, o que nem sempre é verdade. Muitas vezes, a marca lança uma gama e acrescenta-lhe a palavra natural quando, na verdade, pegou na fórmula regular, usou alguns extratos diferentes, mudou a cor, o aroma e chamou-lhe “natural”. Outras vezes, junta-se algum aloé para parecer natural mas, na verdade, tem três tipos de parabenos por trás. Na Europa, as leis são mais restritas — nos EUA, quase 90% dos 10.500 ingredientes conhecidos não foram avaliados quanto à sua segurança, de acordo com o Environmental Working Group –, mas procurar por produtos sem parabenos, sulfatos, silicones e perfume já é um bom começo para comprar com inteligência.

Os problemas a longo prazo

Ainda ninguém morreu devido a um qualquer ingrediente do seu creme de dia, mas a razão por que a União Europeia baniu cerca de 1.400 químicos está relacionada com as preocupações de que possam causar cancro, problemas reprodutivos ou malformações congénitas.

3 dicas rápidas

Se leu o artigo todo na diagonal, leia, pelo menos, estas dicas rápidas:

  1. Nem tudo o que é natural é realmente natural porque não existe ainda uma legislação que regule termos como “natural” ou ingredientes “all natural”. Uma forma de comprar com segurança é usar a app Think Dirty ou pesquisar no site Skin Deep Cosmetics Database que classifica mais de 90 mil produtos de zero a dez conforme a sua toxicidade.
  2. Escolha produtos sem parabenos, sulfatos, silicones e perfume. Felizmente, na Europa, muitos ingredientes dos perfumes já foram banidos mas uma única fragrância de um produto pode conter dezenas de químicos tóxicos.
  3. Compre marcas que apostem no selo de segurança e ingredientes naturais (ao invés de sintéticos) tanto na cosmética como na maquilhagem.