António Costa, comentador da TVI, reafirmou a tese defendida pelo diretor da estação, Sérgio Figueiredo, a propósito da notícia de que estaria tudo preparado para o fecho do Banif. Mas foi mais longe na assunção do erro ou falsidade da informação inicialmente difundida em rodapé de que haveria perdas para os depositantes acima dos 100 mil euros.

Na audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif, António Costa sublinhou que na “essência, a notícia era verdadeira”, embora admita que fecho não é forma mais precisa para falar de resolução.

O ex-diretor do Diário Económico, que estava em estúdio naquele domingo à noite (13 de dezembro) para comentar o tema Banif, reconheceu que a informação sobre perdas para os grandes depositantes era “falsa e não deveria ter sido feita. Induziu em erro, mas foi corrigida”.

Esclareceu ainda que quando viu essa informação no rodapé teve a perceção de que a perda para depositantes acima dos 100 mil euros não decorria da lei que estava então em vigor. Mas clarificou que não participou na elaboração da notícia, apenas no comentário, em aparente contradição com a indicação dada na semana passada pelo diretor da estação de que teria sido chamado a colaborar no desenvolvimento da informação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

António Costa afirmou ainda que o “fecho” do Banif era uma descrição adequada considerando o que veio a acontecer, sobretudo num meio como a televisão. E remeteu para declarações sobre o fecho do BES que também foi objeto de resolução. Costa desvalorizou ainda o impacto da notícia da TVI no desfecho do processo do Banif. “A minha convicção era que, com ou sem notícia, o banco seria sempre resolvido”. Mas disse não saber se teria sido resolvido de outra maneira. Assinalou ainda a indisponibilidade aparente de Bruxelas para outra solução e apontou o dedo à incapacidade de gestão do Banif.

António Costa assegurou que o seu papel naquela noite foi o de comentador de economia onde procurou dar enquadramento à notícia dada, em relação à qual tinha confiança que estava fundamentada. Explicou que não participou na elaboração da notícia e que o contacto telefónico feito com o então presidente do Banif, Jorge Tomé, já depois de divulgado o primeiro rodapé, não visou confirmar a notícia, mas obter enquadramento.

Revelou ainda que foi contactado pelo diretor da estação, Sérgio Figueiredo, por SMS que lhe pediu para fazer o comentário. Costa remeteu aliás para o diretor de informação da TVI questões relativas ao projeto de deliberação da ERC (regulador da comunicação social) que condenou a atuação da estação na notícia sobre o Banif.

O deputado do PSD, Carlos Silva, questionou diretamente António Costa sobre se era Paula Costa Simões quem estava na edição editorial naquele domingo. António Costa respondeu que não viu a editora de política da TVI nessa noite e remeteu para as provas “documentais” que terão segundo o diretor da estação sustentado a notícia. Mas reconheceu também que essas provas – a carta do governador para o ministro das Finanças em que admitia que a resolução era a alternativa caso falhasse a venda do Banif – não dispensariam a necessidade de contactos prévios com as partes interessadas.

Sérgio Figueiredo, que foi ouvido na semana passada na comissão de inquérito, recusou sempre relevar a identidade do jornalista que terá tido a informação que deu origem ao rodapé inicial, assumindo enquanto diretor toda a responsabilidade.

O ex-diretor do Diário Económico foi ainda questionado sobre a sua relação com Bruno Proença, atual porta-voz do Banco de Portugal. Respondeu que foi seu subdiretor no jornal de economia e que mantém uma relação de amizade com ele.