A pintora Paula Rego inaugurou esta quarta-feira, na Casa das Histórias, em Cascais, a exposição “Old meets New”, que reúne obras inéditas, inspiradas em “A Relíquia” e “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós.
Chegou cedo, dispôs-se a falar com os jornalistas que a aguardavam, passeou pela exposição, admirou os seus próprios quadros e falou de cada um deles e da história que conta.
“Cada quadro é uma história, é um livro. As histórias são muito importantes. Tudo são histórias que depois se tornam quadros”, disse a pintora aos jornalistas.
A cada paragem, sempre acompanhada pela curadora da exposição, Catarina Alfaro, e pelo presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, a pintora comenta: “Este [quadro] diz a chegada do primo Basílio, ela está a ler o jornal”.
Ou então: “Este tem tantos bichos, são ratos”.
“Tenho uma grande paixão pelo Eça de Queirós. Quando leio os livros, às vezes, começo logo a imaginar os quadros”, desabafou a artista.
Paula Rego assume que, na relação entre a obra de Eça e os seus quadros, o seu preferido é “O Crime do Padre Amaro” e que “Os Maias” são “muito difíceis”.
“Eça é muito português. As coisas que ele escreve… O meu favorito é o ‘Padre Amaro’ e este, ‘O Primo Basílio’. Não consegui fazer ‘Os Maias’, é muito difícil”, contou.
Ao autarca de Cascais, que lembrou à pintora estar a cumprir a promessa que lhe fez de cuidar dos seus “bonecos”, Paula Rego disse que tem já mais exposições preparadas.
“Há de haver mais. Se eu não morrer, vou fazer mais. Já tenho mais oito. Vamos fazer aqui mais histórias e entretenimento”, prometeu Paula Rego.
A exposição “Old Meets New” conta, numa sala, com o cenário criado pela pintora, para a construção da série “O primo Basílio”, em articulação visual com as obras que a constituem, que se encontram noutra sala, mesmo ao lado.
Às séries de pintura “A Relíquia” (2013) e “O Primo Basílio” (2015), apresentadas pela primeira vez em Portugal, juntam-se ainda dois conjuntos de gravuras da autoria de Paula Rego, nomeadamente sobre a “Mutilação genital feminina” (2009), e as seis de “Les planches courbes”.
“Old Meets New”, que mostra parte da produção mais recente da artista, realizada entre 2013 e 2015, é prova de que a literatura tem sido uma influência recorrente nas obras de Paula Rego.
“O Primo Basílio” e “A Relíquia” apresentam-se como “ponto de partida narrativo” para as suas novas séries de obras.
“Estas histórias são encenadas, representadas e reinterpretadas no atelier da artista, onde ganham vida própria, numa delineada estratégia de transgressão face às histórias originais. Nesta abordagem, marcadamente autoral e muitas vezes autorreferencial, as obras ganham um novo sentido, ao articularem-se com elementos e histórias que apenas à autora dizem respeito”, descreve a curadora Catarina Alfaro, no texto introdutório da exposição.
A assistente de Paula Rego, Lila Nunes, presente na apresentação da mostra, foi um dos modelos que deu “vida própria” à obra da autora, representando Juliana, a empregada em “O Primo Basílio”.
“Estou ali na Juliana, que é a má. Temos de ficar estáticas o tempo que for preciso, mas depois temos de ir parando, depende da posição, mas temos de ficar até o quadro estar acabado”, contou.
Além de modelo, Lila é também assistente de Paula Rego, há mais de 30 anos, e disse que trabalhar com a artista “é muito fácil”.
“Agora trabalho a tempo inteiro com ela. Estamos sempre juntas. Vou buscá-la, vamos para o estúdio, tomamos café, trabalhamos e planeamos o que temos para fazer. É trabalhar mesmo. Temos de nos concentrar e fazer o melhor que podemos. É uma pessoa muito fácil e adapta-se, é fácil de trabalhar”, descreveu.
A idade da pintora, que tem 81 anos, não é uma limitação, nem para o ritmo de trabalho, nem para a criatividade, assegura a assistente.
“Continua o mesmo ritmo de trabalho, com a mesma procura de histórias e a fazer o quadro continua a mudar as histórias, coisas que aparecem, depois desaparecem e ficam enterradas, é igual”, adiantou Lila.
A exposição “Old Meets New” vai estar patente até 30 de outubro na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais.
Esta mostra inclui também a série sobre D. Manuel II, o último Rei de Portugal, criada em 2014, e o tríptico do mais recente autorretrato da artista.
Paula Rego, 81 anos, foi distinguida em 2010 pela rainha Isabel II, com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes.
Quinta-feira, a artista vai ser distinguida com a Medalha Municipal de Honra da cidade de Lisboa, no Museu Bordalo Pinheiro, onde também vai inaugurar a exposição “Diálogos Imaginados, Rafael Bordalo Pinheiro e Paula Rego”.