A tendência interna do PS denominada Corrente de Opinião Esquerda Socialista, coordenada por António Fonseca Ferreira — ex-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa de Vale do Tejo –, vai reunir-se esta terça-feira no Café Nicola, em Lisboa, para apresentar o “Manifesto Mais Democracia”, que tece uma série de críticas à liderança de António Costa. Antigos apoiantes de António José Seguro, como João Proença (ex-secretário-geral da UGT) ou Manuel dos Santos, foram anunciados como participantes no jantar onde também serão apontados os problemas relacionados com a atual solução de apoio do PCP e do BE ao Governo socialista. “Depois de quatro anos de Governo de austeridade, uma solução destas seria bem-sucedida e desejável”, diz Fonseca Ferreira ao Observador. “O problema é se isto tem pernas para andar”.

Álvaro Beleza — que tem representado a ala segurista no partido — foi dado como certo no encontro, mas afinal não vai participar por razões pessoais. Contactado pelo Observador, o socialista adianta, no entanto, que vai ao Congresso socialista, mas ainda não sabe se vai falar no palco que o partido vai ter instalado durante o fim de semana num dos pavilhões da Feira Internacional de Lisboa.

É só nesses dias que António Costa fechará as listas para a Comissão Nacional (o órgão de direção máximo entre congressos), mas nas correntes minoritárias existe a expectativa de existir inclusão, ou, como diz um segurista, “de ter nesses órgãos uma representação abrangente“. De acordo com o que o Observador apurou, há contactos apalavrados entre as partes para esses dias e o interlocutor da direção socialista voltará a ser Álvaro Beleza, como aconteceu no último congresso — que se seguiu à intensa disputa interna no PS, entre António José Seguro e António Costa. Um dos seguristas acredita que a intenção de inclusão “está no espírito do secretário geral” e também desdramatiza que os contactos para essa negociação ainda não tenham tido lugar: “Normalmente essas questões não se discutem mais a sério sem ser na sexta-feira”. Mantém-se a expectativa, por agora, para no final do congresso se fazerem as contas à tal “abrangência”, desejada de um lado e prometida do outro.

Fonseca Ferreira estará presente no congresso, onde tem assento por inerência, dado que pertence à Comissão Nacional. Mas não se recandidatará este ano a qualquer cargo partidário. “Espero falar neste congresso, uma vez que no anterior não consegui discursar. Inscrevi-me atempadamente, fui o quinto ou o sexto, e às seis da tarde ainda não me tinham dado a palavra”, diz o dirigente socialista.

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O manifesto “Mais Democracia” critica várias regras internas do partido como a que foi implementada em 2011 — ainda no tempo de José Sócrates –, e que obriga quem quiser apresentar uma moção de estratégia global a candidatar-se à liderança do partido. Aliás, foi isso que levou Fonseca Ferreira a candidatar-se a secretário-geral nesse ano.

Esta tendência socialista, que prevê juntar 20 a 30 militantes no encontro desta terça-feira, aponta sete bloqueios e “constrangimentos” no regime, que importa ultrapassar: a perda de representatividade do sistema político e partidário; a redução dos partidos à sua nomenclatura e dirigentes, assim como às “respetivas extensões clientelares”; o alastramento da promiscuidade entre política e negócios, assim como corrupção; a estrutura anacrónica e burocrática do Estado capturado pelas clientelas partidárias; a ausência de lideranças com visão e que afirmem o rumo estratégico do país; a elevada carga fiscal; e a “perversa arquitetura do euro”, os impasses da construção europeia e os “elevados encargos da dívida pública e externa que determinam a limitação da soberania e impedem o regresso ao desenvolvimento”.

A corrente de opinião refere no seu documento que estes sinais de declínio ilustram os resultados das últimas eleições. E usa palavras de António Costa para criticar o secretário-geral do partido: “Europeias (‘poucochinho’) e a derrota nas recentes legislativas (‘muito poucochinho’, após 4 anos da governação austeritária da Direita).” O manifesto diz ainda que António Costa conduziu o PS pela “pura lógica do exercício pragmático do poder”. E refere as “votações residuais nos processos eleitorais internos, não raras vezes de duvidosa democraticidade ou, mesmo, fraudulentos”.

O grupo defende eleições primárias no PS para todos os cargos, um código de ética para os militantes, círculos uninominais (com voto preferencial) e compromissos a 2/3 — ou seja, com o PSD — para Educação, Justiça, Segurança Social.