As temperaturas em Paris estão altas — agradeça ao Euro 2016 — mas, esta sexta-feira, foi a vez da moda portuguesa aquecer a cidade luz. O criador Hugo Costa estreou-se dia 24 de junho na Paris Fashion Week Menswear ao lado de consagrados nomes como Louis Vuitton, Givenchy, Dior Homme e Comme des Garçons com um copo de saquê na mão, bebida tradicional do Japão que foi sendo distribuída como um aperitivo aos convidados do desfile. “Este é um dos momentos mais importantes da minha carreira”, confessou ao Observador com uma lágrima no canto do olho antes dos modelos pisarem a passerelle.
Willy Cartier fez as honras do espaço Maison des Métallos com um coordenado inspirado nos guerreiros samurai (a condizer com o símbolo japonês pendurado na sala) e um andar andrógino que deixa pouca margem para dúvidas: mais do que fazer streetwear, Hugo Costa é uma marca unissexo com ténis e mochilas que podem (e devem) ser usadas por homens e mulheres. “Defendo que não faz sentido pensarmos num género quando isso já não é diferenciador”, diz o designer de moda. “Prefiro pensar na silhueta final em vez de um modelo de corpo.”
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Está explicada a razão pela qual as apresentações do criador de São João da Madeira têm homens e mulheres com roupas overzized em tons sóbrios. Burberry, Gucci, Bottega Veneta e Tom Ford são algumas das marcas que já anunciaram que irão juntar os desfiles masculinos e femininos para diminuir os prazos apertados e a enorme quantidade de desfiles. Estas vão continuar a apresentar duas coleções diferentes mas para Hugo Costa isto “é um sinal de que os tempos estão diferentes e que as coisas têm de se uniformizar para se globalizarem em género”.
No desfile houve rostos asiáticos e europeus — como o português Fábio Tavares — que pareciam soldados na era feudal do Japão prontos para lutar pelo reconhecimento do indicativo +351 na Semana de Moda Masculina de Paris. Na falta de espadas, desfilaram calças volumosas e camisas com cintos usados nas artes marciais em tons de vermelho cereja, cor-de-rosa e cinzento. O desfile de primavera-verão 2017, com direção criativa da dupla DSECTION e apoio do Portugal Fashion, ainda incluiu bordados à mão, como o símbolo “samurai” em japonês nas costas de várias peças.
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A vitória da moda masculina
Com ou sem samurais, a verdade é que o setor menswear nunca deu tantos sinais de expansão como agora. A criadora Stella McCartney anunciou na semana passada que, em novembro, vai apresentar uma coleção masculina e o Portugal Fashion também olhou para a moda masculina como uma boa aposta ao ponto de se estrear na Paris Fashion Week Menswear com Hugo Costa. “Apercebemo-nos que estão a surgir valores portugueses com muita capacidade, qualidade e competência nesta área de moda de homem”, diz Rafael Rocha, diretor de comunicação do Portugal Fashion, ao Observador.
Atentos à emergência deste segmento em franca ascensão na fashion industry, entendemos dar este sinal de expansão que se justifica não só pelos excelentes resultados que os criadores e marcas que apoiamos têm granjeado no setor menswear, mas também pela propensão do mercado global para acolher os jovens designers“, acrescenta João Rafael Koehler, presidente da ANJE — Associação Nacional de Jovens Empresários, entidade promotora do Portugal Fashion.
Hugo Costa concorda com a crescente valorização do segmento da moda masculina. “O mercado de mulher é muito competitivo e os crescimentos são muitos subjetivos e variáveis comparados com os de homem, que são mais sólidos”, justifica o criador. “Para além disso, há um boom enorme de jovens designers a desenhar roupa de homem o que, por si só, já justifica a aposta das marcas no setor.”
A nova temporada do roteiro internacional do Portugal Fashion prepara-se para acrescentar a aclamada Semana de Moda de Nova Iorque ao calendário regular de apresentações internacionais em Londres, Milão e Paris — as quatro semanas de moda mais importantes do mundo.
O Observador viajou para Paris a convite do Portugal Fashion.