Uma União Europeia falida enquanto projeto económico, social e cultural. Foi esta a grande mensagem da sessão internacional organizada pelo Bloco de Esquerda, em Lisboa, que, como é habitual, antecede a convenção do partido. Num comício que contou com as intervenções de Marisa Matias, Eric Toussaint (Comité pela Anulação da Dívida do terceiro Mundo), Arthur Moreau (Nuit Debout) e Sylvia Gabelmann (Blockupy), foi Catarina Martins a marcar o ritmo: “Com a Alemanha toda-poderosa, já sem o polo de tensão imediata, com a França de Hollande neutralizada e o Reino Unido fora da União Europeia a tentação será a de aprofundar as medidas de concentração económica”.

O aviso estava feito. A coordenadora do Bloco acredita que a saída do Reino Unido foi, em grande parte, motivada pela política neoliberal imposta pelos principais decisores políticos europeus.

A escolha entre União Europeia ou nacionalismo é o campo de escombros que a política de direita nos deixou. A escolha é entre autoritarismo ou democracia. Nesta escolha, Barroso e Juncker estão ao lado de Le Pen [Frente Nacional] e Farage [UKIP]. A extrema-direita xenófoba é o produto da direita neoliberal”, disparou a bloquista.

Para Catarina Martins, de resto, “as políticas extremistas que têm dominado a União Europeia” estiveram também “em julgamento neste referendo [britânico]”. E foram chumbadas perante a hipocrisia dos líderes europeus. “A crise dos refugiados, os muros que se erguem, o vergonhoso acordo com a Turquia, a selva de Calais, estas políticas são União Europeia e moram aqui mesmo entre nós. Os dirigentes europeus que hoje parecem chocados com os britânicos querem iludir o mal que têm feito a toda a União Europeia.”

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O futuro do projeto europeu passa, necessariamente, por uma posição forte, de alternativa. “Numa União Europeia em desagregação nada pior do que a resignação ou o medo. Precisamos da confiança de quem quer mudar de futuro em Espanha, em Portugal, em França, na Escócia, em Inglaterra, por toda a Europa” apelou Catarina Martins, antes de deixar o aviso: “Os mercados enervam-se, agitam-se, mas recompõem-se sempre. Bem sabemos, e não nos enganam, que o maior risco se pode esconder numa escolha política que arruíne um pouco mais a democracia.”

Antes de Catarina Martins, tinha sido a vez de Marisa Matias deixar duras críticas à atuação das “tecnocratas” europeus. “A União Europeia só tem estes resultados porque não tem feito outra coisa se não governar nas costas dos cidadãos”.

O desafio que se coloca à esquerda, insistiu a eurodeputada, é não permitir que os movimentos nacionalistas e de extrema-direita cavalguem a onda de populismo que tomou conta da Europa. “É fundamental que a esquerda proceda a uma reconquista da soberania democrática”, não só nos parlamentos — nacionais e Europeu — “mas também nas ruas”, concluiu Marisa Matias.