“Ninguém sabe porque é que o resultado não foi o que vaticinavam todas as sondagens.” Na ressaca das segundas eleições legislativas no espaço de seis meses, o partido que esperava subir ao segundo lugar da política espanhola está num “período de análise e reflexão profunda”. O que vai acontecer ao Podemos agora? E a Pablo Iglesias?

No fim de abril, quando as sondagens mostravam um Podemos em queda livre e uma Izquierda Unida a melhorar substancialmente o péssimo resultado nas urnas em dezembro, os dois partidos decidiram concorrer juntos às eleições deste domingo. A estratégia parecia ser correta, mas os espanhóis contrariaram as sondagens. A coligação Unidos Podemos não conseguiu ultrapassar o PSOE no Congresso dos Deputados e teve um resultado muito aquém do esperado.

Concorrer em coligação acabou por não ser vantajoso para as formações lideradas por Pablo Iglesias e Alberto Garzón. A nível nacional, a Unidos Podemos teve apenas mais dois mil e quinhentos votos do que o Podemos, sozinho, tinha conseguido em dezembro passado. Também as várias candidaturas regionais apoiadas pelo partido roxo perderam expressão no espaço de seis meses (num total de 1,2 milhões de votos). Consequência? O número de deputados não cresceu significativamente: de 69 para 71.

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Esta segunda-feira, quando apareceu perante os jornalistas para justificar os resultados eleitorais, um responsável do Podemos não conseguiu disfarçar a desilusão e incredulidade. “Ninguém sabe porque é que o resultado não foi o que vaticinavam todas as sondagens”, disse Pablo Echenique, secretário do partido, que apareceu sozinho na conferência de imprensa. Em dezembro, quando o Podemos entrou com estrondo no Congresso e obteve 69 deputados, foi o líder Iglesias a dar a cara.

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Agora, o Podemos está a fazer “autocrítica” e a avaliar as “diferentes opiniões” manifestadas durante uma reunião da cúpula partidária. Na noite de domingo, depois de conhecidos os modestos resultados, Pablo Iglesias não mostrou vontade de se ir embora e avisou “os poderosos” que “isto ainda agora começou”.

Mas a vida não será tão fácil como o Podemos esperava. Ao aumentar o número de votos e deputados, o Partido Popular foi a única força política a crescer nestes seis meses, o que choca de frente com o que tem sido a mensagem de Iglesias desde que o Podemos começou a nascer nas ruas de Madrid, entre 2012 e 2014. Mesmo sem maioria absoluta, cabe a Mariano Rajoy a difícil tarefa de formar Governo. A tentativa parece já estar condenada à partida, mas Iglesias fica agora dependente de que Pedro Sánchez, líder do PSOE, lhe estenda a mão.

Nos últimos meses, as reuniões entre os socialistas e os responsáveis do Podemos foram infrutíferas. O desanuviamento sentido nos últimos dias da campanha, quando as duas formações trocaram piscadelas de olho mútuas, parece ter piorado entre domingo e segunda. Pablo Iglesias foi rápido a mandar uma mensagem a Sánchez na noite das eleições, mas Pablo Echenique, na segunda-feira, não se coibiu de fazer críticas aos socialistas. “Acreditamos que a campanha de ataques do PSOE ao Podemos pode ter engordado a direita. Todos os comícios de Pedro Sánchez e Susana Díaz [figura destacada do partido socialista] tinham o Podemos como protagonista”, acusou Echenique.

A irritação do Podemos tende, no entanto, a desaparecer. Se Rajoy falhar a formação de Governo, como parece altamente provável, caberá ao PSOE a iniciativa. E se quiser alterar o estado de coisas, apanhando a boleia socialista para o Executivo, o Podemos deverá ter de abdicar de certas exigências que fez no passado. A promessa de realização de um referendo à independência da Catalunha foi um dos entraves ao entendimento com o PSOE e os socialistas mantêm essa posição. Por outro lado, a oposição manifestada pelo Podemos ao acordo que Sánchez e o Ciudadanos obtiveram impediu a formação de Governo logo em abril. Pablo Iglesias diz que o partido se mantém fiel aos seus princípios, mas sabe que terá de fazer cedências. Realpolitik, no fundo.