No seu habitual espaço de comentário na SIC, Luís Marques Mendes classificou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) como “um pesadelo” que poderá ter consequências muito graves para a economia europeia. Para o comentador, o Brexit poderá mesmo levar a uma nova recessão na Europa. “Os líderes lá fora tentam desdramatizar, mas é dramático”, afirmou.

Apesar de considerar que a responsabilidade pelo Brexit é, acima de tudo, dos britânicos, Marques Mendes culpou também “o Senhor Cameron” que, numa tentativa de resolver um problema partidário, “criou outros” problemas — “problemas no Reino Unido, problemas na Europa, problemas no mundo”. “A ligeireza para resolver um problema partidário pôs em risco tudo”, frisou.

Para o comentador, o Brexit terá vários riscos imediatos para o Reino Unido, mas também para a Europa. No Reino Unido, poderá causar uma paralisia política e económica, um desmembramento, uma vez que a Escócia está a pedir um novo referendo para a independência, e um enfraquecimento. “Fora da UE tem menos peso. Continua a ser uma potência económica inacreditável, mas tem menos peso. Até agora, tinha a vantagem dos dois mundos.” Para além disso, Marques Mendes considerou que a saída da UE poderá levar o país a uma divisão interna.

“Tudo isto é muito mau para o Reino Unido. E é ainda mais sério para a Europa, que perde o equilíbrio. O Reino Unido ajudava a compensar a hegemonia alemã.”

A situação poderá também causar uma grande instabilidade na Europa. “Havia a ideia de que a UE era indestrutível. Saiu um, podem sair outros”, referiu, salientando que poderão surgir referendos noutros países e que os movimentos “nacionalistas e eurocéticos ganharam poder aqui”. Para Marques Mendes, o Brexit poderá ter ainda uma outra consequência para a UE — “o enfraquecimento da própria UE, que é a segunda maior” do mundo, face a outras economias, como a chinesa e a russa.

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“Na minha opinião, o problema mais sério é económico — está criado um grau de incerteza de tal forma que isto pode levar a uma nova recessão na Europa.”

No espaço de comentário da SIC, Luís Marques Mendes também não pôs de lado a hipótese de Portugal vir a ser afetado pela saída do Reino Unido. “Segundo os especialistas pode ser dos três mais afetados”, referiu, explicando que o motivo passa pelo facto de “sermos um país periférico”, que está a sair da crise. Por esse motivo, Marques Mendes aconselhou prudência ao governo. “Porque ninguém sabe verdadeiramente qual vai ser a dimensão do problema.”

Espanha: “Acho que há um risco de ingovernabilidade”

Sobre as eleições em Espanha, que voltaram a dar vitória ao PP de Mariano Rajoy sem maioria absoluta, Marques Mendes referiu que a situação é “muito difícil”. Apesar de considerar que a solução poderá passar por “um governo de coligação do PP com o Partido Socialista”, porque “os dois em conjunto têm maioria”, o comentador disse achar que os dois partidos “não se entendem”. “Com estes líderes, é muito difícil.”

Entre os possíveis cenários, Marques Medes destacou a criação de um governo minoritário com Rajoy (mas que poderá não ser viabilizado no parlamento pelo Partido Socialista), um governo com “os derrotados” ou um executivo composto pelo PSOE e pelo Podemos. Porém, “os deputados dos dois juntos não chegam”, frisou. “Ou seja, acho que há um risco de ingovernabilidade”, o que significa “não haver governo e novas eleições daqui a uns tempos”.

“Ou vamos ter um governo como estava, ou não vamos ter sequer governo nenhum. Não é bom para Espanha nem para Portugal, que é o seu principal parceiro comercial.”

Para Marques Mendes, porém, a solução poderá passar pela substituição dos atuais líderes do PP e do Partido Socialista. “Com novas caras, talvez fosse possível”, sugeriu.