Víctor Jara foi um cantor, compositor e ativista político chileno torturado e assassinado em 1973. Passados 43 anos, Pedro Pablo Barrientos Nuñez foi condenado esta segunda-feira por ter assassinado Jara.
O veredicto foi dado por um júri da Florida, naquela que está a ser considerada como “uma das maiores vitórias dos direitos humanos contra criminosos estrangeiros num tribunal americano”, segundo o jornal inglês The Guardian.
Barrientos, que era militar e continua em liberdade, poderá até ser extraditado para o Chile, onde enfrenta acusações que o ligam ao golpe apoiado pela CIA que afastou Salvador Allende e colocou Augusto Pinochet no governo do país durante 17 anos, regime que é responsabilizado pela morte de mais de 3.000 pessoas.
Segundo a acusação de Barrientos, este terá assassinado Jara em setembro de 1973, quando o cantor tinha 40 anos, depois de o artista socialista ter estado três dias detido e ter sido mutilado e espancado.
Jara estava preso, juntamente com milhares suspeitos de serem comunistas, no Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos, em Santiago do Chile, quando foi assassinado. Depois de morto, o corpo do músico foi deixado na rua, perto do recinto. O Estádio Nacional do Chile foi usado como centro de detenção de milhares de pessoas durante o processo revolucionário que levou Pinochet ao poder.
O homem condenado por ter assassinado Jara, atualmente com 67 anos, fugiu do Chile em 1989 e estabeleceu-se na Florida, tendo-se tornado um cidadão americano depois de ter casado com uma americana. Em 2012, Barrientos foi acusado de homicídio no Chile, juntamente com outros oito oficiais reformados. No entanto, o Departamento de Justiça dos EUA não respondeu ao pedido do governo chileno para proceder à sua extradição.
O Centro para a Justiça e Responsabilização é o grupo de direitos humanos que lançou uma ação civil em nome da família de Jara, Segundo Kathy Roberts, a diretora da organização, este processo foi intentado para conseguir justiça para a família Jara e também para as famílias de todos os que perderam a vida durante os massacres no Estádio Nacional do Chile.
O júri americano composto por cinco mulheres e um homem deliberou ainda que Barrientos devia pagar seis milhões de dólares à família de Jara como indemnização e ainda outros 22 milhões de dólares como castigo, depois de ter sido condenado de tortura e homicídio.
No entanto, a família de Jara é capaz de não receber nada, depois do advogado de defesa ter dito que Barrientos não tinha meios de pagar o valor estabelecido.
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A morte de Victor Jara
No dia 12 de setembro, Victor Jara foi preso no Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos, ou Estádio Nacional do Chile e ficou detido juntamente com outros 6.000 presos. O cantor foi torturado e morto à frente de milhares de testemunhas, no estádio. Embora maior parte dessas testemunhas tenham morrido, o jornalista chileno Miguel Cabenzas descreveu os acontecimentos da morte de Jara à America’s University Review.
Segundo o jornalista, cujo artigo é citado pelo The Guardian, os presos eram colocados nas bancadas do Estádio Nacional, com os militares a apontarem armas às pessoas a partir do campo. Periodicamente eram disparadas salvas contra a multidão e “os corpos rolavam pela bancada”. O jornalista referiu que os corpos eram deixados nas bancadas e que aqueles que não comiam há dias vomitavam sobre os cadáveres. Jara andava pelo estádio a tentar consolar os presos e a animar a moral.
Depois de uma tentativa para animar os presos, Jara foi trazido para o meio do campo onde foi colocada uma mesa. O cantor foi obrigado a pôr as mãos sobre a mesa e cortaram-lhe as pontas dos dedos com um machado. Víctor Jara ainda se dirigiu às bancadas onde se sentou em silêncio até que alegadamente, terá dito: “Bem, camaradas, vamos fazer o favor ao oficial” e começou a entoar o hino da Unidade Popular, o partido do presidente chileno deposto, Salvador Allende.
Vários presos juntaram-se a cantar, até serem interrompidas por uma rajada disparada por um militar que terá acertado com uma bala na cabeça de Jara levando à sua morte, no dia 15 de setembro, dois dias depois de ter sido detido. O autor dessa rajada foi Pedro Pablo Barrientos Nuñez.
O corpo de Jara apresentava 44 ferimentos causados por balas, as pontas dos dedos cortadas e várias escoriações, quando foi largado perto do Estádio Nacional do Chile. O cantor chileno tornou-se um símbolo internacional e em Portugal até existe uma banda de música chamada Brigada Víctor Jara que foi criada em 1975.