O Banco de Portugal recebeu quatro propostas de aquisição para o Novo Banco que vão ser analisadas “à luz dos critérios de admissibilidade e seleção estabelecidos no caderno de encargos”. Em comunicado, o supervisor esclarece que em função dessa análise, “será tomada uma decisão sobre qual das vias – Procedimento de Venda Estratégica ou Procedimento de Venda em Mercado – será seguida para concluir o processo de alienação da participação detida pelo Fundo de Resolução no Novo Banco”.

O Banco de Portugal não divulga os concorrentes por razões de confidencialidade, mas segundo o Expresso, dois dos principais bancos a operar no mercado português terão ficado de fora da corrida ao Novo Banco. O Santander e o BCP não apresentaram ofertas para a compra de uma parte ou da totalidade da instituição que resultou do Banco Espírito Santo, avança o jornal. Não foi possível confirmar se o BPI ou o seu maior acionista, o CaixaBank, entregaram proposta. Também não se sabe se as ofertas são para a totalidade do banco ou apenas para alguns ativos.

O prazo para a entrega de ofertas vinculativas terminou esta quinta-feira às cinco da tarde e o presidente do BCP, Nuno Amado, já tinha sinalizado esta semana que a data “não era ideal”, sobretudo depois do resultado do referendo no Reino Unido e os seus efeitos colaterais nos mercados que voltam a atingir a banca. Ainda segundo o Expresso, o BCP terá escrito uma carta a manifestar abertura para voltar a olhar para o processo em determinadas situações.

Contactados pelo Observador, Santander e BCP não comentam a informação. O concurso para a alienação do Novo Banco exige apertadas regras de confidencialidade aos concorrentes e no passado o Banco de Portugal limitou-se a divulgar o número de ofertas sem identificar quem as apresentou. No entanto, a informação acaba sempre por sair.

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Entre os grupos apontados como interessados estavam também o BPI, ou seu maior acionista, o CaixaBank, e fundos de investimento, entre os quais a americana Apollo. Na primeira tentativa de venda do Novo Banco, realizada há pouco mais de um ano, Santander, BPI e Apollo apresentaram ofertas, mas só o fundo de investimento que é dono da Tranquilidade chegou à fase final de negociação com os chineses da Fosun e da Anbang.

Primeiro a bolsa chinesa, agora o Brexit

O concurso acabou por ser cancelado quando o Banco de Portugal, ainda com o anterior governo, concluiu que as ofertas financeiras não eram satisfatórias. Um dos fatores apontados para explicar um arrefecimento do interesse dos investidores chineses no negócio foi a crise que atingiu os mercados chineses de forma mais aguda no verão do ano passado. Agora a tempestade vem do oeste.

Caso falhe o processo de venda a investidores estratégicos, o cenário B para a venda do Novo Banco passa pela dispersão em bolsa de uma parte do capital, mas esta solução terá ficado fragilizada, ainda mais, pela instabilidade e incerteza que resultam do Brexit. A entrada no mercado de capitais da instituição estava já contudo em dúvida antes do resultado do referendo britânico porque a informação apresentada sobre o banco e a sua estratégia futura não foram consideradas suficientes pelo regulador da bolsa nacional.

A venda do Novo Banco tem sido contestada à esquerda e o cenário de manutenção da instituição na esfera do Estado tem sido defendido por algumas personalidades que receiam o fenómeno da espanholização da banca. O governo de António Costa tem dado prioridade à solução de venda que foi negociada com a Comissão Europeia, num plano que prevê que a operação se realize até agosto de 2017. O comunicado emitido esta quinta-feira pelo regulador não admite o cenário da não venda, ao contrário da posição assumida no ano passado quando o Banco de Portugal admitia de forma expressa esse cenário.

Formalmente o vendedor do Novo Banco é o Fundo de Resolução que é o acionista, mas na prática o processo é conduzido pelo Banco de Portugal que depois de reconhecer algumas limitações na primeira tentativa feita no ano passado, reforçou a equipa vendedora com a contratação do Deustsche Bank como assessor financeiro e de Sérgio Monteiro, o antigo secretário de Estado das Obras Públicas que protagonizou os principais processos de privatização realizados pela coligação PSD-CDS.