Era conhecido como “o filho do taxista” e nunca deu aos vizinhos especiais razões para memorizarem o seu nome — até esta sexta-feira, 22 de julho de 2016. O nome era Ali David Sonboly, um jovem de 18 anos de nacionalidade dupla — alemã e iraniana — e a polícia diz que era um “obcecado” por massacres a tiro. “David S.”, como foi inicialmente chamado pela imprensa alemã, já tinha sido submetido a tratamento psiquiátrico e acredita-se que poderá ter sofrido bullying na escola. Decidiu vingar-se disparando sobre outros jovens num restaurante da McDonald’s para o qual terá convidado mais gente usando um perfil falso no Facebook que oferecia comida gratuita.
Talvez a estratégia estivesse escrita num dos vários livros sobre massacres que foram encontrados no quarto em que dormia. Horas antes de sair de casa para cometer o crime, David quis assegurar que não faltariam jovens no restaurante para onde se dirigiu com uma Glock 9mm e cerca de 300 balas na mochila.
#Munich shooting: Sonboly used the identity of a girl, 'Selina Akim', it has been claimed https://t.co/w0KOtT3WSe pic.twitter.com/FqbdSKLyeW
— The Telegraph (@Telegraph) July 23, 2016
Ali David Sonboly terá criado um perfil falso no Facebook, no nome de Selina Akim, e escreveu um post na rede social a convidar outros jovens a irem até ao McDonald’s do centro comercial Olympia. A pretensa jovem estaria disponível para comprar “alguma coisa” do menu da cadeia de comida rápida a quem aparecesse. Demasiada boa vontade para ser verdade? David acrescentou um pormenor, para dar maior credibilidade — “Selina” compraria comida aos outros jovens, “desde que não seja muito caro”.
A polícia não confirmou, de imediato, a tese do perfil falso no Facebook mas a Associated Press cita fontes policiais que confirmam que a tese é válida.
David agiu sozinho. Não há evidências de ligações a grupos terroristas
O perfil traçado pela polícia aponta para um jovem de 18 anos que agiu sozinho, não existindo quaisquer sinais de ligações a grupos terroristas. Ainda não foi possível obter declarações dos pais, já que estes estão em choque e “não em condições” de prestar grandes esclarecimentos, disse a polícia.
O corpo de Ali David Sonboly, que nasceu em Munique mas só vivia na zona há cerca de dois anos, foi encontrado a um quilómetro de distância do local do crime. O corpo tinha uma bala alojada na cabeça e o facto de ser esquerdino ajudou a perícia a confirmar que ele se terá suicidado. Na noite de sexta-feira admitiu-se a possibilidade de o atirador ter sido baleado pela polícia e ter fugido, para depois morrer minutos mais tarde.
REVEALED: Munich gunman named as Ali Sonboly – a 'loner' who was 'bullied at school' https://t.co/eK2BUHnSUv pic.twitter.com/HSOshKSnVe
— Daily Star (@dailystar) July 23, 2016
Cinco anos após o massacre de Anders Breivik. Coincidência? Não
Não foi coincidência a data escolhida por Ali David Sonboly para o tiroteio. Cinco anos antes, Anders Breivik matou 77 pessoas num dos massacres mais marcantes da história recente. A polícia alemã confirmou que “há uma ligação” entre os dois casos.
O tablóide alemão Bild noticiou este sábado que Sonboly tinha uma foto de Anders Breivik no seu perfil do WhatsApp, uma aplicação de conversação instantânea por telemóvel.
O atirador que matou 9 pessoas na sexta-feira já tinha sido submetido a problemas de natureza psiquiátrica. Os detalhes sobre esse tratamento ainda não são totalmente conhecidos. “Temos de examinar tudo, não sabemos ainda o que motivou o crime”, afirmou a polícia.
Pelos vizinhos, Ali David Sonboly foi descrito como um miúdo “pacato” e um “bom ser humano”.
“Estou chocado, o que aconteceu ao rapaz? Só Deus sabe o que aconteceu”, afirmou à Reuters Telfije Dalpi, um vizinho da família oriundo da Macedónia. “Não faço ideia o que aconteceu — mas ele era um bom ser humano. Não faço ideia se fez outras coisas más noutras ocasiões”.
“Parecia ser um tipo preguiçoso”
Outros vizinhos, citados pelo The Guardian, descrevem Ali David Sonboly como “um tipo preguiçoso”. “Teve um emprego a distribuir um jornal gratuito, o Münchener Wochenblatt, mas muitas vezes o vi a colocar os jornais no lixo, em vez de o distribuir”, afirmou um vizinho que conhece a família.
Apesar de ser uma pessoa recatada e de não ser visto muitas vezes, foi facilmente reconhecido nos vídeos que surgiram na televisão e Internet logo após o incidente. “Eu via-o de vez em quando a passar. Era uma pessoa muito tímida e alta, quase 1,90m de altura”, notou o vizinho, que tem uma padaria na zona. “Não era muito virado para o desporto, era um pouco gordinho”.
Apesar de ser alto, o jovem não tinha um aspeto intimidante. “Tinha uma personalidade um pouco estranha, parecia sempre um pouco nervoso“, disse ao The Guardian o vizinho, Stephan Baumanns.
Opinião distinta tem outro vizinho que falou com a televisão local Bayerischer Rundfunk. “O rapazinho foi sempre muito, muito simpático. Não tenho nada a dizer de negativo sobre ele”.