Portugal vai criar uma plataforma, integrando um projeto internacional, para informar os doentes sobre a investigação de medicamentos, incluindo os ensaios clínicos, e chamá-los a participar no desenvolvimento de novos tratamentos, disseram hoje responsáveis da iniciativa.
O objetivo da plataforma, a integrar na academia europeia de doentes para a inovação terapêutica (EUPARI na sigla em inglês), é “criar uma comunidade de pessoas informadas relativamente à sua potencial [intervenção] na investigação ligada ao desenvolvimento de medicamentos”, podendo ser doentes ou de associações de doentes, mas também profissionais de algumas áreas, explicou Beatriz Lima, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
A presidente da Associação de Doentes de Doenças Reumáticas, Elsa Mateus, também está no grupo de seis elementos com a tarefa de preparar a plataforma nacional, que deverá estar a funcionar até dezembro.
“Inicialmente, o projeto estava pensado para 12 plataformas nacionais. Neste momento, já estão previstas 19, até final de 2016, e Portugal é uma delas”, avançou à agência Lusa.
Pretendem angariar parceiros entre unidades de investigação, indústria, academias e associações de doentes e preparar ‘workshops’ e “eventualmente, uma conferência de lançamento, em dezembro”, acrescentou.
Para Elsa Mateus, a participação de Portugal, “do ponto de vista dos doentes, é muito importante porque no país, como de resto a nível europeu, existe um grande desconhecimento sobre todo o processo de investigação e desenvolvimento de medicamentos o que, muitas vezes, dá azo a alguns receios”.
Com uma comunidade de indivíduos informados, como explicou Beatriz Lima, é esperado que “este sentimento de receio que, muitas vezes, é gerado por acontecimentos pontuais, seja substituído por um conhecimento ou uma consciencialização informada sobre o papel e potenciais consequências, positivas ou negativas”.
“Muitas vezes, faltam algumas competências porque o doente é perito na sua própria doença e não propriamente em todo o processo ou na linguagem científica”, realçou Elsa Mateus.
Um doente que entra num processo de experimentação, “espera retirar algum benefício e tem de avançar tendo a noção de que tem benefícios e poderá vir a correr alguns riscos”, defendeu a professora da Faculdade de Farmácia.
Uma coisa, especificou ainda, é o cidadão como utilizador, a partir do momento em que o medicamento está aprovado, outra é o cidadão como interveniente ativo no processo de desenvolvimento, “porque quando as pessoas entram nos ensaios clínicos é exatamente disso que se trata”.
É ainda esperado que o conhecimento acerca dos tratamentos acabe por ter também efeitos na forma como os doentes utilizam os medicamentos.
Estão também na comissão instaladora da plataforma portuguesa Inês Alves, de uma associação de doentes, Nuno Gago, da Universidade de Aveiro, Helena Beaumont, do Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), Cristina Lopes e José Antunes, da Associação da Indústria Farmacêutica Portuguesa (APIFARMA).