É coisa recente esta de receber medalhas de metais preciosos quando se chega ao auge de uma competição nos Jogos Olímpicos. Antigamente, quando a Grécia se criou o evento desportivo mais prestigiado do mundo, não havia minas de onde extrair o ouro, a prata e o bronze em quantidades industriais. Em vez de medalhas, os vencedores recebiam coroas feitas com ramos de uma oliveira sagrada que existia junto ao templo de Zeus. Eram os kotinos. E bastava-lhes porque, como conta a lenda, “estes homens não competem pela posse, mas pela honra”.

Tudo mudou em 1896. Pierre de Coubertin fez renascer os Jogos Olímpicos, que tinham ficado enterrados na História quando os romanos conotaram o evento de “uma prática pagã”. Coubertin introduziu as medalhas na lista de prémios: o primeiro lugar recebia uma medalha de prata e um ramo de oliveira, enquanto os segundo e terceiro lugares recebiam uma medalha de bronze e um ramo de oliveira. Só em 1904, nos Jogos Olímpicos de St. Louis, é que as regras se alteraram para aquelas que hoje conhecemos: uma medalha de ouro para o primeiro lugar, uma de prata para o segundo lugar e outra de bronze para o terceiro lugar. As coroas, com ramos de oliveira, ainda se mantém, ainda que com várias nuances e misturas.

Entre 1904 e 1912, as medalhas eram totalmente feitas de ouro puro. Foi assim até aos Jogos Olímpicos de Estocolmo, quando o Comité Olímpico Internacional (COI) lançou novas indicações: as medalhas de primeiro lugar tinham de ser feitas com um máximo de seis gramas de ouro e 92,5% de prata. Depois, há que seguir todos os pormenores especificados pelo COI na Carta Olímpica, nomeadamente os graus de pureza do ouro utilizado e todos os tópicos do processo de produção.

Este é um ano excecional: nunca houve medalhas tão pesadas como as que vão ser entregues nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, os primeiros organizados na América do Sul. Cada uma das 812 medalhas de ouro produzidas pela Casa da Moeda do Brasil tem 494 gramas de prata e seis gramas de ouro extraído sem recurso ao mercúrio, para as tornar o mais amigas do ambiente. Tendo em conta o atual preço do ouro – que sofre flutuações constantes – cada uma destas medalhas pode custar cerca de 600 dólares, 108 dólares mais baratas que as entregues em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres.

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Mas nem só de ouro se fazem as vitórias: para esta edição dos Jogos Olímpicos – onde o golfe e o rugby de sete voltam à luz da ribalta – foram produzidas 5.130 medalhas, sendo 2.642 feitas especialmente para os Jogos Paralímpicos. Cada uma das medalhas dos atletas paralímpicos tem um pequeno objeto de metal que produz som quando é agitado: quanto mais valiosa for a medalha, melhor se ouve o som.

Tudo isto valeu um investimento de 23.500 dólares em matéria prima para as medalhas, que são em 30% feitas de materiais reciclados no casos das de prata e de bronze. A primeira envolve a reutilização de placas de raio X, peças de carros e espelhos, enquanto a produção de medalhas de bronze inclui materiais desperdiçados pela Casa da Moeda em projetos anteriores. Nem as fitas que seguram as medalhas são esquecidas: foram feitas de plástico reciclado de garrafas.

A receita para a criação das medalhas não é, portanto, fácil: entre o desenho das duas faces e a aprovação pelo COI passam-se dois anos. Ao fim desse tempo, cem pessoas – entre escultores e operadores de máquinas – são chamados para trabalhar em segredo na Casa da Moeda. Primeiro, um molde é esculpido à mão, apenas com o auxílio de máquinas de precisão usadas durante duas semanas. A seguir é feito um scan em computador que transforma esse molde num outro feito de metal. Este será mais tarde observado ao microscópio para fazer um controlo apertado de qualidade.

Quando aprovados, os moldes são enviados para a fábrica, onde uma máquina impressora cria os símbolos da cara e da coroa. As medalhas de primeiro lugar vão depois ao banho de ouro para ficarem prontas. Todas as medalhas são depois empacotadas em caixas de madeira de freijó certificada pela Forest Stwearship Council, que garante a correta e responsável extração do material florestal.

A seguir, é lutar – e muito! – para as receber.