Olha, lá está ele, o novo Futebol Clube do Porto.

Escrevo o nome por extenso porque a palavra-chave, aqui, é o futebol. Nota-se a vontade de o jogar bem e como deve ser, há gente com o chip que mete a prioridade nos passes para a frente, os que tira adversários da jogada, os que quebram linhas e deixam gente diante a baliza e com inimigos atrás. Notam-se cabeças levantadas, olhos que fitam quem está à frente e uma cabeça que pensa usar passes para o lado apenas como último recurso. Veem-se ideias boas de futebol, extremos a desmarcarem-se para o centro e a deixarem espaço para os laterais. Um avançado a partir do lado contrário ao da bola e a sprintar em diagonal, para as costas dos defesas. Coisas boas.

Só que essas coisas são mais pensadas do que feitas, o problema é esse. Herrera e André André querem (sempre) virar-se para a baliza a cada bola que recebem e são apanhados em flagrante delito pelos quatro polícias que o Rio Ave tem a meio campo, em losango. Há mais de Danilo nas bolas com que os dragões atacam, ele chega-se à frente, é o homem que serve de referência quando é preciso dar um passe atrás para se dar dois para a frente. Há muita pressa de Alex Telles em comer metros em corrida quando Otávio leva para dentro cada bola que recebe. Depois há o toque com que André Silva não domina nem controla a bola que demora três passes a chegar-lhe à área (5’).

E a equipa que Nuno Espírito Santo põe a pensar de maneira muito diferente à de Lopetegui e de Peseiro vai sofrendo um pouco porque, do outro lado, o Rio Ave também pensa bem. Há um Pedro Moreira a pedir bolas no espaço que Alex Telles deixa vago por demorar a correr para trás. Por ter dois avançados mais nómadas velocistas do que sedentários de área, que chateiam os laterais e deixam os centrais na dúvida se hão de ajudar, ou não. Exploram o espaço, forçam o erro, pressionam como gente grande, inventam passes rasteiros para os metros atrás dos laterais. As ideias que Nuno Capucho dá ao Rio Ave são simples, muito. Mas funcionam, como ter um jogador a aparecer de rompante, num canto, no espaço entre o primeiro e o segundo jogador que defendem à zona.

É o que dá André Silva e Felipe não darem um passo em frente e atacarem a bola que foi calhar à cabeça de Marcelo. O golo (36’) mexe com os dragões. Tornam-se mais agressivos nas disputas de bola, aceleram os passes, a equipa avança uns metros e tenta encurtar o campo que o Rio Ave tem para ter a bola. Resulta. Também porque a bola que entra na baliza de Casillas espicaça Otávio, o pequeno brasileiro que tem a ginga que o livra de adversários com uma receção orientada e lhe dá espaço para picar passes longos, muitos, pondo a bola a cair nas costas dos centrais. Como a que André Silva cabeceia às mãos de Cássio (25’). Ou para rematar com força, mas para o íman que o guarda-redes do Rio Ave parece ter nas mãos (32’).

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Mas o FC Porto força e insiste e acelera e tenta muito. Engata uma mudança a baixo para arrancar as jogadas com mais força e velocidade, tal e qual Alex Telles faz na esquerda para sprintar, parar e arrancar de novo, combinação que lhe dá espaço para cruzar. Jesús Corona percebe que a bola que desvia num adversário vai cair sobre ele e, com o corpo, encosta-se a Pedrinho, roda sobre o português, que nada faz para o chatear, e remata sem deixar a bola provar a relva. O empate (40’) não dá a almofada para uma vantagem porque, mesmo antes do intervalo, o passe longo que Roderick pensa ser dele é do peito do mexicano, que aproveita a passividade do central para a dominar e rematar logo. Vai ao poste direito.

Porto's Brazilian defender Felipe (2ndL) vies with Rio Ave's Brazilian goalkeeper Cassio during the Portuguese league football match Rio Ave FC vs SL Benfica at the Dos Arcos stadium in Vila do Conde on August 12, 2016. / AFP / FRANCISCO LEONG (Photo credit should read FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

Foto: FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images

Este novo FC Porto é mesmo novo e isso nota-se também quando os jogadores voltam do balneário. Passam um, dois minutos a aquecerem, exercícios de aquecimento rápidos e frenéticos, voltar a ativar os músculos e o corpo. E se resulta. Esta nova versão dos dragões começou a procurar o espaço como um cão de caça que é solto da jaula e arranca para o meio do mato a farejar uma toca de coelhos. Os passes eram mais certeiros e incisivos, os jogadores mexeram-se para deixarem, pelo menos, um solto. Foi Herrera, o mexicano que chamou um figo ao espaço que nenhum central do Rio Ave lhe fechou quando recebeu a bola à entrada da área.

O capitão olhou, rematou logo e preferiu o jeito à força para a barra lhe empurrar o remate para dentro da baliza. O golo foi bonito (52’) e obrigou o Rio Ave a arriscar. Os médios avançaram uns metros e os laterais olharam mais para frente do que para trás, como Eliseu, que à direita ficou impávido a observar a bola que Alex Telles lhe passou por cima. Uma equipa a caçar e atacar o espaço com bola, logo ao primeiro ou ao segundo passe, outro sintoma de um FC Porto novo que pretende fugir ao velho das últimas duas épocas. E um Otávio que perseguiu a bola, ganhou um metro à dobra de Marcelo, que o empurrou para ganhar posição. O brasileiro caiu, o árbitro apitou e Cássio parou o penálti de André Silva. Mas não o agarrou e a recarga ao português uma segunda tentativa para acertar e marcar (60’).

À hora de jogo os dragões pareciam ter isto resolvido, também pelo cartão vermelho que tirou Marcelo do jogo. A equipa ficou com mais espaço, ganhou calma, teve a oportunidade de mostrar se consegue controlar um jogo a ritmo de cruzeiro. Não deu para ver. Quatro minutos volvidos do 3-1 e Alex Telles toca com o braço na cara de Heldon, que se atira para a relva e o árbitro vê nisto um segundo amarelo para o brasileiro.

Ficaram mais metros vagos em campo, mas a velocidade nunca aumentou. Os dragões quiseram calma e o Rio Ave já tinha poucas pernas para acelerar por aí além rumo à baliza portista. Houve um cruzamento bem tenso de Heldon, em que a bola passou entre Casillas e três pés esticados de vila-condenses. Ninguém lhe tocou como João Novais, o filho de Abílio, ou de um peixe que jogou no FC Porto, Salgueiros e Leixões nos anos 90, e que ensinou o filho a nadar e a bater livres como ele. O remate forte do médio às mãos de Casillas foi o melhor que o Rio Ave fez até a primeira partida deste campeonato acabar.

No resultado, este FC Porto não é assim tão novo, porque os velhos de Lopetegui também entraram na liga a vencer (1-0 em 2014, 3-0 em 2015). Mas é novidade em tudo o resto, cujo todo é uma equipa que joga mais rápido, precisa de menos passes para chegar à baliza e olha mais para a frente do que para os lados. O novo é melhor que o velho. Pelo menos, parece.