A construção frásica mais ouvida por estes dias – na despedida da caixa de supermercado ao fecho dos telejornais – reza “boas férias, se está de férias, se não…”. Ninguém sabe muito bem como acabar a frase sem constrangimentos. “Se não está, boa sorte com os emails out-of-office”, é o que querem dizer. A mensagem automática cai na caixa do recetor em menos de segundos. Há um breve momento do ano em que isso é felicidade – “que rápido!”. Felicidade também ela com duração precária.
Ao fim de dois dias, a rapidez do som de um novo email é já uma praga rogada. O que se segue é boa parte das vezes um out-of-office sumário como a mais mecânica das mensagens: apenas a informação da data de regresso e o contacto de quem pode resolver a questão durante a ausência. Esta também é, no entanto, uma boa oportunidade para ser único e mostrar personalidade, conclui uma percentagem significativa dos veraneantes. Pode até ser-se espirituoso, que maravilha.
Um dos primeiros out-of-office que recebi este ano foi do Tiago Pais, jornalista do Observador, que andava “entre mergulhos”, explicava ele na missiva, sem pormenores em demasia que pudessem arrastar alguém para a depressão. Por muito feliz que estivesse por ele não pude sorrir. Ainda que nos recebesse com um muito sóbrio “obrigado pelo seu contacto”, o Tiago não conseguiu resistir à estocada final: “calorosas (espero eu) saudações”. Que bom para ti, Tiago.
Sempre que preparar uma mensagem out-of-office prepare-se para enervar alguém, ainda que o conteúdo seja cândido. Mais do que a evidência de que o assunto que a tratar se vai arrastar, estes emails automáticos são o sinal luminoso que nos avisa que estamos a trabalhar. E não há como receber esta notícia todos os dias, várias vezes ao dia, de cara alegre.
Como as velhinhas mensagens de voicemail que antecediam o bip para a gravação da mensagem, o humor em excesso só atrasava todo o processo e se é para ser engraçado é melhor fazer como diz Mark Twain: “play it down”, não são precisas euforias. “Peço desculpa, mas estou a apanhar sol, a beber cocktail e ainda tenho de pensar a que esplanada vou almoçar”; “enquanto está a trabalhar, estou na Tailândia. Não me apetecia nada, mas teve mesmo de ser”, escrevem os humoristas de primeira água.
Na ausência do escritor do email, o mundo do trabalho não para, embora possa abrandar. Talvez essa seja uma cruel evidência para alguns. O out-of-office é também um bom momento para clamar que “este que vos escreve” fará sentir a sua falta (e por isso, “aqui estão os contactos das cinco pessoas que serão necessárias entretanto para me substituir”). A mensagem do Tiago tinha (apesar da graça final) uma clarividência importante e até reconfortante: “siga com a vida”.
Emily Gould, jornalista do New York Times, fazendo uma listagem intensiva dos tipos de out-of-office, diz que para a próxima não vai gravar nenhuma mensagem automática porque “se não se chamar a atenção para a nossa ausência, provavelmente ninguém dá por ela”. Vão reenviar os emails mais tarde ou contactar outra pessoa.
Todas as vidas continuam e que ótima liberdade nem sequer se avisar que se está de férias. Estas mensagens automáticas, com mais ou menos personalidade, colaboram numa certa vigilância. Assume-se a premência de receber sempre uma resposta, e dá-se ao recetor a oportunidade de controlar a (mini)situação, de não se sentir desorientado com a espera pela resposta; ainda não se foi de férias e já se prepara uma disponibilidade 24 horas por dia, apesar de acionada por uma máquina – uma pequena perversão do conceito de férias.
O out-of-office parece contribuir, desta maneira, para uma falsa indisponibilidade, sobretudo quando se garante que a mensagem será retribuída com o regresso de férias, ou quando se abre a possibilidade de ir verificando o correio eletrónico em tempo de descanso. O advento da internet portátil, do acesso ao email em qualquer dispositivo com um ecrã, dá esperança de que talvez, mesmo de férias, se tenha curiosidade, se dê uma olhada no email. Em alguns lê-se “vou ter acesso condicionado à internet”, “não terei acesso ao email”. O recetor assume que está a mentir. Especialmente se o tiver no feed do Instagram.
As melhores mensagens out-of-office são honestas – “não vou querer ler os emails”. “Theodore Roosevelt podia passar um mês no Yellow Stone Park sem que ninguém soubesse dele”, diz Barack Obama no episódio de Comedians in Cars Getting Coffee que gravou com Jerry Seinfeld no final do ano passado. “In office?”, pergunta o comediante; “in office”, responde Obama. “Devia ter muitas mensagens quando voltasse”, conclui Seinfeld. Exatamente: se quer mesmo contribuir para a roda-viva de mensagens automáticas e se sente nervoso com a ideia de nem sequer avisar que está indisponível, lembre-se de escrever que não vai ler os emails quando voltar.