Manuela Braga foi uma das primeiras a entrar. Veio de Oeiras com as três netas “por causa do teatro”, programado para essa tarde. Só que, afinal, o teatro não era bem um teatro — era mais “uma animação” –, e Manuela acabou por ficar pelo espaço infantil, junto a uma sebe, a ver as netas numa correria desenfreada.

Às 18h em ponto já a fila já ia longa em frente ao Palácio de Belém onde, até domingo, se realiza a primeira Festa do Livro de Belém, uma iniciativa inédita da Presidência da República que pretende celebrar a literatura portuguesa e o livro. A entrada ia-se fazendo lentamente pelo Museu da Presidência, onde as normas de segurança obrigam a que todas as malas sejam revistadas. “Isto hoje está calmo”, comentou uma agente. “No fim de semana vai ser pior…”

Lá dentro, ao som de música clássica, os visitantes iam subindo a rampa que vai dar ao jardim onde, em todos os cantos, foram montados pequenos stands de madeira, bem diferentes dos pavilhões coloridos que todos os anos enchem o Parque Eduardo VII. O espaço, limitado, obrigou a que as cerca de 40 editoras portuguesas presentes tivessem de reduzir no número de livros expostos. Apesar de ainda estar “tudo muito no início” e de muitas atividades ainda não terem começado, Manuela admitiu ter gostado do que viu.

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“Acho que é uma iniciativa que aproxima mais a Presidência das pessoas”, afirmou, frisando que iniciativas como esta são fundamentais porque mostram que a Presidência da República não tem de ser algo distante e inacessível. “Isto é de todos nós.” Passados sete meses da eleição de Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Braga diz-se “surpreendida”. Na sua opinião, muitos não teriam feito “o que ele tem estado a fazer”. “Vê-se a maneira como fala com as pessoas — não há barreiras. Está a tentar dar uma imagem diferente. As pessoas sentem que não é só uma figura de estado, é uma pessoa.”

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Ao Observador, Manuela contou dois episódios em que se cruzou com Marcelo, ainda ele não era Presidente — uma junto a um cinema e outra no Hospital Egas Moniz. Das duas vezes, Marcelo deu-lhe dois beijinhos como se fossem velhos conhecidos. “É a maneira de ser dele.” E Manuela, que não votou nele, parece gostar.

Livros, beijinhos e Marcelo

A verdade, é que não eram os livros a grande estrela da festa — era Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente chegou por volta das 18h30, e fez questão de visitar todos os stands e de cumprimentar todos os funcionários das editoras, na companhia do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. Sempre com uma multidão atrás (de jornalistas, mas não só), sorriu, tirou selfies, ofereceu um livro a uma criança, deu beijinhos e até alguns autógrafos. Deu muito, mas também recebeu alguma coisa em troca.

Margarida Ildefonso e António Soares de Almeida vieram de propósito de Aveiro para dar uma prenda ao Presidente — o livro de poemas Templo da Alma, escrito por Margarida e publicado este ano pela Chiado Editora. Conseguiram fazê-lo quando Marcelo se preparava para visitar o espaço infantil, na ponta extrema do jardim, furando a multidão entre um stand de livros e uma banca de waffles. Marcelo agradeceu o presente, que levou consigo debaixo do braço durante o resto do passeio. E o casal não parou mais de sorrir.

Festa do Livro de Belém

(Gerardo Santos / Global Imagens)

Nascida na Trafaria, Margarida conheceu Marcelo Rebelo de Sousa há muitos anos, quando este foi seu professor na Universidade do Porto, onde costumava ir dar umas palestras de vez em quando. “Ele disse à minha mulher que se lembrava dela, mas disse-o por simpatia”, disse António entre risos. “É um homem do povo, gosto muito de falar com ele!” E não só: “É um querido”, acrescentou Margarida.

Longe da confusão, andavam as amigas Carla Crespo e Maria do Rosário Barardo. Carla, professora bibliotecária, estava no seu habitat mais do que natural. Maria do Rosário, escritora, foi ver o espaço antes da apresentação de domingo, onde falará sobre o seu livro, Santuários de Portugal, um projeto ambicioso editado em 2015 que reúne informação sobre todos os 161 santuários que existem em Portugal continental e nas ilhas.

Ao Observador, disse que estava muito curiosa por ver como é que tudo ia ser organizado em função do espaço e que foi por isso que decidiu passar pela Festa do Livro logo nesta quinta-feira. E gostou do que viu. Admitindo tratar-se de um evento muito “diferente” do da Feira do Livro de Lisboa, onde o livro é sempre a figura central, classificou a feira de Belém como uma “festa cultural” onde se veem livros, mas onde se podem também fazer muitas outras coisas. “Está muito interessante”, garantiu.

O sonho que o Presidente concretizou

Antes da Festa do Livro, o Palácio de Belém já tinha recebido quase tudo — concertos, ópera e até uma exposição de escultura, menos um evento dedicado ao livro e à leitura. E como “cada um puxa a brasa à sua sardinha”, Marcelo Rebelo de Sousa, “por formação ligado ao livro”, começou a sonhar em criar em Belém uma feira do livro, apoiando assim a leitura.

Falou então com o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), João Amaral, amigo “desde tenra idade e que está habituado às loucuras que vão acontecendo”, com as Bibliotecas de Lisboa e, mais tarde, com a Cinemateca. Graças aos esforços da equipa cultural da Presidência da República a ideia foi, a pouco e pouco, ganhando forma. O sonho do Presidente ia deixa de ser apenas um sonho — ia mesmo tornar-se realidade.

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Marcelo durante a apresentação do livro “Eleições Presidenciais, candidatos e vencedores”, que decorreu às 19h

O projeto inicial era muito modesto, explicou Marcelo Rebelo de Sousa no final da apresentação do livro Eleições Presidenciais, candidatos e vencedores. Portugal 1911-2016, lançado esta quinta-feira à tarde na Festa do Livro. Só que o evento que deveria durar “um dia e meio” foi transformado “em quatro dias de atividades”, que incluem um concerto de Cristina Branco e a exibição de um filme póstumo de Manoel de Oliveira.

“Eu fiquei preocupado”, admitiu Marcelo. “Como é que ia ser possível montar isto em tão poucos dias? Passava por aqui e não via nada!”, contou o Presidente. “Só que eles estavam mais otimistas do que eu. Perguntei ao senhor Primeiro-Ministro, que é sempre otimista, e ele disse-me que ia correr bem. ‘Mas tens tempo para ir?’ ‘Não, mas é como se fosse!’.”

Para o Presidente da República, a Festa do Livro de Belém tem um objetivo claro — “apoiar a leitura”. “É um imperativo nacional — o da leitura, o do livro –, e é por isso que aqui estamos”, disse. “Penso que é uma boa causa, e é uma causa de que gosto muito.”