O responsável regional pela infraestrutura de carregamento da Tesla Motors, Douglas Alfaro, e o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes, reuniram em Portugal na passada semana para discutir os planos da marca norte-americana de automóveis eléctricos para o nosso país. No encontro terão sido abordados diversos temas, incluindo a eventual representação oficial da Tesla em território nacional e a desejada captação de investimento estrangeiro neste domínio específico.
Mas o que de mais concreto resultou da reunião foi que, muito em breve, Portugal também disporá dos famosos supercarregadores Tesla, capazes de recarregar integralmente a bateria em cerca de 75 minutos, e de garantir uma autonomia de cerca de 200 km em menos de 30 minutos. Estes valores referem-se a acumuladores de grande capacidade, uma vez que os modelos da Tesla, como o Model S, recorrem a baterias de 90 kWh, muito superiores aos restantes veículos eléctricos, que oscilam entre 20 e 30 kWh.
Para a ZEEV, empresa que, desde 2012, já importou e vendeu cerca de uma centena de modelos da Tesla no mercado português, esta é uma conclusão que nem terá nada de muito novo. “A instalação dos supercarregadores da Tesla em Portugal está prevista há já algum tempo”, recorda o CEO da ZEEV, Carlos Jesus, em declarações ao Observador.
O objectivo do governante português terá sido pois o de determinar quando é que estas estações de carga extremamente rápidas estarão instaladas. Tudo apontando para que tal ocorra ainda antes do final deste ano ou, o mais tardar, no início de 2017, uma vez que o departamento imobiliário da Tesla tem já em estado avançado os contactos e as negociações com os proprietários dos terrenos e/ou espaços comerciais que as irão acolher.
Quanto ao número de supercarregadores a instalar, nesta fase inicial, deverão ser três, todos eles relativamente a meio caminho entre os principais centros urbanos do país, e não dentro dos mesmos. Isto porque o objectivo da marca norte-americana é, para já, que os seus clientes possam, facilmente, percorrer o litoral luso de lés-a-lés, mesmo quando o consumo energético for mais intenso. Tendo em conta, por um lado, que uma recarga de bateria nestes supercarregadores garantirá uma autonomia mínima de 170-200 km em menos de meia hora, e, por outro, a distância que medeia entre os tais centros urbanos, não será difícil antever em que regiões os ditos serão instalados, sendo praticamente certo que um deles será montado na zona de Coimbra/Pombal.
Esta iniciativa será importante também para aqueles que nos visitam, já que muitos foram os turistas que, este ano, decidiram visitar Portugal viajando nos seus Tesla, nomeadamente até ao Algarve. Algo que será substancialmente mais fácil quando esta rede de supercarregadores for ampliada, não só com os três postos a instalar em Portugal, mas também com aqueles que serão inaugurados em Espanha, especificamente em Salamanca e Badajoz.
Reforçar a rede
Para o Estado português, a chegada desta rede de carregadores (exclusivamente destinados a modelos da Tesla) servirá mais como bandeira para a mobilidade eléctrica, e como contributo para a tentativa de uma maior massificação do automóvel eléctrico.
Actualmente, a rede pública Mobi.E conta com 1.076 pontos de carregamento, boa parte deles não funcionais ou com funcionamento deficiente – tendo o Governo já prometido a recuperação desta infraestrutura a breve trecho, e a sua ampliação para mais de 1.600 postos até 2018.
Mas não é apenas por via desta iniciativa governativa que Portugal está no radar da Tesla, e há já algum tempo. Os veículos da marca são vendidos entre nós desde 2012 pela ZEEV, que, entre outros feitos, regista a maior taxa de penetração de modelos da Tesla entre os mercados considerados pela marca como no core (os que não são prioritários, seja por questões de volume, dimensão ou localização estratégica).
A ZEEV foi mesmo o único ponto de vendas sem qualquer ligação oficial à Tesla, a nível mundial, a ser visitado por um dos seus vice-presidentes. A propósito da vinda de Jonathan McNeill a Portugal, Carlos Jesus refere: “A Tesla pondera ter uma representação oficial em Portugal, mas também em muitos outros mercados, europeus e não só. Até há cerca de seis meses atrás, tal presença não estava prevista antes dos próximos três/quatro anos. Agora, até pode estar mais próxima.”
Segundo o CEO da ZEEV, a alteração da estratégia por parte da Tesla fica a dever-se ao facto de “as circunstâncias se alterarem a grande velocidade neste sector, mas também porque, com a chegada do Model 3, se perspectiva um extraordinário aumento das vendas da marca, inclusive nos países onde não tem presença directa”.
Em relação às comparações que são feitas entre os modelos da Tesla e os de alguns construtores há muito estabelecidos no mercado, Carlos Jesus sublinha que “há que ter em conta que esta ainda não é uma marca de dimensão mundial, e que o seu principal foco continua a estar centrado nos EUA”. O responsável da ZEEV não tem dúvidas de que “esse é, e continuará a ser ainda por muito tempo, o maior mercado da Tesla”, pelo que considera que “talvez o mais realista seja esperar que, a relativamente breve trecho, os clientes portugueses da Tesla possam dispor de uma estrutura de assistência técnica”. Tal seria benéfico, pois deixaria de obrigar ao envio dos veículos para fora do país, sempre que for necessária uma intervenção mais profunda.