O cenário é recorrente: ela vai à casa de banho, arranja-se, põe perfume. Ele vai à casa de banho, trata da barba, põe perfume. No ar fica uma nuvem de borrifos que nem sempre ligam bem. Solução? Render-se às fragrâncias unissexo e usar o mesmo frasco independentemente do género. Ou então seguir um dos grandes conselhos da terapia conjugal e pôr os perfumes a dialogar.

Nesta rentrée isso acaba de se tornar possível, ao ponto de haver fragrâncias que se podem sobrepor — um toque da masculina, um toque da feminina, e está criado um terceiro aroma, à medida de cada um.

O melhor exemplo desta nova forma de encarar a perfumaria é Loewe 001, a primeira fragrância criada sob a direção criativa de Jonathan Anderson, o jovem prodígio que tem estado a revolucionar — e a colocar no radar da chamada geração millennial — as coleções de moda da marca espanhola. O novo 001 existe para homem e para mulher, embora partilhe o mesmo nome. Porque a ideia é essa: partilhar.

“Os perfumes não são unissexo mas podem-se usar os dois, independentemente do género”, diz Juan Pedro Abeniacar, diretor geral da Loewe, numa passagem por Lisboa. “Eles foram pensados para dialogar e no fundo são parecidos com a forma como Jonathan Anderson desenha, no sentido em que a coleção feminina pode ter uma inspiração masculina, e vice-versa.”

Há por isso várias notas olfativas que se repetem em Loewe 001 Woman e Loewe 001 Man, da tangerina e da bergamota, na abertura, à madeira de sândalo, o coração das duas fragrâncias. Até as embalagens estão em sintonia, com representações de fotografias de Karl Blossfeldt, artista alemão que se tornou famoso pelos grandes planos de plantas e flores, captados a preto e branco. Só as notas finais variam: jasmim e baunilha, no caso do perfume feminino, cedro e almíscar, no masculino. Se puser mais Woman, tem um aroma mais floral e doce; se puser mais Man, um mais forte e amadeirado. O resultado final depende inteiramente de cada pessoa, que tem assim direito a uma fragrância personalizada. E como nas grandes histórias de amor, os dois perfumes funcionam ainda melhor juntos do que separados.

Os novos perfumes Loewe foram criados para dialogar, à vista e também na pele. Chegam dia 1 de outubro às perfumarias e custam 72,30€ cada (50 ml).

Frascos e aromas que encaixam

Não existe uma flor masculina e feminina que cheire de forma diferente. E elas não têm nomes masculinos e femininos — não existem flores para homem e flores para mulher.”

A afirmação é de Miuccia Prada, quando confrontada com o facto de as duas fragrâncias que acaba de lançar — Prada La Femme e Prada L’Homme — serem muito semelhantes à medida que o seu aroma se vai dissipando. A aproximação entre os dois perfumes é visível desde logo na embalagem: embora um seja branco e outro preto, os dois frascos foram feitos para encaixar e formar um cilindro perfeito.

O objetivo, tem declarado a marca, é “enfatizar um diálogo sensual entre ambos”. O facto de as duas fragrâncias terem sido apresentadas ao mesmo tempo e com uma campanha assinada pelo mesmo fotógrafo — Steven Meisel — reflete ainda “a natureza contrastante e ao mesmo tempo complementar” das questões de género para a marca, assim como a “fluidez da própria noção de identidade”. Nas palavras de Miuccia Prada, “a ideia é que os dois perfumes sejam mesmo trocados entre si”.

Prada L’Homme, embrulhado em pele negra, junta íris, âmbar e gerânio. Prada La Femme, embrulhado em pele branca, junta frangipani, baunilha e ylang-ylang. Os frascos encaixam, formando um cilindro. PVP La Femme: 89,81€ (50 ml); PVP Prada L’Homme: 66,33€ (50 ml)

A mesma lógica de frascos que encaixam foi usada nos novos perfumes Zadig & Voltaire, This Is Her! e This Is Him!, como se uma só pedra tivesse sido partida ao meio e pintada de preto de um lado e branco do outro. Despedaçar as regras das fragrâncias tradicionais foi, de resto, um dos objetivos da marca conhecida pela atitude rock e que aqui, à semelhança da Loewe, está assumidamente a piscar o olho às gerações mais novas.

Até as letras continuam de uma embalagem para outra: à esquerda está This is Him!, à direita This is Her! (a partir de 50€).

O que é curioso, e uma bela ironia, é que apesar do nome taxativo e exclamativo de cada perfume, é preciso procurar bem na embalagem para perceber se se está perante a fragrância feminina ou masculina. Quando se levanta a tampa, há algo mais a uni-las: ambas partilham a madeira de sândalo, a castanha e duas variedades de pimenta, “ela” com notas olfativas de jasmim e baunilha, “ele” com toranja.

Em última análise, se o cenário da casa de banho se repetir e se enganar no frasco, também não é grave.