Decorreu esta terça-feira, em São Francisco (EUA), o lançamento dos novos produtos da Google. O Observador esteve em Londres para os conhecer, num evento que reuniu jornalistas de toda a Europa. Pode parecer bizarro, mas explica-se de uma forma simples: assistimos (como toda a gente pelo mundo fora) à apresentação via streaming, mas tivemos oportunidade de conhecer em primeira mão algumas destas novidades – nenhuma está ainda disponível no mercado – com destaque para o novo smartphone.

Arriscamos em dizer que o novo telemóvel a que a Google deu o nome de Pixel nem sequer foi a estrela da tarde. O grande destaque foi, por um lado – como já explicámos neste artigo – a criação efetiva daquilo a que se costuma chamar de “ecossistema tecnológico”, ou seja, aparelhos e sistemas operativos com o selo de um só fabricante – #MadeByGoogle. Por outro, a reafirmação da marca como um dos maiores protagonistas na produção de software cada vez mais intuitivo e “inteligente”, agora a correr em novos dispositivos. São cinco, vamos conhecê-los.

Pixel e Pixel XL

Desde 2010 que a Google apresentava os “seus” telemóveis Nexus em parceria com outros fabricantes, uma estratégia que agora caiu por terra – embora seja público que são fabricados pela HTC. Os novos Pixel trazem agora o selo G (de Google), têm acabamentos premium, com corpo em alumínio polido e vidro, ecrãs 1080p de 5 polegadas no Pixel e 5.5 polegadas Quad HD no Pixel XL, revestidos por um vidro Gorilla Glass 4.

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Ambos têm sensor de impressão digital (que também serve de trackpad) um processador Snapdragon 821, 4GB de RAM, 32GB ou 128GB de armazenamento, características de topo que lidam sem engasgos com o novo Android Nougat (Versão 7).
No desenho do smartphone sobressai a ausência da saliência da câmara, apresentada como a melhor jamais feita para um telemóvel. Com 12,3 MP e uma abertura de f/2.0, foi avaliada pela DxOMark com uma pontuação de 89 em 100 (quatro pontos acima do iPhone 7).

A melhor integração entre software e hardware permitiu atingir outros objetivos interessantes: a aplicação (câmara) “abre mais depressa do que qualquer outra”; a função Smartburst, um sistema inteligente que escolhe a melhor foto de uma série (designa-se por “burst” a sequência de fotografias tiradas quando deixamos o dedo no botão de disparo); HDR + ativado por definição, com melhor contraste de cor; um estabilizador de vídeo mais eficiente, que recorre à análise da imagem 200 vezes por segundo para fazer a devida compensação do movimento.

Às características técnicas acrescentamos uma funcionalidade que vai conquistar muita gente: para mudar da câmara principal para a das selfies, basta abanar o telefone. A primeira impressão foi muito positiva.

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Os novos Pixel têm porta USB-C e estão equipados com um sistema de carregamento rápido que garante 7 horas de autonomia com apenas 15 minutos de carga. Depois, um “mimo” que foi um dos pretextos que a Google arranjou para gozar com a Apple: quem tiver um Pixel vai ter armazenamento ilimitado de fotos com resolução total.

Mais duas notas que fizeram rir: os Pixel têm uma ficha jack para auscultadores que não sao novidade e vão estar disponíveis em três cores: Quite Black (bastante preto), Really Blue (realmente azul) e Very Silver (muito prata).

Quem quiser mudar de iOS para Android vai ter a vida mais facilitada com o novo Switching, que permite passar e arrumar toda (?!) a informação com mais eficiência, bastando para isso ligar o iPhone ao Pixel com um cabo.

O sistema de atualização também passa a ser automático, sendo descarregado em fundo e atualizado da vez seguinte que o telemóvel for desligado.

https://www.youtube.com/watch?v=Rykmwn0SMWU

As pré-encomendas começaram esta terça-feira em quatro países (o Reino Unido é um deles) e vai custar, desbloqueado na Google Store, a partir de 649 dólares. Não foi anunciada data de lançamento.

Uma vez mais, o grande destaque vai para a integração da máquina com o software. O Pixel é o primeiro smartphone a ter o assistente da Google integrado de raiz.

Daydream View

Os Pixel são também os primeiros telemóveis preparados de raiz para encaixar (literalmente) no novo headset de realidade virtual. A Google deixou de lado o suporte de cartão (“cardboard”) e produziu uns os novos “óculos” feitos de tecido e outras fibras sintéticas, a bem do conforto de utilização.

O reconhecimento de um e outro é imediato, basta encaixar o telemóvel no suporte para que seja ativada a função Daydream, que coloca nos olhos do utilizador o mundo virtual, controlado por um comando muito pequeno. Através destes novos óculos é possível ver um filme normal do YouTube mas a experiência só vai ser completa com os filmes ou jogos dedicados e com os vídeos 360º – o jornalismo documental foi apresentado como um bom exemplo da aplicação destas tecnologias.

Experimentámos um jogo de demonstração e garantimos que, além de confortáveis, os óculos em conjunto com o Pixel apresentam uma boa resolução. A imagem ainda tem algum “grão” mas já mete respeito – é difícil não ficar incomodado com o focinho de um monstro alienígena a “respirar o nosso ar”.

https://www.youtube.com/watch?v=rLLAA4ENIP4

Vai estar disponível em três cores e será posto à venda em novembro, por 79 dólares.

Chromecast Ultra

A pequena pastilha já foi vendida mais de 30 milhões de vezes, um número que dá confiança à Google para este upgrade de funções: o novo dispositivo de streaming de vídeo passa a ter capacidade para levar até à televisão imagem em 4K, HDR e Dolby Vision.

Este modelo Ultra é 1,8 vezes mais rápido que o normal, suporta ligação por ficha ethernet (o cabo convencional de rede de internet) e vai estar à venda em novembro por 69 dólares. No mesmo mês, a loja Google Play vai passar a disponibilizar filmes em resolução 4K.

Google WiFi

O problema não só não é novo como é recorrente: a rede sem fios não é boa a ultrapassar ou contornar as divisões da casa. O sinal Wi-Fi perde qualidade com demasiada facilidade e para resolver isso a Google propõe um novo conjunto de routers modulares que se ligam automaticamente uns aos outros para expandir a rede doméstica.

São pequenas caixas que não vão estragar a decoração – o cuidado estético é transversal em todos estes novos produtos. A funcionalidade “network assist” permite que seja possível andar pela casa sem nunca perder a ligação, ao garantir a transição automática entre os dispositivos.

O Google WiFi permite ainda controlar o acesso dos equipamentos à Internet, através de uma aplicação no telemóvel. O exemplo clássico: quando quiser os miúdos na mesa para jantar, basta desligar-lhes a rede.

Em bom rigor, nada disto é novo, mas é talvez mais prático e bonito. Ainda não têm data de lançamento mas poderão ser encomendados a partir de novembro: um router custará 129 dólares e um pack de três, 299$.

Google Home

Seguimos o alinhamento (veja aqui o vídeo) e deixamos para o fim um dos principais destaques. Apresentado em maio na Google I/O, foram esta terça-feira conhecidos os detalhes do “hub” que pretende ser um assistente pessoal e doméstico para ajudar na organização do dia-a-dia, para controlar os dispositivos da casa (domótica) como o interruptores e termóstatos e para ouvir música.

Na verdade, a base é um conjunto de colunas (dizem que o som é bom, mas não ouvimos), à qual está acoplado um sistema evoluído de microfones e um algoritmo testado em milhares de condições diferentes de ruído ambiente, otimizados até serem capazes de distinguir a voz do resto do som. Além disso, o sistema de “machine learning” (aprendizagem) do assistente da Google permite personalizar o aparelho, com o tempo e com o uso.

Decompondo o conceito, trata-se de uma pequena caixa ou coluna ligada à Internet que está sempre à escuta. Basta falar para ela. A chave de voz “Ok Google” acorda o sistema e este passa a comportar-se da mesma maneira que o assistente no smartphone. É um dispositivo mãos livres para espalhar pela casa, literalmente. A Google explicou que, uma vez sincronizados, o único dispositivo que responde é o que melhor capta a voz – não fosse o caso de ter várias máquinas a falar ao mesmo tempo por toda a casa.

No que toca à música, o sistema permite a distribuição do mesmo som sincronizado pelas diferentes divisões. Curiosamente (ou não) os exemplos demonstrados terminaram sempre em resultados do YouTube (que é uma plataforma de imagem), mas a Google esclareceu que vai permitir a integração de outras plataformas de streaming, nomeadamente do Google Play e do Spotify, além de notícias e podcasts.

Vai ser possível controlar a televisão via Chromecast e, em breve, também o Netflix vai responder aos pedidos de voz do Google Home. Outro exemplo do potencial e “inteligência” do assistente: basta pedir “aquela música do artista X que faz parte do filme Y”, que o Google encontra.

Pode ainda perguntar como está o trânsito para o trabalho, como é que vai estar o tempo, o que é que tem apontado na agenda ou acrescentar uma nota ou evento, como é que se diz uma determinada frase noutra língua, como é que se confeciona determinado prato, etc. E porque tem a capacidade de aprender, responde cada vez melhor aos comandos de voz e acelera a resposta de acordo com os hábitos (na gestão dos horários, por exemplo).

A inteligência artificial começa a ganhar, mais que uma forma, uma utilidade para o dia-a-dia, aqui num formato “mãos livres” baseado no assistente da Google.

E não se assuste quem não quer um “ouvido” sempre à escuta espalhado pela casa: o Google Home não tem comando mas tem um botão para desligar.

Vai estar disponível em seis cores, com três bases em tecido e outras três em metal, a partir de dia 4 de novembro por 129 dólares – com a oferta de seis meses de YouTube Red, uma opção sem publicidade que não está disponível em Portugal.

O Observador viajou a Londres a convite da Google.