O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair está convencido que os trabalhistas vão voltar ao centro ideológico e não se coloca fora da equação da política britânica. Numa entrevista à revista Esquire, o ex-líder trabalhista que é considerado o fundador da terceira via fala diz que está “muito motivado” a fazer alguma coisa no atual momento político: “O que farei exatamente? Essa é uma questão em aberto”.

Na entrevista à revista britânica, Blair mantém algumas reservas sobre o assunto, mas deixa claro que está a estudar hipóteses e até fala no “desafio” que precisa de resposta do centro político. “Tem havido uma reação contra a política que represento. Mas considero que é muito cedo dizer que o centro foi derrotado. Na realidade eu não acho que vá ser derrotado. O centro vai ter sucesso novamente. Está retirado. Esse é o nosso desafio. Temos de estar à altura desse desafio”.

“Eu não sei se há um papel para mim. Há um limite para o que eu quero dizer sobre a minha própria posição neste momento “

Tony Blair foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 1997 e 2007, eleito pelo Partido Trabalhista, hoje liderado por Jeremy Corbyn (ala esquerda), a quem deixa críticas. “É uma tragédia para a política britânica se a escolha for entre um governo conservador defensor de um Brexit radical e uma Partido Trabalhista de extrema-esquerda que acredita num conjunto de políticas que nos levariam de volta aos anos 60“.

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E a questão, considera, “não é individual. Isto não é sobre Jeremy Corbyn, é sobre duas culturas diferentes numa organização. Uma cultura que é a do Partido Trabalhista como um partido de Governo. E essa foi, historicamente, a razão pela qual o partido foi criado: para ter representação no Parlamento e para ser Governo”. “A outra cultura é a da extrema-esquerda, que acredita que a ação na rua é tão importante como o que se faz no Parlamento. Essa cultura tomou conta da liderança do partido. É um problema enorme, porque eles vivem num mundo que está muito muito distante do da maioria das pessoas”, diz à Esquire, de acordo com o que foi citado pelo The Guardian.

“A razão pela qual as políticas deles [ala esquerda dos trabalhistas] nºao deveria ser apoiada não é porque são demasiado radicais. Mas porque não funcionam. São, na realidade, uma forma de conservadorismo. O que eles estão a oferecer é um misto entre fantasia e erro”.

A popularidade de Tony Blair no Reino Unido foi abalada pela posição que o então primeiro-ministro assumiu sobre o apoio do país à guerra no Iraque, em 2003. Ainda este ano foi conhecido o relatório Chiclot sobre a participação do Reino Unido na invasão do Iraque, levada a cabo pelos Estados Unidos com o apoio dos governos português, espanhol e britânico. Um documento com fortes críticas sobre a ação do Governo de Blair nessa altura, que acusou de não ter esgotado todas as opções antes de avançar para o conflito militar.