Uma obra que promete criar, no mínimo, muita controvérsia. No livro Um Presidente Não Devia Dizer Isso…, assinado por dois jornalistas de investigação, François Hollande é citado a dizer frases como: “França tem um problema com o Islão”; existe “demasiada” imigração indesejada; ou “a mulher de burka de hoje” vai tornar-se o símbolo da República francesa. Vida difícil para o Presidente francês, cujos índices de popularidade já tiveram dias muito mais felizes.

O livro nasce de uma série de entrevistas informais (mais de 60) entre os dois jornalistas franceses Gerard Davet and Fabrice Lhomme e o Presidente francês. Nelas, o socialista tece considerações polémicas sobre vários temas como o Islão, a imigração, a Justiça francesa, o rival de sempre, Nicolas Sarkozy, e vai ao ponto de considerar alguns jogadores da seleção francesa de futebol “crianças mal-educadas”, pouco patrióticos e divorciados dos valores republicanos.

Mas os comentários mais sensíveis vão mesmo para a questão do Islão. Hollande terá dito aos dois jornalistas que “é verdade que existe um problema com o Islão”. “Ninguém duvida”, terá acrescentado. “Não é que o Islão se torne num problema no sentido em que é uma religião perigosa, mas na medida em que se quer afirmar como a religião da República.”

Num outro comentário, Hollande, quando questionado sobre a obsessão do Estado francês com a identidade nacional e o véu muçulmano, o Presidente francês terá respondido que acredita que “a mulher de burka de hoje” venha a tornar-se o símbolo da República francesa.

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Como explica o jornal britânico The Telegraph, estas declarações de Hollande estão a ser tidas como ambíguas. O socialista já veio esclarecer a questão, garantindo que esta não era uma profecia sobre a islamização do país, mas sim um desejo confesso de lutar pela libertação da mulher muçulmana. “Se conseguirmos proporcionar as condições adequadas para que a mulher [muçulmana] possa florescer, então vai libertar-se da burka e tornar-se francesa”.

Noutra passagem do livro, Hollande não poupa adjeticos negativos para se pronunciar sobre o antecessor: para o socialista, Nicolas Sarkozy, que vai entrar novamente na corrida às presidenciais francesas, é um “pequeno De Gaulle”, “cheio de vulgaridade, maldade e cinismo”.

O Presidente fala ainda dos juízes franceses, deixando críticas à classe. Os juízes franceses, terá confessado, “não gostam de políticos” e constituem uma “instituição de covardia”.