Dez dias depois de Pedro Dias, 44 anos, ter atirado a matar sobre dois militares da GNR e um casal em Aguiar da Beira, provocando a morte a um militar e a um civil, várias questões têm sido levantadas. O Observador escolheu sete, às quais procurou obter uma resposta com a ajuda das autoridades e agregando informações já dadas como certas.
Pedro Dias estava sozinho quando foi abordado pela GNR?
Poucas horas depois de os dois militares da GNR terem sido baleados em Aguiar da Beira, o porta-voz do Comando da GNR da Guarda, major Pedro Gonçalves, dava conta à comunicação social de que seriam dois os suspeitos do crime. Um deles, afirmava o oficial, estaria já identificado. Tratava-se de Pedro João Dias — cuja carta de condução foi encontrada junto ao corpo do militar morto enfiado na bagageira do carro patrulha. O suspeito identificado, adiantava, “já se encontra referenciado por outras atividades criminosas”.
“Temos de encará-lo ou encará-los como perigoso ou perigosos”, afirmou o major Pedro Gonçalves.
Naquele dia foi ainda descoberto o casal sobre quem o, ou os, suspeito(s) disparou(aram). Ele estava morto, ela foi levada para o hospital, onde ainda se encontra. As autoridades relacionaram logo os crimes. Foi montada uma grande operação policial para encontrar os suspeitos. Durante a ação policial, um militar tropeçou e feriu-se com a própria arma de serviço. Mas depressa a imagem de Pedro Dias, o único suspeito identificado, foi divulgada, e depressa se esqueceu que podia haver um segundo suspeito. Questionada pelo Observador, fonte da Polícia Judiciária, a quem o caso foi entretanto entregue, afirmou que “neste momento” só procuram um homem. A história poderá ter mudado de figura depois de o militar ferido ter tido alta e ter prestado declarações.
Porque é que a GNR abordou Pedro Dias? E por que não ripostou?
As informações iniciais davam conta de que os suspeitos (na altura falava-se em mais do que um) estariam a fazer um furto nas obras de um hotel que está a ser construído perto das Termas da Cavaca, a cinco quilómetros da sede do concelho. Falou-se ainda de que os militares teriam abordado a viatura por suspeitas de furto de cobre. Mas o major Gonçalves acabaria por vir corrigir esta informação. “Terá sido uma situação inopinada”, afirmou, admitindo que os dois militares terão surpreendido os suspeitos num local isolado, o que aquela hora levantou suspeitas.
No entanto, de acordo com a mesma fonte, os militares da GNR “não usaram o armamento e nem sequer responderam ao fogo”. Foram baleados pelos suspeitos e não conseguiram pedir ajuda, adiantou, naquele dia, a GNR. Esta é a única resposta até ao momento para a dúvida que também paira no ar: como é que dois militares armados não dominaram um homem só, e por que razão, perante o disparo que vitimou um dos guardas, não houve resposta por parte do segundo GNR, que o suspeito terá acabado por algemar ao carro.
Porque é que Pedro Dias disparou?
Essa é a questão a que as autoridades, seja GNR, seja PJ, não conseguem responder. Pedro Dias tinha tido condenações com penas suspensas por violência doméstica e já tinha sido alvo de uma busca na quinta que ocupava em Arouca, por ter na sua posse animais que não podia ter. Mas já tinham passado alguns anos sobre esses casos. Apesar destes processos, tinha conseguido recentemente a custódia da filha mais velha. Também se desconhece o que estaria Pedro Dias a fazer naquele local com uma arma de defesa pessoal. As autoridades aguardam que ele seja apanhado para poderem, caso o suspeito assim o entenda, esclarecer as suas motivações.
Este caso deve ser tratado pela GNR ou pela PJ?
Sempre que há um crime, as primeiras forças de segurança a serem chamadas são a GNR ou a PSP, conforme o local onde o mesmo ocorreu. O caso de Aguiar da Beira aconteceu na área de atuação da GNR, pelo que foram os militares a ir ao local. Quando não são usadas armas de fogo, é a própria GNR (ou PSP) que investiga o caso e o prossegue. No entanto, sendo usadas armas de fogo e estando em causa crimes violentos — como o caso do homicídio — é imediatamente chamada a Polícia Judiciária ao local.
Neste momento, sempre que há um avistamento ou se suspeita da presença de Pedro Dias num local, os militares da GNR fazem um cerco na zona para garantir a segurança das populações que ali residam. Tentam evitar que Pedro Dias cometa mais crimes — como aconteceu domingo em Arouca, quando foi confrontado pela filha da dona da casa que ocupou. Obviamente que, caso o localizem, os militares da GNR devem detê-lo. Mas a missão inicial é manter a segurança na zona e evitar mais crimes. Também no terreno estão elementos da Polícia Judiciária a analisar toda a informação possível na tentativa de localizar o suspeito. Há familiares e amigos para inquirir, telefonemas e informações de avistamentos para cruzar e até já há elementos de prova para analisar — como as calças com sangue que o suspeito abandonou no carro que roubou em Arouca e abandonou em Vila Real.
Porque é que ele ainda não foi apanhado?
Pedro Dias poderá esconder-se durante meses e, segundo a PJ, até anos. Neste momento suspeita-se que esteja na zona de Vila Real o que significa, como diz fonte da PJ ao Observador, quase “brincar às escondidas no meio de uma enorme mata”. O terreno é de vegetação densa, com aldeias isoladas, estradas perdidas onde não se vê alguém, casas abandonadas e residências de emigrantes fechadas à chave e facilmente ocupadas para servir de abrigo.
Por mais homens que o procurem, Pedro Dias conseguirá esconder-se. E só será apanhado se cometer algum erro. Como por exemplo contactar alguém, ou dirigir-se a um estabelecimento público onde seja reconhecido. Por outro lado, ainda não se sabe se o sangue encontrado nas calças que abandonou pertence às suas alegadas vítimas ou a ele próprio. Caso pertença a Pedro Dias, significa que poderá estar ferido. A gravidade desses ferimentos podem ditar o desfecho do caso.
Pedro Dias andará sozinho ou terá ajuda?
A PJ tem estado em cima dos familiares e amigos de Pedro Dias. Já fez buscas na casa dos pais do suspeito e de alguns amigos. Segue os passos dos mais próximos. Mas continuam a existir dúvidas sobre o que faria Pedro Dias em Aguiar da Beira. Desconhecem-se as suas ligações aquela zona.
Neste momento, as autoridades acreditam que Pedro Dias está sozinho e que é provável que assim se consiga manter por muito mais tempo. Recorde-se casos como os de Manuel Baltazar, mais conhecido por Palito, que há dois anos foi detido — 34 dias depois de começar a ser procurado. Era suspeito do homicídio de uma sogra e de uma tia e de tentar matar a ex-mulher e a filha. Palito nunca abandonou a zona onde cometeu o crime e acabou por ser apanhado na própria casa, em Valongo dos Azeites, onde regressou mais de um mês depois. Durante a fuga foi ajudado por amigos que achavam que os crimes de violência doméstica que cometera tinham justificação.
Já os célebres “irmãos Cavaco”, que protagonizaram uma fuga da prisão de Pinheiro da Cruz em 1986, com quatro outros reclusos, só foram encontrados quatro meses depois (mais precisamente 119 dias). Também neste caso a polícia registou vários avistamentos de norte a sul do país. E só quando o caso arrefeceu foi possível detetar os suspeitos. Estavam a viver na casa de uma família, que ameaçaram de morte caso os denunciassem, em Cruz de Assumada, perto de Loulé. Faustino e Vítor Cavaco estiveram ali 45 dias, nunca saíam à rua. Até que dois polícias suspeitaram das “visitas” que aquela família tinha em casa há tanto tempo. E a fuga terminou.
E se ele passar a fronteira?
As autoridades espanholas já foram avisadas de que Pedro Dias está à solta, é suspeito de duplo homicídio e é um “homem muito perigoso”. As fronteiras estão a ser vigiadas pelas polícias portuguesas e espanholas e os aeródromos mais próximos estão sob vigilância apertada. A polícia teme que Pedro Dias, sendo piloto de aviões, se lembre de furtar um e fugir para parte incerta. Certo é que Pedro Dias não tem dinheiro nem documentos. Mas existe a convicção junto da polícia que não hesitará em cometer outro crime para escapar. Caso o suspeito seja detido em Espanha, as autoridades portuguesas deverão pedir a sua extradição para Portugal.