O coronel Vasco Lourenço acredita que a atual solução governativa, assente numa reaproximação das forças de esquerda separadas desde 1975, representa o afastamento do poder de setores da direita derrotados no 25 de Novembro.

“Essas forças vieram recuperando, mas foram felizmente afastadas, espero que por muito tempo”, afirmou o presidente da Associação 25 de Abril (A25A) à agência Lusa, em Coimbra, à margem de um debate sobre os acontecimentos político-militares verificados naquela data, há 41 anos.

Questionado sobre os acordos que, há um ano, estiveram na base do Governo do PS, liderado por António Costa, com apoio dos restantes partidos da esquerda representados na Assembleia da República – BE, PCP e Verdes –, Vasco Lourenço manifestou-se satisfeito com os resultados.

Na sua opinião, “as forças democráticas e de esquerda, aparentemente, estão a demonstrar que é possível uma solução que não passe pela austeridade, por uma exploração desenfreada dos menos favorecidos e um enriquecimento também desenfreado dos que têm mais dinheiro”.

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“Sempre defendi uma solução como a que está agora no terreno. E parece que está com bons resultados”, acrescentou.

Comandante da Região Militar de Lisboa à data dos acontecimentos do 25 de Novembro, Vasco Lourenço realçou que o Estado de Direito Democrático, consagrado desde 1976 na Constituição da República, “permitiu agora lutar contra os revanchistas” de direita e extrema-direita vencidos há 41 anos.

Essas forças “foram derrotadas pela democracia que se mantém na Constituição”, enfatizou, ainda a propósito do processo de várias semanas que, em novembro do ano passado, culminou na posse do Governo de António Costa, conferida pelo então Presidente da República Cavaco Silva.

O 25 de Novembro “permitiu que se garantisse a possibilidade” de a Constituição ser aprovada “de forma livre”, em 1976. Trata-se, na sua opinião, de “uma data fraturante”, um momento histórico que “não deve ser comemorado”, defendeu o militar de Abril durante o debate, cuja moderadora, Manuela Cruzeiro, lamentou a “forma como a comunicação social tratou” o desaparecimento, esta semana, da antifascista Eugénia Varela Gomes, mulher do coronel Varela Gomes.

Perante cerca de 100 pessoas, Vasco Lourenço disse que, além de ter evitado o avanço da extrema-esquerda e a instauração de um regime pró-soviético, inspirado no chamado “socialismo científico”, com apoio do PCP, o 25 de Novembro inviabilizou o “regresso da extrema-direita” e impediu a imposição de uma “democracia musculada” de direita.

Os coronéis Vasco Lourenço e Diamantino Gertrudes da Silva participaram, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, num debate subordinado ao tema “25 de Novembro – Reflexões”, promovido pela A25A, com apoio de um grupo de cidadãos.

Em 2009, então na qualidade de investigadora do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, Manuela Cruzeiro publicou o livro “Vasco Lourenço – do interior da Revolução”, em coautoria com o presidente da A25A.