A gota de água para a demissão de António Domingues da CGD foi a votação no Parlamento, em que o Bloco se juntou ao PSD para aprovar uma norma que obriga, sem qualquer margem de escape, os gestores da Caixa a apresentar as suas declarações de rendimento e património no Tribunal Constitucional, contou Marques Mendes no seu comentário na SIC. “Domingues considerou quer era uma lei ‘ad hominem’, contra uma pessoa, contra ele, e considerou-se ofendido”, revelou o comentador.
Mendes contou ainda, dando a estas revelações o carácter de factos, que a intenção de Domingues se demitir aconteceu logo na quinta-feira e foi concretizada na sexta, por carta entregue ao presidente do Conselho Fiscal da CGD. “Poucos repararam”, revelou o comentador, “que a primeira votação aconteceu na quinta-feira e depois o Governo e o PS pediram a sua repetição, o que não é habitual. Ainda houve a tentativa de ver se uma segunda votação alterava o voto da primeira. Mas no momento em que a lei foi reafirmada, na sexta-feira, Domingues apresentou a demissão”. O comentador considera que o Governo terá tentado demover o Bloco durante este período.
Já sobre o facto de as Finanças só hoje terem tornado pública a informação, o ex-líder do PSD revelou que “houve ainda várias tentativas de demover António Domingues”, todas sem êxito. “Entre sexta-feira e hoje houve várias diligências para ver se ele se recuava na sua intenção, por isso é que só agora se tornou definitivo e a novela chegou ao fim”, disse.
Mendes explicou ainda porque é que Domingues se demite agora por causa da lei que o obriga os gestores da CGD a apresentaram a declaração de rendimentos no Constitucional, quando já tinha decidido e anunciado que ia entregar essa declaração. “Apesar de ir apresentar as declarações ao Tribunal Constitucional, ainda lhe passava pela cabeça que elas iam ficar confidenciais, ou que o TC não o considerasse obrigatório. No momento em que a lei foi aprovada, considerou que isso estava bloqueado”. Daí Domingues ter avançado com a demissão, mesmo tendo os gestores da CGD já decidido apresentar as declarações e decidido antes da lei aprovada sexta-feira que se manteria no cargo, mesmo perdendo apenas duas ou três pessoas da sua equipa.
Marques Mendes lembrou que a polémica foi levantada há cinco semanas (por ele próprio) e que sempre a considerou mais importante do que a dos valores dos salários. “Da direita à esquerda, todos achavam que tinham de apresentar declarações e o braço de ferro que a administração da CGD fez tornou-se insustentável“, resumiu.
Passando do que chama factos para o comentário, Mendes fez ainda questão de referir que “se um dia houvesse uma comissão para analisar tudo isto, muita gente sairia mal na fotografia”.
Mendes não comentou os possíveis nomes que o Governo já disse que apresentará na próxima semana ao Conselho de Supervisão Europeu, mas referiu que no processo há culpas do Governo por “ter criado expectativas” a António Domingues, e por não ter debatido se a “solução jurídica encontrada era a melhor para a promessa feita” ao gestor. Promessa, que sublinha, “nunca devia ter sido feita”. O comentador também criticou o próprio Domingues, por ter “deixado arrastar o problema” demasiado tempo criando uma “situação insustentável” e “má para toda a gente: para ele, para os seus colegas, que há lá gente boa, para a imagem da CGD”.
Quanto a soluções, para acabar com um “annus horribilis”, Mendes pede “rapidez” e a escolha “de um nome e de uma equipa que tenha uma matriz profissional, desligada da vida política e partidária“. Seja como for, acrescentou, “o processo de recapitalização não vai ser afetado, está aprovado e vai por diante”.
Avaliação do Governo
Quanto aos restantes temas nacionais, Marques Mendes aproveitou um ano de Governo do PS com apoio da esquerda para fazer a sua avaliação.
António Costa: “O abono de família deste Governo, quando ele não está ou não pode as coisas às vezes falha. E tem vindo a fazer história, quer se goste ou não, por ter feita uma coligação de esquerda inédita, porque estava para durar um ano e provavelmente dura quatro, por ter uma excelente relação com o Presidente da República. O senão é a Economia”.
5 melhores ministros: Santos Silva, “o pensamento mais sólido e estruturado do Governo”, Maria Leitão Marques, “porque só o Simplex, de que é autora, lhe garante um estatuto especial de qualidade”, Matos Fernandes, “porque num governo que não tem um grande espírito reformista ele é uma exceção, e a Carris e a Uber são exemplos de coragem”, Adalberto Campos Fernandes, “um ministro tecnicamente sólido e politicamente competente, que com pouco dinheiro anda a fazer omeletes sem ovos” e Vieira da Silva “um ministro sólido e referência de credibilidade e segurança”.
7 ministros satisfazem: Mário Centeno, “que se não fossem as trapalhadas da CGD estaria entre os melhores ministros do Governo”, Francisca Van Dunem, “muito sólida, mas muito apagada”, Azeredo Lopes, que “não começou bem, mas tem vindo a firmar-se”, Constança Urbano de Sousa, “competente, mas que ainda não apresentou grandes resultados”, Manuel Heitor, “competente, mas muito discreto”, Eduardo Cabrita, “com muito peso político, mas a quem se exige mais” e Pedro Marques que “está aquém do que prometeu”.
5 ministros que não satisfazem: Capoulas Santos e Ana Paula Vitorino, “politicamente muito experientes, mas muito aquém das expectativas”, Tiago Brandão Rodrigues, “ótimo para os sindicatos, mas não para o que o país necessitava”, Caldeira Cabral, “a quem se exige mais ação, energia e liderança” e Castro Mendes com “uma imagem de uma certa irrelevância”.
Por fim, Mendes quis falar do secretário de Estado Pedro Nuno Santos, que considera “um jovem que está no Governo a adquirir credibilidade, prestígio e experiência” para “um dia ser líder do PS”: “Ele vai ser líder do PS, no dia em que António Costa saia, mesmo que Fernando Medina ganha a Câmara de Lisboa”.