Ao longo de sete anos o meu pai teve muita dificuldade em aceitar a presença de Óscar Cardozo no Benfica. Não é que quando marcasse isso não o deixasse feliz, histérico, mas lá tinha as suas razões. É um aficionado dos filmes do Steven Seagal, embora não se lembre dos títulos. Vai lá por cenas, por momentos. Tenho quase a certeza que nem sabe o nome do ator, refere-se a Seagal como “o rabo de cavalo”. Em casa sabe-se do que se está a falar. Não partilho muitos dos amores e desamores do meu pai, mas o gosto por “MacGyver” era comum, algo que partilhávamos juntos. A minha mãe também se juntava.

Para ambos ele era o tipo da “fita-cola e do canivete”. Para mim também era no início dos anos 90s. Era maravilhoso na minha ingenuidade ver o que Richard Dean Anderson, enquanto MacGyver, fazia com o pouco que tinha em mãos. A fita-cola e o canivete eram referências a objetos simples, não necessariamente exatos, para descrever o que se podia fazer com tão pouco numa situação apertada. Nasceu a expressão “to pull a MacGyver”; os portugueses têm uma palavra só para isso: desenrascar. Os portugueses são poetas do desenrascanço, mas não é uma arte, ninguém é artista do desenrascar, é algo que está impresso no ADN e que faz parte do dia-a-dia do português.

“MacGyver” deixou uma impressão em todo o mundo. O desenrascar pode ser um verbo português mas o que MacGyver fazia foi além disso. No fundo, há ali um culto do homem que vai para lá do engenhocas, do homem que encontra sempre solução para tudo e que do nada consegue fazer qualquer coisa, arranjar uma solução, criar um mundo melhor. A ficção de MacGyver está longe da verdade. Parte da comunidade masculina gostaria de se lembrar que poderia parar uma bomba enchendo um camião com cimento: é bom para encher o peito.

[trailer do novo “MacGyver”]

A Fox estreia esta terça feira (22h15) um MacGyver 2.0, com Lucas Till no principal papel, uma versão que se aproveita do saudosismo que uma geração sente por um nome que viveu no imaginário popular ao longo das décadas de 1980 e 1990: “MacGyver”. Ele, sempre engenhoso a sair das situações mais caricatas, e com uma bondade infinita para ensinar ao homem a ser mais homem. Eis alguns exemplos.

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Construir um asa delta com lixo

Quem nunca esteve numa situação em que ter um asa delta dava mesmo jeito? Por exemplo, meter-se num dos trilhos do Gerês e quando se dá por ela, os pés estão em cima da montanha e consegue ver-se ao longe o sítio onde se vai comer. Mas a coisa está distante, tem-se fome, está a anoitecer e é bem provável que se calhar não encontre o caminho de volta. E já se sabe que toda a gente que faz estes caminhos é amiga do ambiente e deixa lixo para trás. Ou, por exemplo, está-se na fronteira entre o Afeganistão e Paquistão e há malta que não o quer bem. E encontra-se um antigo satélite que tinha um pára-quedas incorporado e há fita-cola no bolso. Boom, tudo o que é preciso para fazer um asa delta.

Ups, sem travões

É uma chatice quando se percebe que os travões do carro não funcionam, tem que se parar o carro, abrir o capô e dar uma de mecânico. Se houver companhia ao lado é um embaraço não se fazer a mínima ideia do que se está a passar. Sentir um pouco da masculinidade a ir-se embora por não se perceber nada de carros e mecânica e ter de ligar para o seguro. Mas na vida de um agente secreto não há seguros e na altura não existiam telemóveis. E não dá para parar o carro quando se está a ser perseguido. O que se faz? Salta-se para o capô com o carro em andamento e resolve-se o problema com o líquido da direção hidráulica para concertar a pressão dos travões. Lembrem-se desta numa próxima.

Mezinhas

Por vezes acontece, acorda-se constipado e não há nada em casa para tratar da convalescença. Isto de ir à farmácia ou ao supermercado tem de ser coisa rápida, porque provavelmente está-se com uma febre dos diabos e não há paciência para aturar o que quer que seja. Mas há alguém que mete conversa, há um acidente na rua que se tem de ir espreitar ou então o estabelecimento onde se está começa a ser assaltado. Lembre-se: pimenta, vinagre, bicarbonato de sódio e uma daquelas botijas de água para usar na cama quando está frio. O bicarbonato e o vinagre são uma combinação explosiva (e algo tóxica, já agora) e já se sabe que a pimenta não faz nada bem aos olhos. Itens simples para criar uma arma que facilmente desarma qualquer assaltante.

Aquela escapadinha

Hoje em dia há câmaras em todo o lado. Não há como fugir delas. Ou há? Imagine que quer sair do trabalho mais cedo mas aquela câmara à saída está sempre a tramá-lo. Ou que quer passar a sua hora de almoço no Ibis sem a esposa descobrir? Fácil, nada que um cabide de ferro e um pequeno espelho não resolvam. Coisas que facilmente se podem encontrar e que até cabem na mala do trabalho sem levantar suspeitas. Lembre-se só de colocar um fio agarrado ao engenho para depois o puxar e assim não deixar qualquer rasto.

Quem nunca quis fazer um morteiro?

Há que ser prático: um morteiro no contexto do dia-a-dia serve para muito pouco. A não ser, claro, que existam intenções malignas e se queira abater aviões na Portela (isto já foi capa do jornal O Crime há uns valentes anos). Mas, bolas, não seria incrível saber como fazer um? Epá, só para mostrar aos amigos: olha o que eu consigo fazer. MacGyver explica passo a passo como fazer isso só com materiais existentes num carro. E como a segurança é a prioridade número um quando se usa um morteiro, não se esqueça de destruir um dos bancos para usar o estofo para absorver a explosão. Para ninguém se magoar.