A inclusão do espólio de José Saramago na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) tem um “valor incalculável” e vai enriquecer o património português, afirmou à agência Lusa Pilar del Río, presidente da Fundação batizada com o nome do escritor. “Talvez a importância se veja melhor observando de fora. Ou se nos perguntarmos o que significa ter museus e bibliotecas. Ter Camões e Pessoa. Ter o Castelo. Pode viver-se sem que o património português tenha sido enriquecido com o espólio de José Saramago? Sim, pode-se. É maior agora o património português? Sem dúvida”, sublinhou.
No sábado, os herdeiros de José Saramago e a fundação formalizam a doação do espólio de José Saramago à BNP. A documentação será transferida de forma faseada e incluirá originais, materiais preparatórios de algumas obras, agendas, correspondência e outros documentos.
Pilar del Río, jornalista, tradutora, companheira de José Saramago, garantiu que esta decisão – que executa uma vontade do Nobel da Literatura – não põe em causa a existência e atividade da fundação, que tem sede em Lisboa.
“A fundação continuará. Isso, sim, sabendo que os originais de José Saramago e outros documentos estão depositados e disponíveis para todos na Biblioteca Nacional de Portugal, ficando na companhia de tantos outros e da Arca de Fernando Pessoa”, disse.
José Saramago já tinha iniciado em 1994 um processo de doação de documentos à BNP, entre os quais se encontra o original do romance “O ano da morte de Ricardo Reis”, assim como o diploma do Nobel da Literatura, que lhe foi atribuído em 1998. Agora seguem para a BNP, entre outros, os originais das obras “Manual de Pintura e Caligrafia”, “Memorial do Convento”, “Claraboia” e “Evangelho segundo Jesus Cristo”.
Sem contrapartidas financeiras, a doação inclui uma “cláusula de colaboração permanente” com a fundação e, segundo disse à agência Lusa Sérgio Machado Letria, da direção do organismo, a transferência para a BNP dará um novo impulso à identificação e catalogação do espólio, que está ainda por concluir.
É na Fundação José Saramago, criada em 2007, que está depositado atualmente o espólio do escritor português e que inclui todas as obras, discursos, diplomas, correspondência e uma biblioteca com mais de 20 mil títulos. A fundação tem delegações na aldeia da Azinhaga (Golegã), onde Saramago nasceu, e em Lanzarote (Espanha), onde viveu.
Sérgio Machado Letria explicou que serão feitas cópias de alguns documentos originais para que se mantenha na Fundação a exposição que é dedicada a José Saramago. A Fundação, que em 2015 teve quase 26 mil visitantes, manterá parte da biblioteca pessoal de Saramago.
A formalização da doação do espólio, no sábado, em Lisboa, tem a presença anunciada do primeiro-ministro, António Costa, assim como do minstro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. A sessão acontecerá no dia em que se cumprem 18 anos da entrega do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago e em que se assinala o Dia Internacional dos Direitos Humanos.