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Oito escolas públicas nos primeiros 50 lugares do ranking do secundário

Este artigo tem mais de 5 anos

Sem surpresas, os privados dominam o top do ranking das escolas secundárias, mas há oito públicas que se destacam entre as 50 primeiras. Em metade das escolas, um terço dos alunos chumbou no 12.º ano.

O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, com uma média de 15,20 valores, aparece em 1.º lugar no ranking do secundário
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O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, com uma média de 15,20 valores, aparece em 1.º lugar no ranking do secundário

Maria Gralheiro

O Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, com uma média de 15,20 valores, aparece em 1.º lugar no ranking do secundário

Maria Gralheiro

Entre os 12,29 e os 12,74 valores. Foi assim que pontuaram, em média, os alunos das oito escolas secundárias públicas do país com melhores classificações nos exames nacionais de 11.º e 12.º anos, no ano letivo 2015/16, o que lhes valeu um lugar no top 50 do ranking das escolas elaborado pela Nova SBE para o Observador, com base nas informações do Júri Nacional de Exames. Duas ficam em Lisboa, duas no Porto, duas em Coimbra, uma em Leiria e outra em Viseu.

Mas, para chegar à primeira escola pública é preciso descer 35 posições no ranking. Aí encontrará a Escola Básica e Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, com uma média de 12,74 valores nos nove exames com mais alunos internos inscritos em 2015/16, considerados para a elaboração desta lista, e uma média interna (avaliação contínua em sala de aula) de 14,05 valores. É a mais bem classificada entre as públicas, mas ainda assim dista 2,46 valores do pódio, ocupado pelo Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto.

No extremo oposto, na penúltima posição do ranking (546.º lugar), encontra-se a Escola Básica e Secundária de Mogadouro, com uma média nos exames de 7,35 valores e uma percentagem de chumbos no 12.º ano de 49%.

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Sublinhe-se que não se fala aqui das melhores e das piores escolas, mas das escolas com as melhores e as piores notas nos exames nacionais do secundário. E Ana Balcão Reis, professora da Nova School of Business and Economics, faz questão de frisar isso mesmo.

Há uma coisa que temos de ser claros: nós não estamos a dizer se as escolas são melhores ou piores. Para isso tenho de ter em conta quais os alunos com que a escola está a trabalhar.”

Vários estudos têm provado aquilo que o senso comum já arrisca: alunos que vêm de meios socioeconómicos mais desfavorecidos têm, por regra, desempenhos inferiores aos alunos de famílias mais abastadas. E basta olhar para as listas acima para verificar que as percentagens de alunos com ação social escolar são muito superiores nas 10 escolas com piores notas (na Escola Secundária de Resende atinge mesmo os 83,8%) do que nas escolas com as melhores notas.

Outro dos fatores que mais influencia os resultados dos alunos, e que foi confirmado no estudo “Atlas da Educação”, realizado por investigadores da Universidade Nova de Lisboa, é o nível de habilitações das mães, mais uma vez verificável também nos exemplos acima referidos. Tirando duas exceções (Escola Secundária de Porto de Mós e Escola Secundária Frei Rosa Viterbo, em Sátão), nas 10 escolas com melhores notas nos exames, as mães têm, em média, 14 a 15 anos de escolaridade. Já no caso das escolas com piores classificações, as mães têm, em média, entre 5,4 e 9,74 anos de escolaridade.

Sem surpresas, privadas monopolizam topo

E se só há oito escolas públicas no Top 50, significa que as outras 42 são privadas. Em primeiro lugar, isolado, aparece o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, com 479 provas consideradas e uma média de 15,20 valores no conjunto de nove exames (tidos em consideração para a elaboração da lista) feitos pelos alunos que frequentaram as aulas todo o ano. Seguem-se outros colégios privados, sendo que os primeiros 10 lugares são ocupados por escolas localizadas, sobretudo, na área de Lisboa e Porto.

Olhando para cada exame isoladamente, a média mais alta a Português — 14,59 valores — foi registada pelo Colégio St. Peter’s School, em Palmela, em 2.º no ranking geral; a Matemática — 16,39 valores — foi o Colégio Terras de Santa Maria, em Santa Maria da Feira (em 9.º no ranking geral), que levou a melhor; a Física e Química a média mais alta — 16,14 valores — é a do Colégio Manuel Bernardes, Lisboa, em 10.º no ranking geral; e a Biologia e Geologia, a média de 14,43 pertence ao Colégio Oficinas de São José, em Lisboa, em 6.º no geral.

A verdade é que não surpreende que sejam as privadas a dominar o topo do ranking das escolas secundárias, elaborado com base nas notas dos exames nacionais: “As privadas, à partida, têm alunos de um determinado meio socioeconómico e que têm mais facilidade em ter bons resultados”, destacou ao Observador Ana Balcão Reis.

Já Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, defende que “não podemos manter-nos numa posição de que os ricos aprendem e os pobres não. Há muitos e ótimos colégios. Há muitas e ótimas escolas públicas”.

Por muito que se diga, um colégio em que consistente e constantemente os seus alunos tenham bons resultados, os alunos trabalham muito, mas o colégio tem de ter um projeto educativo que promove e desenvolve o bom trabalho.”

Entre 2003 e 2010 as escolas privadas pontuaram consistentemente acima das escolas públicas e a distância entre umas e outras foi aumentando “consistentemente ao longo do período”, conforme escreveram os professores da Universidade Nova de Lisboa Ana Balcão Reis, Carmo Seabra e Luís Catela Nunes, no estudo “Ranking das escolas: o impacto nas escolas públicas e privadas”, publicado no ano passado. Em 2003 a média das escolas públicas era de 100,8 valores (numa escala de 0 a 200) e a das privadas de 103,6 valores e em 2010 as médias passaram para 102,5 e 115,3 respetivamente.

E o cada vez mais firme posicionamento das privadas nos lugares de topo desta listagem prende-se com fatores como a “seleção de alunos”, mas também com uma questão que está relacionada com a autonomia. “No fundo, as escolas públicas têm pouca autonomia. Nem sempre é fácil para as escolas públicas melhorarem, porque não têm possibilidade de decidir, nem alterar” o que possa estar a prejudicar o seu posicionamento, mencionou a professora da Nova SBE, Ana Balcão Reis.

Mas se as escolas privadas abrem o ranking, também o encerram. De acordo com os critérios estabelecidos pelo Observador e a Nova SBE, o Colégio Torre Dona Chama, em Mirandela, um dos que recebe financiamento do Estado, aparece na última posição da lista (lugar 547), com uma média nos exames de 7,10 valores.

O mesmo estudo, publicado no ano passado, mostrou que quase metade (40%) dos colégios privados posicionados no quartil de classificação mais baixo, em 2003, já não estava em funcionamento sete anos depois.

Atenção aos chumbos. Em metade das escolas pelo menos 1 em cada 3 alunos fica retido

A investigadora da Nova SBE, Ana Balcão, sublinha, ao Observador, a importância de olhar para outros dados além do ranking puro e duro. “É interessante olhar para o ranking, mas um pai que queira saber mais sobre a qualidade de ensino da escola deve cruzar com outras informações de contexto. O resultado do ranking, só por si, não diz muito.”

Uma escola pode estar muito bem no ranking, mas se retém muitos alunos não é muito bom sinal”, sublinha Ana Balcão, que sugere que se olhe, desde logo, para a taxa de retenção (percentagem de chumbos na escola)

E a taxa de retenção é importante, até porque, tal como o próprio Ministério da Educação tem assumido, há escolas que se podem sentir tentadas a chumbar alunos que sabem que vão ter um mau desempenho nos exames e fazer assim baixar a média final da escola nos exames.

Por exemplo, na Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, que é a escola pública mais bem classificada (35.º lugar), 34,1% dos alunos chumbam ou desistem no 12.º ano. Já na Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, apenas 9,6% dos alunos não conseguem passar de ano. Esta surge em 38.ª posição no ranking.

E, olhando para a lista completa das escolas que compõem o ranking elaborado pelo Observador com a colaboração da Nova SBE — excluindo as escolas privadas e as públicas das ilhas da análise, que não disponibilizam esta informação –, 215 apresentam uma taxa de retenção no 12.º ano superior a 33%. Isto significa que, em metade das escolas secundárias para as quais existem dados, pelo menos um em cada três alunos fica retido no 12.º ano. E em 20 escolas (4,7% do total) a percentagem de alunos que não consegue passar ultrapassa mesmo os 50%.

Apenas duas escolas públicas secundárias apresentam zero chumbos: a Escola Básica e Secundária Joaquim Inácio da Cruz Sobral, em Sobral de Monte Agraço, e a Escola Secundária Jaime Cortesão, em Coimbra. A primeira ocupa a posição 181 no ranking das escolas e a segunda aparece em 396.º lugar.

As elevadas taxas de retenção são, de resto, um “problema crónico”, como o presidente do Instituto de Avaliação Educativa, Hélder Sousa, frisou, à margem da apresentação do último relatório do PISA. E os vários governos têm trabalhado no objetivo de reduzir as percentagens de chumbo nas escolas que, como vários estudos têm mostrado, não melhoram resultados dos alunos.

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