O ministro do Ambiente garantiu esta segunda-feira que não irá participar da reunião com a homóloga espanhola agendada para dia 12 caso se confirme a decisão de Espanha sobre a construção do armazém de resíduos nucleares em Almaraz.

“Para mim é muito claro que, a confirmar-se (…) que Espanha tomou mesmo a decisão de licenciar a construção (…) de aterro para resíduos nucleares, não faz qualquer sentido ir a essa reunião, porque não irei a essa reunião sufragar uma decisão que Espanha tomou, incumprindo uma diretiva comunitária”, afirmou o ministro do Ambiente.

Matos Fernandes, que falava no final da cerimónia de Assinatura do Contrato de Gestão da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), acrescentou ter a “convicção, neste momento, de que a decisão do lado de Espanha parece já estar tomada”, razão pela qual “não fará qualquer sentido discutir esta reunião”.

O governante relatou ainda ter tido “dois contactos” da ministra espanhola responsável pelo Ambiente “na sexta-feira” e que ficou “de, ao longo desta semana, dizer” se estará “presente ou não na reunião do dia 12”.

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Referiu também que “a reunião de dia 12 não tinha um só ponto” e que, ainda que o encontro tenha sido motivado pela questão de Almaraz, estava também previso iniciar a discussão sobre “a Convenção de Albufeira, que rege a forma como os rios internacionais são geridos entre Espanha e Portugal”.

O Governo espanhol deu luz verde à construção do armazém para resíduos nucleares na central de Almaraz, localizada a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa, através de uma resolução da Direção-Geral de Política Energética e Minas, do Ministério da Energia.

De acordo com o Boletim Oficial do Estado (BOE), divulgado na passada quarta-feira, que reporta a uma resolução de 14 de dezembro de 2016, da Direção-Geral de Política Energética e Minas, “autoriza a execução e montagem da modificação do desenho correspondente ao Armazém Temporário Individualizado da Central Nuclear Almaraz, Unidades I e II”.

Nos contactos diplomáticos em Lisboa e em Madrid, “foi manifestada a surpresa do Governo português ante a decisão tomada”, refere o Ministério e acrescenta que “foram solicitados esclarecimentos às autoridades espanholas, tendo em conta a carta dirigida pelo senhor ministro do Ambiente à sua homóloga espanhola no início de dezembro”.

João Matos Fernandes lembrou na passada semana que foi enviada uma carta à ministra espanhola que tutela o Ambiente para a apreciação da informação enviada a Portugal, que, “não sendo completa, deixa claro que não foram avaliados os impactos transfronteiriços”.

O ministro disponibilizava-se para que uma reunião se realizasse rapidamente, tendo ficado agendada para 12 de janeiro, e solicitava que “não houvesse uma decisão formal sobre a possibilidade de construção do aterro para resíduos nucleares”.

A construção de um armazém para resíduos nucleares pode indiciar que a central de Almaraz vai prolongar a sua atividade, apesar dos problemas que tem tido nos últimos tempos.