A Nintendo apresentou esta sexta-feira, no Japão, a nova consola Switch, O anúncio foi feito em outubro passado e foram agora conhecidos mais detalhes. O lançamento global acontecerá no início de março mas o preço para o mercado português ainda não foi revelado. Nos EUA, custará 299 dólares.
O evento, bem como a revelação do produto, merecem uma análise que tem de começar por uma viagem ao passado.
A Wii U foi um erro, quer pelo marketing pouco claro, quer pelo facto de possuir o mesmo nome da sua antecessora à exceção do U, quer pelo conceito interessante mas não inovador ou entusiasmante. Faltava algo: o GamePad não gritava “Nintendo!” e o “abandono” dos bem-sucedidos motion controllers não fez sentido. Felizmente a misteriosa Switch junta o melhor dos dois mundos – o das consolas portáteis e o das consolas domésticas – adicionando ainda um elemento que se julgava perdido há muito tempo.
O evento realizado esta madrugada no Japão serviu para demonstrar isso mesmo. Estamos aqui, estamos de volta, somos a Nintendo, #letsmakenintendogreatagain. E por muito que goste de ver a Nintendo de volta a um palco, a verdade é que esta apresentação deveria ter sido um Nintendo Direct, devido aos demasiados momentos embaraçosos e erros de comunicação (fruto do direto em palco), mas passemos à frente. Depois de um espetáculo de música e luzes para entreter, e de uma contagem decrescente que pareceu demorar uma eternidade, Kimishima sobe ao palco. Kimishima não é Iwata, não é aquele presidente risonho que falta a muitas companhias e multinacionais e, apesar do seu nervosismo, conseguiu passar algo importante: a alma existente na Nintendo.
Terá serviço online pago e não ficará preso a “regiões”, foi assim, sem rodeios, que o atual presidente da gigante japonesa começou a apresentação, não explicando a tal subscrição estilo Plus e Live, o que se tornou num dos vários erros de discurso apresentado pela Nintendo. Seguiu para a demonstração de todos os elementos constituintes da consola e, mais importante que tudo, a sua data de lançamento e preço. Será lançada a 3 de março por 299 dólares, porquê dólares e não euros? Kimishima não especificou o preço em euros e pediu para que os europeus “verificassem” o preço aconselhado da consola aos seus revendedores. Para além disso, a Switch estará disponível no dia de lançamento apenas em alguns países europeus. Onde é que já ouvimos esta conversa?
Não irá acontecer o mesmo que se passou com a Xbox One, não existe um concorrente “direto”, mas com consolas rivais a serem vendidas a um preço inferior com um leque de jogos muito mais vasto, poderemos ver o que aconteceu com a Wii U. O preço, não é o ideal, apontaria para os 250 dólares, e pode vir a ser um problema, para não falar que os dois bundles não possuem nenhum jogo.
Após a revelação daquilo que toda a gente queria saber, começaram os detalhes mais técnicos. Autonomia de 2h30 a 6 horas fora da Nintendo Dock, múltiplos modos para jogar fora e dentro de casa e ainda a capacidade da consola ser carregada utilizando baterias portáteis (good job Pokémon GO), mas talvez o mais interessante não se encontre na consola em si mas sim nos Joy Con, os pequenos comandos multifacetados da Switch. Imaginem mini Wiimotes, agora com NFC para amiibos e finalmente a habilidade de partilhar fotos e vídeos nas redes sociais. Chamo a isto Nintendo Theory, uma companhia de planos inovadores no que toca à conceptualização das suas consolas, que depois acaba por se esquecer de elementos básicos como HDMI (Wii), Chat e partilha de elementos multimédia (Wii U). Demora, mas eventualmente chega lá.
Apesar da demorada apresentação, os minúsculos Joy Con são de facto o regresso ao passado da Nintendo – e um bom regresso, por sinal. Porquê retirar algo que foi tão bem sucedido, porque eliminar os Wiimote? Aliemos assim o Gamepad da Wii U, alterado e reajustado, juntamente com uns novos e melhorados Wiimotes. A Switch é isto no fundo, a junção de dois conceitos antigos, revigorados para um grande futuro. Quantos de de nós nos riamos com as figuras feitas por amigos e família a jogar Wii Sports ou Just Dance, risos que se perderam no ciclo Wii U e que voltarão, espero, com a Switch. Mas existe um outro fator que gostaria de ver retornar aos videojogos e só a nova “pequena” da Nintendo poderá fazê-lo.
Eram bons tempos aqueles em que levava jogos e um comando na mochila da escola, para depois do último toque ir para casa do vizinho juntamente com amigos desfrutar de corridas e batalhas em Mario Kart 64 e 007: GoldenEye. O mundo online é algo fantástico, e sem ele não teríamos metade dos jogos que temos hoje, mas sinto falta deste elemento, deste contacto, desta competitividade aliada de “não faças batota e não olhes para a minha parte do ecrã”. É sem dúvida o elemento que mais me atrai na Switch, mas é também aquele que infelizmente acho que não irá singrar. A comodidade de casa e habituação ao multiplayer online é algo que me faz desacreditar do conceito Go Out and Share the Joy que a companhia preconiza.
Quanto ao catálogo, um misto de sensações. A Nintendo nunca quis uma consola “topo de gama”, e isso nunca foi impedimento para a criação de excelentes títulos First Party. Como pudemos ver a Switch irá manter essa mesma tradição, só que desta vez com um apoio maior dos estúdios Thrid Party. Para mim é sempre bom ver o criador Suda 51 a prometer o regresso de Travis de No More Heroes, mas ver um Skyrim a ser apresentado 6 anos depois do seu lançamento original, a merecer destaque num evento deste género, é inexplicável. O poder da consola continuará a afastar alguns estúdios, mas verdade seja dita, ninguém comprará uma Switch pelos jogos não produzidos pela própria Nintendo.
1, 2 Switch serve de Party Game, o primeiro jogo a servir o papel deixado por Wii Sports, e Arms (sim é mesmo o nome do jogo) funde o famoso mini jogo de boxe da Wii a um mundo futurista governado lutadores coloridos de longos braços extensíveis. Fora isso vimos Splatoon 2 que de momento não apresentou nada de inovador e ainda Mario Kart 8 Deluxe, uma versão onde o Deluxe poderá ser traduzido para: “Mario Kart 8 com o modo competitivo de guerra de balões que deveria ter estado presente no jogo original… mas está agora na Switch, YEAHHH!”. Vimos também Fire Emblem Warriors, Xenoblade Chronicles 2, mas nenhum destes representa a grande surpresa de toda a apresentação: Super Mario Odyssey.
Tal como Mario Kart 64 e GoldenEye, também eu passei incontáveis horas a jogar Super Mario 64, e foi exatamente a inovação deste jogo histórico que eu vi em Odyssey nos primeiros momentos de revelação. Os dois Super Mario Galaxy foram excecionais, mas a verdade é que há muito que sentia falta de um título Mario deste género, de um título idêntico àquele que me apresentou a famosa mascote da Nintendo num mundo tridimensional. Um casamento forçado obriga Mario a ir em resgate da princesa Peach, desta vez percorrendo mundos diferentes em cor, universo, forma e inimigos. Abismado com o trailer que foi apresentado, com o quão belo se encontra este novo título que, infelizmente, tão pouco sabemos, embora o criador Koizumi tenha revelado que o jogo conta com data de lançamento prevista para o Natal deste mesmo ano. Fora isso a melhor forma de saberem do que falo é ver o vídeo abaixo.
Obviamente tínhamos de terminar com um dos jogos mais aguardados: The Legend of Zelda: Breath of the Wild, e que levantava a dúvida: será título de lançamento? Já temos a certeza que o vai ser, aliás, tinha de ser título de lançamento, pois sejamos sinceros, apesar de um bom conceito, a Switch não possui ainda um bom catálogo de lançamento para criar apelo para a consola nos primeiros meses de vida. Mesmo com o peso-pesado de Zelda poderá não chegar para conquistar o mercado. O vídeo apresentado é a cereja no topo do bolo daquilo que foi mostrado até ao momento, levantando ainda mais perguntas quanto à história presente nesta nova aventura de Link. Já me tinha rendido ao jogo, agora poderei muito bem render-me à consola, mas não no lançamento, não com esta falta de jogos.
A Nintendo Switch terá muito a provar. No papel gosto do conceito, mas só com o tempo é que saberemos se de facto será uma receita triunfante. Para já suscita entusiasmo, mas continua a faltar algo muito importante: jogos. Zelda é o melhor cenário possível, mas a prolongada e por vezes enfadonha apresentação e a evidente falta de jogos é algo que nos afasta completamente da consola. Uma coisa é certa, Switch (estalar de dedos).
Após a apresentação, começam a chegar mais informações relativamente ao preço dos acessórios e é o golpe final, o golpe que me faz dizer, “mas que raio Nintendo?”. Um Joy Con custará… 49.99$, (respira fundo), vamos ver o bundle dos Joy Con… 79.99$! “Nintendo, onde raio tens tu a cabeça?” é o que exclamamos. Podemos sempre comprar o Pro Controler, o poderá ser preferível, mas verificamos o preço e ele custa… 69.99$.
Será isto uma piada?
Nintendo Switch à primeira vista é um excelente conceito mas falha na comunicação, falha no preço previsto e no catálogo de lançamento. Veremos o que o futuro próximo nos reserva.
André Henriques, Rubber Chicken