O ambiente já estava pesado entre o deputado do PSD, Hugo Soares, e o presidente da Assembleia da República (AR), mas teve um novo pico de tensão esta quarta-feira, com o social-democrata a acusar Ferro Rodrigues de “vestir a camisola” do PS no caso concreto da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos. Ferro respondeu prontamente, acusando-o de “fazer um ataque de caráter”.
Tudo aconteceu à porta fechada, na reunião desta quarta-feira da conferência de líderes, que reúne os líderes parlamentares ou vices dos grupos parlamentares com o presidente da AR e o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, para tratar dos agendamentos para as próximas semanas. Mas o tema que dominou a reunião foi mesmo a discussão acesa entre os dois, com os restantes representantes dos partidos a assistir. Como disse o porta-voz da conferência de líderes, citado pela agência Lusa, este foi mesmo o tema que “ocupou mais tempo” da reunião desta quarta-feira.
Em causa está o facto de, como o Observador avançou na semana passada, o PSD fazer um entendimento diferente do parecer jurídico que foi pedido por Ferro à auditora jurídica da AR para avaliar se se podia ou não alargar o objeto da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, de forma a incluir o plano de recapitalização e reestruturação que foi negociado para o banco público. No entender de Ferro Rodrigues o parecer diz que não é possível esse alargamento (que tinha sido pedido por PSD e CDS), mas no entender do PSD e CDS o parecer dos serviços jurídicos do Parlamento evidencia que o plano para a Caixa está incluído no objeto da comissão parlamentar de inquérito e, como tal, os deputados têm direito a conhece-lo.
Perante este desentendimento de leituras, o deputado social-democrata escreveu, na newsletter diária do PSD,um artigo muito crítico da postura do presidente da Assembleia, acusando-o de pôr em causa “o regular funcionamento do Parlamento”. Segundo apurou o Observador, Ferro não gostou do conteúdo do artigo e considerou mesmo que tinha sido alvo de um “ataque de caráter” por parte do deputado do PSD.
Hugo Soares ter-lhe-á respondido no mesmo registo, insistindo que não se trata de “ataque de caráter” mas sim de um ataque político, na medida em que o presidente da Assembleia da República se colocou a si próprio no combate político, “tendo uma história política e vestindo a camisola do seu partido” nas decisões que toma enquanto presidente do Parlamento. A discussão foi acesa e levou Ferro Rodrigues a exigir que ficasse registada em ata, gesto que o deputado do PSD repetiu, pedindo que também as suas declarações ficassem registadas por escrito.
Esta quarta-feira, como tinha anunciado, o PSD deu entrada com um requerimento na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD) pedindo a audição no parlamento do ministro das Finanças, Mário Centeno, e do anterior presidente executivo do banco público, António Domingues. Ao pedido de audições junta-se o desejo dos sociais-democratas de terem acesso ao plano de capitalização e reestruturação da CGD aprovado em junho de 2016 pelas instituições europeias, então com Domingues à frente do banco.