Nove filmes portugueses ou com coprodução nacional integram, a partir de quinta-feira, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, superando a presença lusa na edição de 2016. Num momento de contestação interna por parte de alguns realizadores e produtores por causa de alterações propostas à lei do cinema e audiovisual, o cinema português destaca-se num dos mais importantes festivais de cinema da Europa, com cinco filmes na competição oficial pelo Urso de Ouro.
“Colo”, de Teresa Villaverde, fará a estreia mundial no dia 15, integrado na competição de longas-metragens, enquanto a secção oficial de curtas-metragens conta com quatro filmes portugueses, de João Salaviza, Salomé Lamas, Diogo Costa Amarante e Gabriel Abrantes.
Para todos estes cinco realizadores, Berlim não é uma casa estranha.
Teresa Villaverde já lá apresentou, em 1991, a primeira longa-metragem, “A Idade Maior”, mas só agora integra a competição com “Colo”, que retrata a ligação desamparada entre três elementos de uma família marcada pelo desemprego.
João Salaviza conquistou em 2012 o Urso de Ouro com a curta-metragem “Rafa” e repete agora presença na competição com “Altas Cidades de Ossadas”, filme co-escrito e protagonizado pelo rapper Karlon.
Um ano depois de ter estado na competição com “Freud und friends”, Gabriel Abrantes regressa à mesma secção com “Os humores artificiais”, ficção rodada em aldeias do parque indígena do Xingu, no Brasil.
Depois de ter estado em 2016 no programa Fórum com o documentário “Eldorado XXI”, Salomé Lamas volta a Berlim com a primeira curta de ficção, “Coup de Grâce”, sobre um pai e uma filha adolescente, papéis protagonizados por Miguel Borges e Clara Jost.
Também repetente é Diogo Costa Amarante, que em 2014 esteve na competição com “Rosas Brancas” e volta agora com “Cidade Pequena”, feita no contexto de um mestrado.
A estes cinco filmes juntam-se ainda dois obras brasileiras com coprodução portuguesa: “Joaquim”, que o realizador brasileiro Marcelo Gomes apresenta na competição oficial, uma recriação histórica de Joaquim Xavier, conhecido como Tirandentes, no século XVIII, e “Vazante”, primeira longa-metragem de Daniela Thomas, escolhida para a abertura do programa Panorama.
Na secção Fórum estará a realizadora Filipa César com “Spell Reel” e, no programa Generation KPlus, o filme de animação “Odd é um ovo”, de Kristin Ulseth, uma coprodução luso-norueguesa com assinatura de Luís da Matta Almeida.
No conjunto, todas estas obras superam a presença dos sete filmes selecionados em 2016 para o festival de Berlim, numa edição que era descrita como a “maior de sempre” do cinema português.
No final, o cinema nacional acabou por ser distinguido através de Leonor Teles, que recebeu o Urso de Ouro por “Balada de um batráquio”.
Este ano, a visibilidade do cinema português será aproveitada por um conjunto de 11 associações do setor para contestar internacionalmente uma alteração à lei do cinema e audiovisual protagonizada pela tutela e que ainda não entrou em vigor. O motivo é uma contestação ao modelo de escolha dos júris dos concursos de apoio financeiros e uma crítica às competências do Instituto do Cinema e Audiovisual e da Secção Especializada do Cinema e Audiovisual nessa matéria.
Entre as 11 entidades estão a Associação Portuguesa de Realizadores, a Associação de Produtores de Cinema Independente, a agência Portugal Film, os festivais DocLisboa, IndieLisboa, Curtas de Vila do Conde e o sindicato Cena.
O secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que deverá marcar presença também no festival, afirmou na terça-feira que o diálogo com o setor, sobre as alterações à lei do cinema, não está esgotado.
O Festival Internacional de Cinema de Berlim decorrerá de quinta-feira até ao dia 19.