Rodrigo Rato tem uma extensa lista de responsabilidades económicas financeiras no seu currículo: foi ministro da Economia e das Finanças do Governo em que era também braço-direito de José María Aznar, foi diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e liderou o Caja Madrid. Agora tem também uma extensa lista de crimes pelos quais está a ser investigado e que aumentou: branqueamento de capitais e agora também evasão e fraude fiscal — e há indícios no exercício de todos os cargos por onde passou. Segundo a polícia de combate à fraude da Agência Tributária espanhola, Rato lesou o Estado em 6,8 milhões de euros, entre 2004 e 2015.

O El País teve acesso às 634 páginas do relatório do Instituto Nacional de Investigação de Fraude com todas as atividades do ex-ministro que possam ser ilícitas, e que está desde o fim de janeiro na posse de um juiz de instrução de Madrid. De acordo com o jornal, a Agência Tributária identificou rendimentos “não declarados ao fisco nos anos de 2004 a 2015 acima dos 14 milhões de euros”, o valor que o ex-ministro declarou neste período.

Entre os anos de 2004 e 2015, Rato cometeu delitos fiscais que ultrapassarem sempre os 120 mil euros (exceto em 2005), sendo que já prescreveram os crimes anteriores a 2009, ou seja, o valor estimado da suposta fraude cometida pelo ex-diretor-geral do FMI ficará (entre 2009 e 20015) nos 5,4 milhões de euros. As acusações têm sido rejeitas pelo ex-ministro.

Como funcionava o esquema de Rodrigo Rato? O El País detalha-o em vários pontos, baseando-se nos documentos a que teve acesso. Aqui estão os que têm impacto mais significativo na investigação:

  • Negócios suspeitos: O ex-ministro criou uma empresa, com a família, que tinha duas subcontratadas que fizeram pagamentos sem justificação a sociedades detidas por Rato que construíram um hotel em Toledo. Ora, este projeto recebeu uma subvenção de menos de 1 milhão de euros de uma comissão do Governo liderada por Rodrigo Rato . A suspeita é que o ex-ministro tenha feito passar o dinheiro do subsídio através das duas subcontratadas. Além disso, a primeira empresa da família Rato fez contratos com grandes empresas que estavam em processo de privatização, como a Endesa, por exemplo.
  • Circulação através do estrangeiro: O ex-ministro tinha também sociedades sediadas no estrangeiro (o Panamá era um dos destinos)para onde transferiu, de acordo com as autoridades espanholas, proveitos na ordem dos 7 milhões de euros. Este valor não foi declarado ao fisco, acrescenta a Agência Tributária.
  • Comissões ilegais: No período em que esteve no Caja Madrid Bankia, foram feitos contratos publicitários — que num ano chegaram aos 47 milhões de euros — e parte das receitas era transferida para uma das sociedades que Rato tinha no estrangeiro.
  • Fuga ao fisco: Quando assessorou o Santander, o CaixaBank e a Telefónica, o economista declarou ao fisco o que recebeu, mas o mesmo fisco garante que foram recebidas outras quantias destas mesmas empresas “de forma indireta ou encoberta” que não foram tributadas. A mesma suspeita, de fuga, recai sobre Rato quando se fala no dinheiro que recebeu pelas conferências que deu depois de sair do FMI. Em 7 anos (2007 a 2014) recebeu 1,4 milhões de euros, através de uma empresa, a Arada, que não pagou impostos. A Autoridade Tributária suspeita que esta era a empresa mais usada por Rato para fugir ao fisco.

As conferências eram uma das principais fontes de receita do ex-ministro que chegou mesmo a admitir, segundo foi testemunhado junto dos investigadores pela sua secretária, que se dedicava àquela atividade “porque pagam muito bem”. Entre as empresas pelas quais era convidado estão algumas das cotadas em bolsa. As duas que mais pagaram para terem Rodrigo rato como orador nas suas conferência foram a Repsol e a Caja Madrid: cerca de 65 mil euros cada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR