Manuela Azevedo, Aurea, Camané e Rui Reininho são alguns dos músicos que reinterpretaram temas de David Bowie para um álbum-tributo que David Fonseca gravou, em homenagem a um artista que fugia da banalidade. O álbum “Bowie70”, a editar no dia 17, reúne canções do músico britânico que David Fonseca revisitou com arranjos novos e a tocar todos os instrumentos, deixando a interpretação vocal para mais de uma dezena de convidados.

Em entrevista à agência Lusa, David Fonseca contou que a criação do disco surgiu de um convite da editora Sony Music, feito há um ano e que recusou. “Disse logo que não. Como era possível pegar num repertório do Bowie tão denso e complicado? Mas depois fiz duas ou três versões de experiências, já a pensar em algumas pessoas para a cantarem, compreendi o projeto e aceitei”, disse.

David Fonseca passou parte do verão e do outono a trabalhar nos arranjos novos e a gravar com os músicos. Escolheu 25 músicas de David Bowie – “aquelas que sabia assim de cabeça, de imediato” -, das quais sobraram 13, uma para cada intérprete diferente.

Tiago Bettencourt canta “Absolute beginners”, Marta Ren pegou em “Fame”, Rui Reininho em “Where are we now” e Márcia em “This is not America”. David Fonseca convidou ainda Manuela Azevedo e Camané – com quem partilhou o projeto Humanos -, que interpretam “Modern Love” e “Space Oddity”, respetivamente. O alinhamento integra ainda Aurea, Rita Redshoes, Afonso Rodrigues (Sean Riley & The Slowriders), António Zambujo, Catarina Salinas (Best Youth) e Ana Moura.

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“Faço versões há tantos anos que acho que já perdi o filtro e não me importo nada se gostam ou não. Acho que não se deve comparar com o original, porque são coisas diferentes. Idealizei as músicas a pensar em vozes extraordinárias independentemente dos géneros. Acho que temos muitos complexos em misturar universos. Não quero saber”, disse.

Quando pegou no projeto, a primeira canção que experimentou foi “Blue Jean”, de 1984. “Foi a primeira música dele que vi na televisão quando era miúdo e na altura achei piada e ao mesmo tempo estranho. E a verdade é que David Bowie nunca deixou de ser estranho, nunca largou um objetivo, e do ponto de vista do criador isso é muito importante”, disse David Fonseca.

David Bowie morreu em janeiro de 2016 dias depois de ter feito 69 anos e de ter lançado o álbum “Blackstar”. É desse registo que David Fonseca escolhe o tema “Lazarus”, que interpreta no fecho de “Bowie70”. “Isto é um absoluto cliché, mas com a morte dele o mundo fica de facto mais pobre, sobretudo numa altura em que a banalidade tem um peso absurdo. E com a morte dele ganha a banalidade. É que não há mais ninguém a fazer o que ele fazia e é disso que sinto falta”, contou.

A capa de “Bowie 70” apresenta todos os intérpretes portugueses e recria a imagem do álbum “The rise and fall of Ziggy Stardust and the spiders from Mars”, editado por David Bowie em 1972. Quanto a uma possível transposição do álbum para um espectáculo ao vivo, David Fonseca responde: “Não faço ideia, já me questionaram sobre isso, já falámos sobre isso, mas não sei se vai acontecer”.