François Fillon, que tem estado no centro de um turbilhão depois de ter, alegadamente, arranjado à mulher e ao filho empregos fictícios no parlamento quando era primeiro-ministro, organizou este domingo um comício em Paris para se defender daquilo que diz ser uma campanha orquestrada para “denegrir” a sua imagem. Admitindo ter cometido erros durante o processo, o candidato conservador francês garantiu ter “feito o seu exame de consciência”. Horas mais tarde, em entrevista ao canal France 2, garantiu que, para já, não está disposto a desistir da candidatura, desfazendo as dúvidas que persistiam.

“Ninguém tem o poder de me forçar a desistir da candidatura. Isto não significa que eu não possa discutir, que eu não possa ouvir [o partido], que eu não esteja disposto a dialogar, começou por dizer o candidato do partido Os Republicanos. O comício deste domingo, continuou, ajudou a “reforçar” a sua convicção de que é a escolha pretendida pelos militantes e simpatizantes.

Desafiado a esclarecer se vai ou não desistir da candidatura, Fillon foi taxativo: “Claro que não”. “Não vai ser o partido a decidir [a minha continuidade]. Essa escolha não será feita nos bastidores. Não serão os líderes regionais ou os antigos candidatos nas primárias que vão tomar essa decisão por mim”, afirmou o candidato conservador.

Fillon reconhece ter cometido “erros”, mas denuncia em campanha de “difamação”

Horas antes, num comício organizado a partir da capital francesa, Fillon procurava a vaga de fundo de que precisa para se manter na corrida presidencial. Isto numa altura em que parece cada vez mais isolado no interior do próprio partido Os Republicanos. E os apoiantes não faltaram à chamada: de acordo com a informação prestada pelos membros da equipa do francês, citados pelo jornal Le Figaro, cerca de 200 mil pessoas marcaram presença na praça de Trocadero para ouvirem o discurso do candidato d’Os Republicanos.

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O conservador estava ali para provar que a sua campanha estava viva, apesar da polémica em que se viu envolvido, e que os seus apoiantes ainda acreditam que pode ser eleito Presidente. “Eles pensam que estou sozinho, eles querem que esteja sozinho. Estamos sozinhos?”, perguntou Fillon, dirigindo-se à multidão que o escutava e que respondeu com um sonoro não.

Na sua intervenção, Fillon denunciou aquilo que diz ser uma campanha de “difamação”, organizada para o atingir diretamente e diminuir as chances de vencer as eleições francesas — ele que foi durante muito tempo o grande favorito. Ainda assim, o candidato conservador acabaria por reconhecer que tinha cometido “dois erros”.

“É da minha responsabilidade o facto de este projeto que estou a liderar estar a encontrar tamanhos obstáculos”. O primeiro erro que cometeu, admitiu, foi ter convidado a mulher a trabalhar com ele. “Não o devia ter feito”, concedeu Fillon. Fê-lo porque era “conveniente”. O segundo erro, continuou o candidato conservador, foi “ter hesitado” em explicar o sucedido.

No entanto, Fillon voltou a dizer que está a ser alvo de uma “perseguição” e reiterou estar inocente das suspeitas de que é alvo. “Muitas vezes procurei forças dizendo a mim mesmo que o dia em que a justiça vai reconhecer que estou inocente vai chegar e que nesse dia os meus adversários vão sentir-se envergonhados. O problema é se esse dia chegar demasiado tarde”. Se isso acontecer, a “eleição terá sido distorcida”, afirmou o candidato presidencial.

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François Fillon liderou a corrida às presidências de França até meados de janeiro, altura em que o jornal satírico Canard Enchaîné publicou uma notícia segundo a qual teria pagado à mulher, Penelope, e a dois dos filhos de ambos perto de 900.000 euros enquanto assistentes e conselheiros parlamentares. O caso está a ser investigado pela justiça francesa. É permitido aos governantes empregar familiares, mas os investigadores estão à procura de provas do trabalho que a mulher de Fillon e o filho fizeram.

* Artigo atualizado às 19h25, com as declarações de Fillon na entrevista ao canal France 2