Existe uma onda bonita de nostalgia em torno do festival da Eurovisão em Portugal. Daquelas ondas que ninguém vê mas todos sabem. E conhecem. E trauteiam, neste caso “Amar pelos Dois”, de Salvador Sobral. Mas nem tudo é bom neste evento com mais de meio século (61 anos, para sermos mais precisos). Uma nomeação russa, um comentário ucraniano e já se está a falhar a nota pacifista. Veremos, agora, até que ponto a coisa vai desafinar.

Vamos então tentar explicar o imbróglio que se gerou do nada esta segunda-feira. No domingo, a TV estatal russa anunciou Yuliya Samoylova, cantora que ainda jovem foi parar a uma cadeira de rodas devido a uma doença degenerativa, como representante no Festival. “Nem a idade nem as limitações físicas podem ser obstáculos para as pessoas que querem alcançar algo”. Até aqui, tudo certo. Mas entraram em cena os meios de comunicação social da Ucrânia, que vai receber este ano a fase decisiva, em maio. E a investigação trouxe “frutos”.

De acordo com os órgãos locais, Samoylova atuou na Crimeia em 2015, já depois da anexação russa do território. Em reação a isso, uma porta-voz ucraniana sublinhou que serão os serviços de segurança a decidir se a cantora pode ou não entrar no país segundo as leis ucranianas e o interesse nacional de segurança. Que é como quem diz: cuidado. E tem uma base concreta: em novembro, a Ucrânia baniu 140 russos ligados à cultura por “atos ou declarações que contradiziam os interesses de facilitar a segurança do novo Estado”.

“Estão a usar a rapariga como uma bomba viva na guerra híbrida propagandista contra a Ucrânia”, comentou o diretor do canal ATR, da Crimeia. “Queremos evitar qualquer tipo de politização do Festival da Eurovisão. Não vemos aqui qualquer tipo de provocação”, retorquiu Dmitry Peskov, porta-voz de Vladimir Putin.

Será que ficará tudo por aqui? Quase de certeza que não. Até pelos antecedentes – a Ucrânia recebe a final do Festival da Eurovisão em 2017 porque ganhou no ano passado com uma música interpretada por Jamala, que falava da deportação de cerca de 200 mil tártaros da Crimeia para a Sibéria por ordens de Estaline.

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