O lendário guitarrista Chuck Berry, que tantos nomes da música consideram como uma das forças impulsionadoras do fenómeno do rock and roll, morreu este sábado, com 90 anos. Foram nove décadas de originalidade, invenção, experimentação e génio. Deixa-nos músicas como School Days, Sweet Little Sixteen ou Johnny B Goode. E um álbum com músicas novas que não chegou a ver editado.

Adolescente problemático, Berry cresceu num bairro de classe média, em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri. Até há os blues de St. Louis, e o seu nome é incontornável na génese desse movimento. Esteve preso, passou pelo reformatório por isso e, quando saiu, foi para as linhas de montagem da General Motors. Só nos anos 50 fez da música a sua principal ocupação e formou — com Ebby Harding na bateria e Johnnie Johnson na guitarra –, um trio que tocava pelos bares da cidade. Mas a música ainda não lhe dava para viver. Durante este tempo, foi cabeleireiro.

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É extraordinário que uma das pessoas que mais contribuiu para a difusão dos blues e para a diluição possível da segregação entre negros e brancos no mundo do showbizz tenha crescido debaixo do chamado período Jim Crown, uma época em que os americanos negros viviam dentro de um sistema de castas raciais e eram considerados cidadãos de segunda categoria. O próprio Berry foi vítima desta discriminação várias vezes, a mais infame das quais talvez tenha sido daquela vez em que foi preso, depois de dar um concerto em Mississippi e ter retribuido o beijo de uma espetadora branca. Estava o xerife à espera, e levou-lhe o caché que tinha feito com o seu talento.

Diz-se que Berry foi um dos arquitetos do rock and roll porque as letras dele iam tocando, aqui e ali, nos problemas e nas ansiedades dos jovens, negros e outros. Saiu do seu meio para entender alguma coisa que, nos anos 60, era claramente universal e atravessava raças, religiões e estratificações sociais. Quando um adolescente dos anos 60 ouve “Hail, hail Rock and Rock, deliver me from days of old” (qualquer coisa como “Oh rock and roll salva-me dos dias passados”) num carro sem capota a caminho de uma manifestação contra a guerra do Vietname, não interessa muito se essa frase de ordem foi escrita por um negro ou por um branco. Muito antes de o rock and roll ser associado à revolução hippie, já Berry tinha instilado na periferia branca da América as suas músicas aparentemente inofensivas.

Não é segredo que os Beatles o adoravam, tal como os Rolling Stones, que, nos primeiros dias, gravaram várias músicas do génio dos blues. Paul McCartney disse que Chuck Berry foi um dos “mais incríveis poetas que a América alguma vez produziu”.

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