O presidente dos Socialistas e Democratas europeus considera que as declarações do presidente do Eurogrupo são “vergonhosas”. Depois de Dijsselbloem afirmar que os países do sul da Europa gastam o dinheiro “em mulheres e copos”, Gianni Pittella questiona a capacidade do holandês para manter-se em funções.

São dois parágrafos de indignação do italiano que lidera a família de socialistas no Parlamento Europeu. Mas o ponto-chave da reação de Pittella às declarações de Dijsselbloem está logo na primeira linha: “Como pode alguém que expressa tais crenças estar à altura de ser presidente do Eurogrupo?”, questiona-se o eurodeputado, sugerindo de forma mais clara aquilo os ventos de Amesterdão vêm soprando nos últimos dias.

“Não se pode gastar em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”, diz presidente do Eurogrupo

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As tiradas de Dijsselbloem contra os países do sul não são novidade. Mas, desta vez, os socialistas europeus tomaram uma posição clara contra os termos a que o presidente do Eurogrupo usa para referir-se ao conjunto Portugal-Itália-Espanha-Grécia (sobretudo estes). “Não é a primeira vez que Jeroen Dijsselbloem expressou opiniões, posições económicas e políticas, que estão em contradição aberta com a linha da família progressiva europeia”, começa por lembrar Pittella.

E continua. “Agora, com estas palavras chocantes e vergonhosas ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, Dijsselbloem foi longe demais ao usar argumentos discriminatórios contra os países do sul da Europa”. Pittella considera que “não há qualquer desculpa ou razão para o uso de uma linguagem assim, especialmente de alguém que se supõe ser progressista”. Não haverá, sugere o italiano, alternativa para Dijsselbloem que não passe pela saída da direção do Eurogrupo.

O momento é complicado para o holandês, que na semana passada viu o seu partido, o PvdA, sofrer uma pesada derrota. Dos 38 deputados que tinha no parlamento holandês, ficaram apenas nove. “Como sabem, o meu mandato vai até janeiro [de 2018] e a formação de um novo governo de coligação na Holanda pode levar alguns meses. Ainda é muito cedo para dizer se vai haver um hiato entre a chegada do novo ministro e o final do meu mandato” considerou Dijsselbloem na semana passada à entrada para uma reunião dos países do euro.

Quem também já se questionou sobre as condições de Dijsselbloem para continuar na presidência do Eurogrupo foi Luís de Guindos. Derrotado no confronto com o holandês, em 2015, Guindos joga à defesa. “Em princípio, não sou candidato a nada”, começou por dizer, não querendo envolver-se na polémica. Ainda assim, não deixou de afirmar que a polémica provocada pelas palavras de Dijsselbloem são “uma questão de legitimidade e de senso comum” e, sobretudo, que “algumas [regras] são mais claras e menos evanescentes”.

O espanhol referia-se precisamente ao facto de o partido de Dijsselbloem ter sofrido uma derota eleitoral e de o lugar do também ministro das Finanças holandês estar em risco. As regras – por exemplo, do Tratado de Lisboa — ditam que “os candidatos a presidente [do Eurogrupo] devem ter o cargo de ministros nacional das Finanças”. Só não esclarecem se, perdendo essas funções durante o mandato europeu, o presidente do grupo de países do euro deixa de ter condições para manter-se no cargo.