É mais um argumento a alimentar o escândalo de sexismo e abuso sexual que tem ensombrado a multinacional norte-americana desde o mês passado e que provocou já uma investigação interna às práticas da empresa. Gabi Holzwarth, namorada de Travis Kalanick durante três anos, contou ao site The Information que, em meados de 2014, durante uma viagem de trabalho à Coreia do Sul, ela, o então namorado e outros cinco executivos de topo da Uber (entre os quais o vice-presidente Emil Michael) visitaram um bar de karaoke – que, na verdade, seria um espaço de acompanhantes.
O presidente-executivo da Uber terá ficado no local apenas durante uma hora, não tendo escolhido nenhuma mulher para levar para o piso inferior, para “cantar”. Mas quatro trabalhadores escolheram uma rapariga cada um, pelos números com que estavam identificadas, era esse o procedimento, explicou Gabi Holzwarth.
O quinto trabalhador – uma mulher, diretora de marketing da empresa – não só se terá retirado incomodada como, um ano mais tarde, terá mesmo feito queixa ao diretor de recursos humanos da empresa de transporte particular, dizendo que a saída com os colegas a deixara “desconfortável”. Travis Kalanick terá conversado com ela sobre a queixa na altura, e Gabi Holzwarth também, via SMS, confirmou o The Information.
Por que motivo só agora, que é ex-namorada, decidiu Holzwarth contar tudo? De acordo com o texto publicado no site norte-americano, porque Emil Michael lhe ligou a dizer que as coisas estavam complicadas para os lados da empresa e a pedir-lhe por tudo para não falar sobre o assunto, caso fosse contactada por jornalistas. “Lembras-te daquela noite na Coreia? Há repórteres que vão tentar escavar e eu só queria rever a história contigo. Só fomos a um bar de karaoke, foi só isso que aconteceu, certo?”, ter-lhe-á ele dito.
Lembras-te daquela noite na Coreia? Há repórteres que vão tentar escavar e eu só queria rever a história contigo. Só fomos a um bar de karaoke, foi só isso que aconteceu, certo?”, terá pedido o vice-presidente da Uber, Emil Michael, à agora ex-namorada de Travis Kalanick.
De acordo com o relato que fez ao The Information, antes de decidir tornar o episódio público, Holzwarth ainda ligou ao ex-namorado, a dizer-lhe que estava muito aborrecida com o telefonema de Emil Michael. Terá sugerido a Kalanick, durante a conversa, que ele se afastasse da empresa para “tratar de si”. O presidente da Uber ter-lhe-á respondido que dois mil funcionários da multinacional até podiam querer que ele o fizesse, mas que os restantes dez mil precisavam dele: “Vais perceber quando fores mãe”.
Ao The Information, fonte da Uber desvalorizou a história: “Tudo isto aconteceu há quase três anos. Foi previamente reportado aos recursos humanos e, no início de março, Tammy Albarran e Eric Holder [os advogados encarregues da investigação interna sobre a cultura laboral da empresa] foram postos ao corrente”.
Travis Kalanick não se pronunciou ainda sobre a acusação da ex, mas Emil Michael também prestou declarações ao site. Gabi Holzwarth percebeu tudo mal, garantiu: “Dado o intenso ciclo de notícias pensei que a coisa correta a fazer era ligar-lhe para a avisar de que os jornalistas a podiam tentar contactar diretamente. Conheço-a há muito tempo, considero-a uma amiga, e não queria que ela fosse apanhada de surpresa. A memória dela relativamente a esta conversa é muito diferente da minha e lamento muito que o pretexto da minha chamada tenha sido mal compreendido”.