A semana no futebol português foi marcada pelas queixinhas. Porque Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, não se resigna pelo castigo de 113 dias advindo de uma queixa do Benfica. Porque o Benfica viu o rival lisboeta fazer queixas por tudo e por nada em relação ao que se passou ao clássico (e algumas não foram arquivadas). Porque o FC Porto queixou-se que todos os comentadores dos encarnados recebem uma cartilha para saberem o que dizer nos programas televisivos. Porque o Benfica queixou-se do comportamento do banco do FC Porto no clássico. Queixas, queixas e mais queixas. Queixas por tudo, queixas por nada. Será que ter estrelinha da sorte também dá queixa?

Porque foi assim que o Benfica ganhou em Moreira de Cónegos, cumprindo uma regra 100% verdadeira desde que o Moreirense subiu à Primeira Liga – em sete jogos no Comendador Joaquim Almeida Freitas, sete triunfos dos encarnados. Que, este domingo, foram sobretudo eficazes: em duas oportunidades, marcaram uma e no seguimento de um lance de estratégia (livre lateral). Do lado oposto, Petit, o caça-dragões e caça-leões que só não tem artilharia para caçar também águias (seis jogos, seis derrotas), viu a sua equipa criar duas grandes oportunidades também, mas quer Dramé, quer Neto não conseguiram fazer o que o suspeito do costume, Mitroglou, fez: o golo.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Moreirense-Benfica, 0-1

28.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Comendador Joaquim Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: Tiago Martins (Lisboa)

Moreirense: Makaridze; Sagna, Diego Ivo, Diego Galo, Rebocho; Bouba Saré (Alex, 77’), Neto, Caué; Dramé, Nildo (Sougou, 62’) e Boateng (Roberto, 68’)

Treinador: Petit

Suplentes não utilizados: Stefanovic, André Micael, Schons e Ramirez

Benfica: Ederson; Nélson Semedo, Luisão, Lindelöf, Grimaldo; Fejsa, Pizzi; Salvio (Zivkovic, 66’), Rafa (Cervi, 77’), Jonas (Samaris, 81’) e Mitroglou

Treinador: Rui Vitória

Suplentes não utilizados: Júlio César, Eliseu, Filipe Augusto e Carrillo

Golo: Mitroglou (42’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Luisão (30’), Diego Ivo (37’), Dramé (41’), Ederson (45+3’), Bouba Saré (70’), Fejsa (87’) e Samaris (90+1’)

Os primeiros 20 minutos foram tudo aquilo que se poderia pensar na antevisão do encontro mas sem balizas – por acaso, a parte mais importante dessa coisa a que chamam futebol. Porque o Benfica assumiu o jogo, subiu as linhas, teve mais bola, procurou os movimentos interiores dos extremos para abrir alas às cavalgadas dos laterais e colocou Jonas entre linhas nas costas de Mitroglou. E porque o Moreirense cedeu o controlo do jogo, defendeu com linhas juntas e num bloco de 30 metros, teve pouca bola, procurou os movimentos nos corredores laterais em transições rápidas e colocou Nildo numa posição volátil que tão depressa colocava quatro unidades no meio-campo como três na frente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na primeira vez que o jogo de sombras do Moreirense falhou e houve um atraso ligeiro no tic-tac-tic-tac do relógio suíço montado por Petit, o Benfica criou a primeira oportunidade de relativo perigo: Nélson Semedo entrou na área depois de Dramé ter ficado para trás, cruzou rasteiro para o remate de Jonas, Sagna teve um corte exemplar a evitar o remate e Pizzi, aproveitando a bola a pingar à entrada da área, atirou para defesa fácil de Makaridze (22’). A partir daí, só de bola parada os encarnados incomodaram… e nem foi muito.

Rui Vitória começava a mostrar sinais de impaciência, também porque já tinha entretanto Luisão “amarelado” – com uma entrada a roçar mais qualquer coisa do que a sanção mais leve a nível dos cartões, mas Tiago Martins parece ter aceite bem as desculpas do brasileiro após a infração – e via o central condicionado na forma de abordar as transições rápidas das setas Dramé e Boateng. Era preciso um calmante e, um pouco à semelhança do FC Porto ontem com o Belenenses, foi através de um lance de estratégia que o jogo ficou desbloqueado: após um livre lateral de Pizzi na direita do ataque, Mitroglou saltou em oposição e fez o 1-0 aos 42 minutos, confirmando a época mais goleadora a nível pessoal, 26 (o português também saiu à liderança das assistências, a par de Semedo, com seis).

A segunda parte começou quase como uma fotocópia daquilo que tinha no jogo da meia-final da Taça da Liga, no Algarve, mas desta vez Dramé, que partiu como uma flecha na esquerda do ataque, viu a bola picada por cima de Ederson ser cortada por Lindelöf quando Boateng estava a dois metros da baliza para encostar e fazer o empate (49’). O Moreirense, que vinha com clara vontade de subir um pouco mais as linhas, desperdiçava uma oportunidade flagrante.

Aos 62 minutos, Petit decidiu de vez abrir o jogo, com a entrada de mais um Usain Bolt em potência para a ala direita (Sougou) e a saída do híbrido Nildo. E a cada bola que entrasse no último terço do ataque em profundidade, havia a ideia de perigo a rondar a baliza de Ederson. Como aos 67’, quando Dramé acreditou que era possível ganhar a bola a Lindelöf, fez um cruzamento atrasado já na área para Neto mas o médio fez o mais difícil atirando ao lado.

Do lado encarnado, já se tinha percebido há muito que a transpiração teria de prevalecer em relação à inexistente inspiração. Por isso, Rui Vitória foi tentando utilizar as substituições para corrigir o que se passava dentro de campo: perante as subidas mais constantes do lateral Rebocho pelo flanco que já tinha Dramé, o técnico sacou Salvio e lançou Zivkovic; face à clara queda física de Rafa, já incapaz de ajudar com tanta frequência Grimaldo (que regressou aos jogos na Primeira Liga quase seis meses depois), apostou em Cervi; e como a equipa ia deixando de quando em vez que o jogo se partisse, abdicou de Jonas e colocou Samaris a fechar o corredor central com Fejsa. Aí, o jogo “acabou”.

Mitroglou, aos 78 minutos, falhou a única oportunidade que o Benfica teve no segundo tempo (e no jogo, além do golo). Com Fejsa e Samaris no corredor central e o Moreirense com mais unidades na frente, a luta passou a ser de novo pela conquista do metro quadrado, com mais faltas e algumas picardias pelo meio (e se no início falámos das queixas, não se admire se alguém não deixar passar ao lado a entrada do médio grego sobre Dramé…). O resultado, esse, estava feito. E com mais ou menos felicidade, as águias voltaram a voar para o primeiro lugar da Primeira Liga, com mais um ponto do que o FC Porto em vésperas de deslocação dos dragões a Braga.

P.S. Depois de termos concluído a crónica, fizemos uma ronda rápida pela atualidade e percebemos que o encontro de Moreira de Cónegos não passou ao lado dos responsáveis do FC Porto, nomeadamente do diretor de informação e comunicação, Francisco J. Marques. E no vídeo colocado no Twitter vê-se uma clara agressão de Samaris a Diego Ivo no período de compensação. Vai dar que falar, e muito. Vai uma quei… perdão, aposta?