O diretor-geral de Saúde (DGS), Francisco George, afastou, esta tarde, um cenário de epidemia de grande dimensão no que toca ao sarampo. Em declarações aos jornalistas, Francisco George, não apontou para a origem do surto em Portugal, mas referiu que as estreitas ligações com França (onde a prática de não vacinar filhos tem grande expressão) tem “reflexos em termos de saúde pública”. E insistiu que a primeira dose de vacina aos 12 meses é muito eficaz.

“Não vamos temer uma epidemia de grande magnitude, porque a maioria da população está protegida. Vamos ter mais casos, é natural, mas não tememos uma epidemia em termos de dimensão – de magnitude e intensidade – muito preocupante”, sublinhou Francisco George, repetindo várias vezes que 96 a 97% da população com menos de 40 anos está vacinada e as pessoas com mais de 40 tiveram sarampo na infância.

Questionado sobre a origem do surto de sarampo — com 26 casos notificados desde o início do ano — Francisco George não apontou diretamente para a fonte, mas referiu que “as nossas relações são muito estreitas com França”. “Todos os dias há muitos milhares de portugueses e franceses que atravessam a fronteira e temos muitos franceses a viver em Portugal e todos estes problemas têm reflexos em termos de saúde pública”, explicou, minutos depois de ter dito que a expressão de pais que não vacinam os filhos é muito significativa em países como a França.

Até aos 12 meses não há motivo para alarme

O diretor-geral de Saúde insistiu na ideia que já tinha referido, esta manhã na Antena 1, de que a vacinação contra o sarampo é muito eficaz. “Uma dose aos 12 meses de idade é muito eficaz”, garantiu Francisco George. Uma ideia reforçada mais à frente por Maria João Brito, diretora do departamento de infecciologia do Hospital D. Estefânia, que apontou para uma taxa de proteção de 95%.

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“Mesmo que alguma criança [vacinada] tenha a doença, será sempre um caso muito ligeiro. Já as crianças que não forem vacinadas ficam mais vulneráveis a situações de sarampo como a que se está a verificar. E em cada 100 casos de sarampo há um que não corre bem”, adiantou o responsável da DGS.

Com a primeira dose a criança já fica imunizada, “é como se tivesse tido sarampo mas sob a forma de vacina”, sublinhou o diretor-geral, explicando que o reforço dos cinco anos (segunda dose) “não tem influência no estado vacinal das crianças”.

Com uma dose fica imunizado. Se for antes dos 12 meses, uma vez que há uma interferência com os anti-corpos que chegaram da mãe através da placenta, poderá acontecer que seja necessário repetir uma terceira dose”, explicou.

E em relação aos bebés até aos 12 meses? “As crianças têm a proteção que as mães lhes conferiu até aos nove meses. Há ainda a circular anti-corpos transmitidos pela mãe. Daí que as crianças antes dos seis meses raramente têm doenças infecciosas”, explicou Francisco George, embora admita que os peritos estão “exatamente a equacionar esse problema [antes dos 12 meses]”. “Mas isso devia ser assumido por todos , estamos a ouvir pediatras, especialistas em infecciologia, professores, e ainda não há uma decisão.”

Em relação a este ponto, a pediatra e diretora do departamento de infecciologia do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, Maria João Brito, explicou que “abaixo dos 12 meses as crianças podem fazer uma vacinação em situações excecionais, em situações epidémicas”. E disse que “já se decidiu isso em Portugal” noutras alturas. Mas “nesta altura não há nenhuma epidemia de sarampo em Portugal. Há um surto de sarampo. Esta situação é vista todos os dias e tem de ser acompanhada dia a dia”.

A especialista referiu também que “as crianças vacinadas têm muito pouca probabilidade de vir a ter sarampo” e que “uma primeira dose é já muito bom”, insistindo que as vacinas são “boas” e “seguras”.