A Nintendo Switch ainda não conta com dois meses de existência e o direcionamento da consola já é mais do que claro, se dúvidas ainda existissem sobre onde e a quem queria chegar. Para além do mercado familiar, que é indubitavelmente o seu principal foco, percebemos com os futuros dois “grandes” lançamentos que a Nintendo quer reconquistar os jogadores que não adquiriram a consola anterior, a Wii U, e consequentemente perderam um dos melhores catálogos de videojogos exclusivos da década. Mario Kart 8 era certamente um deles.

A ser lançado dia 28 de abril para a Switch, Mario Kart 8 Deluxe tem, por razões óbvias, a sensação de voltarmos a um local onde fomos felizes. E se o sentimos é porque fomos (e somos) realmente felizes nesta nova versão daquele que é um dos melhores jogos da série, quase 25 anos depois do primeiro título ter saído na Super Nintendo.

Costumo ser muito crítico desta prática do mercado dos videojogos (e não só) de remasterizar objetos, seja com a desculpa do HD, do 4K, ou simplesmente pelo facto de estarem a duplicar as vendas de um produto apenas porque ele foi “melhorado”. Esta postura sempre me soou preguiçosa, excessivamente confiante na vulnerabilidade de quem compra, um gesto sequioso de dinheiro relativamente fácil.

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Mas Mario Kart 8 Deluxe não cai nesse risco. A Nintendo, não tem por regra o hábito de relançar versões de “alta-definição” dos seus jogos, preferindo vender jogos antigos através de retro-compatibilidade. Mario Kart 8 Deluxe não é apenas a versão melhorada de Mario Kart 8 da Wii U, mas sim a sua versão definitiva, aquela que completa o círculo e as falhas do jogo original que o impediam de atingir a quase perfeição, e que inclui todos os add-ons que foram criados no jogo original.

O que nos fez ao longo deste quarto de século comprar religiosamente cada iteração de Mario Kart é a pura diversão que cada jogo nos traz. É a memória dos primórdios da série com o ecrã dos nossos antigos CRTs divididos a meio (ou em quatro) para que pudéssemos jogar lado a lado no sofá com amigos. Estar em primeiro lugar na corrida, destacados deles na corrida, até que uma fatídica carapaça de tartaruga azul nos cai do céu e nos atira para a beira da estrada.

Foram momentos como estes em que a infame carapaça azul assumiu o seu lugar especial no ódio da Humanidade, como símbolo da destruição de amizades e da frustração. As corridas acabavam, provavelmente terminávamos em segundo depois de termos sido atirados para fora e queríamos instantaneamente outra corrida de desforra, nunca antes sem ser antecedida por uma valente cotovelada ao amigo que nos atirou a dita carapaça.

É de volta a esta proximidade social e lúdica que a Switch nos quer fazer regressar, a de estarmos fisicamente perto de amigos e família e jogarmos juntos, presencialmente, e não apenas a ideia do mutiplayer através da Internet. Mario Kart 8 Deluxe demonstra tudo isso com a ansiada inclusão dos clássicos modos de batalha entre karts onde temos de rebentar os balões uns dos outros, além de uma uma série de modos multi-jogador que prometem devolver-lhe o estatuto que sempre mereceu, mais do que um dos melhores, senão o melhor e mais divertido jogo de corridas, mas o rei dos party games.

Passando a fasquia do mero remake HD, Mario Kart 8 Deluxe inclui uns consideráveis 42 personagens jogáveis, a possibilidade de segurarmos dois itens ao mesmo tempo (o que para quem já alguma vez jogou a série percebe o quão útil é), muitos modos de jogo e muitas pistas, “direcção assistida” para novos jogadores, infindáveis horas de jogo e a possibilidade de oito jogadores jogarem em conjunto com a Switch em modo portátil, ou quatro a dividirem o mesmo ecrã no modo TV e mesa.

Mario Kart 8 Deluxe apresenta-se assim como mais um dos jogos obrigatórios para a Nintendo Switch, que parece ter a vontade de lançar um jogo excelente por mês. Até agora são dois jogos em dois meses de vida. Fica a expectativa para saber qual será o jogo obrigatório que sairá em maio, mas até lá temos muitas semanas de gargalhadas e corridas com Mario Kart 8 Deluxe, na expectativa de que as carapaças azuis não venham destruir mais amizades, mas agora no brilhantismo visual de alta qualidade da consola Switch.

Ricardo Correia, Rubber Chicken