A morte de Marco Ficini, italiano de 41 anos adepto da Fiorentina que pertencia à claque 7Bello e que veio a Lisboa para o dérbi entre Sporting e Benfica, numa altura em que se comemoram 20 anos da ligação entre a Juventude Leonina e a Torcida Verde e as claques do conjunto viola, continua envolta em muita informação e contra-informação sobre o que realmente se passou na madrugada de sexta-feira para sábado.

O Correio da Manhã avançou ao final desta tarde de terça-feira que a Polícia Judiciária (PJ) encontrou o carro que atropelou mortalmente o transalpino, na Amadora. De acordo com a CMTV, trata-se de um Renault Clio que foi encontrado pelas autoridades numa garagem em Moinhos da Funcheira, com visíveis amolgadelas na porta do lado condutor. Irão agora ser efetuadas novas perícias à viatura. Para esse avanço, a PJ contou não só com as imagens das câmaras de vigilância mas também com alguns testemunhos de pessoas entretanto identificadas e com as redes sociais, ferramenta a partir da qual foi possível apurar mais informações sobre o sucedido. As mesmas diligências poderão agora ajudar à interceção do condutor.

Começam assim a ser conhecidos alguns capítulos dos acontecimentos que levaram à morte de Marco Ficini, vítima de atropelamento mortal junto ao estádio da Luz. E, em paralelo, caem por terra uma série de teorias que se foram aparecendo desde a manhã de sábado, quando foi conhecida a notícia. Tentemos então reconstituir tudo o que se passou desde o momento em que o INEM chegou ao pé do cidadão italiano de 41 anos, por volta das 3h da manhã de dia 22 de abril.

Adepto do Sporting atropelado mortalmente junto ao Estádio do Benfica

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Na madrugada de quinta para sexta-feira, uma parede do estádio da Luz onde está o mural de homenagem à fundação do Benfica foi pintada por adeptos afetos ao Sporting. Nesse dia, não terá havido mais incidentes de maior entre grupos rivais – até porque os spotters da Polícia de Segurança Pública (PSP) estavam a controlar eventuais problemas que pudessem existir, como é normal nos períodos de maior tensão.

Marco Ficini, que estaria acompanhado por um grupo de italianos com oito a dez elementos, voltou a marcar presença num dérbi e aproveitou a viagem para Lisboa para jantar com amigos ligados à Juventude Leonina. No final, houve até uma fotografia tirada na rua com uma tarja que saudava os 20 anos de ligação com a 7Bello: foi em 1997, num encontro entre Fiorentina e Benfica na Luz para a Taça das Taças, que começou a haver essa amizade entre claques (e faz com que seja normal italianos virem a jogos em Portugal e portugueses a apoiarem os viola em Itália). Em paralelo, circulava também essa informação, via SMS e redes sociais, de que os adeptos da Fiorentina já estavam na capital e que passariam por Alvalade, onde é normal estarem em convívio na véspera dos jogos perto das “casinhas” das claques.

Terá sido nessa altura o registo do primeiro incidente na madrugada de sexta-feira para sábado: um carro com elementos alegadamente afetos ao Benfica terá passado pelas imediações do estádio José Alvalade, entoando cânticos e tendo mesmo acendido um very light. Não se sabe ao certo a dimensão dos problemas nesse momento (há quem fale numa rixa, há quem se fique apenas pelas “bocas”). A verdade é que esse momento acabou por ser o gatilho para o que se passaria mais tarde perto do estádio da Luz e que culminaria com a morte de Marco Ficini.

Os spotters tinham passado nessa madrugada pelas imediações do estádio da Luz. Tomando conhecimento de algumas mensagens que tinham sido trocadas nas redes sociais, jogaram pelo seguro e foram despistar a possibilidade de desacatos. Tudo terá acontecido quando já tinham abandonado o local, por volta das 2h30. Alguns carros com adeptos do Sporting terão chegado à zona, onde estavam já adeptos do Benfica preparados para o que viria a suceder: confrontos que envolveram perseguições de carros, arremesso de pedras e garrafas e o atropelamento mortal de Marco Ficini, responsável por um restaurante do centro comercial La Rinascente, localizado no centro de Milão. Ao contrário do que correu durante dois dias, o italiano não estava acompanhado do filho.

Alguns dos presentes já terão sido identificados pela PJ, incluindo o condutor que atropelou o italiano, ligado à claque do Benfica No Name Boys, e o carro, entretanto encontrado. Além das imagens das câmaras de vigilância, os responsáveis seguiram também algumas pistas através das redes sociais. Estariam mais duas pessoas no carro que terá arrastado Ficini cerca de 30 metros.

A Procuradoria Geral da República informou esta terça-feira que o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa já abriu um inquérito para apurar as causas da morte. Entretanto, já estão em Lisboa os familiares da vítima, cujo corpo encontra-se no Instituto de Medicina Legal, em Lisboa. Não foi possível confirmar se a autópsia já se realizou.

Claques. Como nasceram, de que forma evoluíram, no que se tornaram (com polémicas e violência pelo meio)

Esta terça-feira, e depois de terem sido mostradas fotografias da coroa de flores entregue pelos jogadores do Sporting ao intervalo à Juventude Leonina no lixo, a claque verde e branca emitiu um comunicado dizendo que teriam sido adeptos rivais a tomar esse ato. “Acabado o jogo, a coroa foi colocada na fachada principal da nossa sede (casinha) junto aos símbolos da claque, ficou lá desde o término do jogo. Até esta tarde [de segunda-feira], altura em que mais uma vez os cobardes passaram por lá e a puseram na zona onde as claques depositam o lixo para este ser levado pelas empresas que tratam deste efeito“, destacou a missiva.

Podemos concluir que, não bastando o que alguém fez ao nosso companheiro Marco na madrugada de sexta, o desrespeito pela sua memória ainda continua, desrespeito não só nesta atitude lastimável mas também nos vários comentários de alguns adeptos de outros clubes inaceitáveis depois de tudo o que se passou, ainda haja esta atitude provocatória por parte de outros adeptos, não respeitando Marco, nem a sua família, atitudes que já começaram no jogo, ao não ser respeitado o minuto de silêncio, demonstrando o tipo de pessoas que são”, acrescentou.

Em paralelo, outra claque do Sporting, a Torcida Verde, foi colocar uma coroa de flores no local onde Marco Ficini foi atropelado, com um cachecol do Sporting e outro da Fiorentina a simbolizar a homenagem ao adepto, e não se registou qualquer tipo de problema ou ocorrência.