Pedro Duarte tinha acabado de chegar dos EUA e, admite, ainda estava com jet lag. Foi direto do aeroporto para Pombal, Leiria, onde tinha sido convidado para falar numa convenção autárquica sobre o impacto da revolução digital nas campanhas eleitorais. O ex-deputado e ex-líder da JSD, que Marcelo Rebelo de Sousa foi buscar para ser o seu diretor de campanha nas presidenciais, falava na qualidade de diretor dos assuntos corporativos da Microsoft Portugal, mas nem por isso deixou de dar umas alfinetadas ao caminho atualmente seguido pelo PSD e com o qual não concorda inteiramente: se o mundo mudou a todos os níveis, nomeadamente tecnológicos e relacionais, também o PSD precisa de mudar.
É preciso uma nova social-democracia”, defendeu.
Em cima do palco, e perante uma plateia de autarcas, candidatos a autarcas e dirigentes da distrital social-democrata de Leiria, Pedro Duarte, considerado desalinhado da atual direção de Pedro Passos Coelho, saiu pouco ou nada do tema da revolução digital — a não ser quando criticou implicitamente e com ironia as declarações de Maria Luís Albuquerque que disse, em entrevista à TSF, que o FMI, ao contrário do Presidente da República, era uma entidade independente e técnica capaz de analisar a sustentabilidade das contas públicas. Mas ao Observador, no final da intervenção, o ex-secretário de Estado da Juventude foi mais claro: “O mundo mudou, não há razão para o PSD não mudar também”, disse.
Não se trata de uma mera mudança de rostos. “Houve tempos em que, por culpa das circunstâncias, o PSD enveredou muito pela via liberal e pelo cumprimento dos ditames das instituições ditas independentes e técnicas, como o FMI, mas esses tempos acabaram”, disse ao Observador. Para Pedro Duarte, esse discurso, que a ex-ministra das Finanças ainda esta semana repetiu aos microfones da TSF “não é mobilizador” nem cola com a realidade de hoje. É preciso andar para a frente, não querer voltar a 2015, “ao ponto onde se deixou”.
“O PSD é um partido muito dogmático” e o “mundo está a mudar demasiado rápido” para haver dogmas. Para Pedro Duarte, é preciso uma “reflexão” no seio do PSD, que pode começar a ser feita após as autárquicas de 1 de outubro, altura em que muitos entendem como um fechar de um ciclo, independentemente do resultado.
Apesar de ter o selo de desalinhado, a verdade é que Pedro Duarte é atualmente candidato à Assembleia Municipal do Porto pela lista do PSD/PPM, e esse fator não passa despercebido à direção nacional do partido, que prefere sublinhar o alinhamento destes supostos “críticos” com a estratégia autárquica do partido do que o desalinhamento face à estratégia nacional. No encerramento da II convenção dos autarcas do PSD de Leiria, o secretário-geral do partido, José de Matos Rosa, agradeceu mesmo a presença do ex-deputado no painel.
Antes dele, ao início da tarde, tinha sido a vez de outro crítico subir ao palco em Pombal. Rui Rio, que há muito é apontado como o mais provável adversário de Pedro Passos Coelho no próximo congresso, de fevereiro ou março, foi convidado pela distrital para falar sobre o seu exemplo de gestão autárquica, mas aproveitou a oportunidade para manter vivo o tabu em torno da sua candidatura à liderança do PSD. Disse que, enquanto praticante de atletismo, era um corredor de fundo, e até fez as contas por alto: até março faltarão uns 1500 metros. Resta saber se vai ou não cortar a meta.
Rui Rio é um “corredor de fundo”. Mas daqui até março “já só são 1500 metros”
Depois de encerrada a II convenção dos autarcas de Leiria, parte dos autarcas e dirigentes social-democratas saíram do cine-teatro onde decorreu a convenção e foram para outro centro de congressos, ali ao lado, a 10 minutos de distância, onde a distrital de Leiria tinha organizado o jantar de comemoração pelo 43º aniversário do PSD — com a presença da direção nacional e do presidente Pedro Passos Coelho. Rui Rio não foi. Pedro Duarte ficou na dúvida. Talvez fosse, mas não ficaria muito tempo. Culpa do jet lag, disse.