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Entrelinhas. O que o Papa Francisco quis dizer com a homilia

Este artigo tem mais de 5 anos

Foi de esperança, paz e fé que o Papa falou na homilia. E apelou a uma Igreja "pobre de meios e rica no amor". Explicamos o que Francisco quis dizer com o texto que leu depois da canonização.

O Papa Francisco no santuário de Fátima
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O Papa Francisco no santuário de Fátima

AFP/Getty Images

O Papa Francisco no santuário de Fátima

AFP/Getty Images

Foi de esperança, paz e fé que o Papa Francisco falou na homilia da missa do Centenário das Aparições de Fátima, este sábado. Disse que a Virgem transmitiu aos pastorinhos uma mensagem de amor e que foi o manto protetor da mãe de Jesus que os protegeu de todas as dificuldades. Agora, como em 1917, a mensagem de Fátima é a mesma. Francisco repetiu mais uma vez que o lugar da Igreja é junto dos que sofrem e que a Igreja se quer missionária, acolhedora e “pobre em meios mas rica em amor”.

“‘Apareceu no Céu (…) uma mulher revestida de sol’: atesta o vidente de Patmos no Apocalipse (12, 1), anotando ainda que ela ‘estava para ser mãe’. Depois, ouvimos, no Evangelho, Jesus dizer ao discípulo: ‘Eis a tua Mãe.’ (Jo 19, 26-27). Temos Mãe! Uma ‘Senhora tão bonita’, comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos atrás. E, à noite, Jacinta não se conteve e contou o segredo à mãe: ‘Hoje vi Nossa Senhora’. Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram. A Virgem Mãe não veio aqui para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu.”

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Francisco é conhecido por usar uma linguagem simples e acessível a todos. E é com a simplicidade do discurso de três pastorinhos que evoca a história que hoje comemora 100 anos. O Papa explica que a Virgem não terá aparecido a Jacinta, Francisco e Lúcia apenas para que a vissem, mas para apelar a mudanças drásticas na Humanidade.

“Mas Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida — tantas vezes proposta e imposta — sem Deus e profanando Deus nas suas criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre, pois, como ouvíamos na Primeira Leitura, ‘o filho foi levado para junto de Deus’, (Ap 12, 5). E, no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus que irradiava Nossa Senhora. Envolvia-os no manto de Luz que Deus Lhe dera. No crer e sentir de muitos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra, quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir, como ensina a Salve Rainha, ‘mostrai-nos Jesus’.”

Para o líder dos católicos, as palavras de Maria em Fátima são as de uma mãe que protege os filhos e lança um pedido de conversão aos homens para os salvar do Inferno. Fátima é, por isso, “um manto de Luz” que cobre a Humanidade em qualquer lugar da Terra. O Papa apela aos fiéis para recorrerem a Maria para conhecer Jesus.

“Queridos peregrinos, temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura, ‘aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo’ (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai celeste a humanidade — a nossa humanidade — que tinha assumido no seio da Virgem Mãe e nunca mais a largará. Como uma âncora, fundeemos a nossa esperança nessa humanidade colocada nos Céus à direita do Pai. (cf. Ef 2, 6). Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos sustente sempre, até ao último respiro.”

Tal como anunciara na mensagem gravada em vídeo para os fiéis portugueses, o Papa vem a Fátima falar de esperança. Ao longo de toda a homilia usa, de resto, 10 vezes essa palavra (excluindo uma vez em que refere o termo ‘esperançoso’). Este é, aliás, um tema caro a Francisco. Ainda em fevereiro deste ano, disse numa audiência geral que “os cristãos devem ser prova viva de esperança”, sabendo que, especialmente em tempos de escuridão e dificuldade, essa não é uma virtude fácil.

“Com esta esperança, nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem conta que o Céu concedeu nestes cem anos, passados sob o referido manto de Luz que Nossa Senhora, a partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os quatro cantos da Terra. Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a adorá-Lo. Daqui lhes vinha a força para superar contrariedades e sofrimentos. A presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar junto a ‘Jesus Escondido’ no sacrário.”

Francisco já fez vários discursos e homilias sobre a esperança. A poucos dias do Natal de 2016, por exemplo, dirigiu aos fiéis uma mensagem semelhante à de Fátima, dizendo que a esperança ensina a sorrir. “Uma das coisas que acontecem às pessoas que se afastam de Deus é que se tornam pessoas sem sorriso. Podem ser capazes de rir alto — dizer uma piada atrás da outra e rir — mas falta-lhes o sorriso.” Francisco refere ainda que foi a fé e a esperança em Deus que ajudou os novos santos Jacinta e Francisco Marto a ultrapassar as contrariedades e sofrimentos que enfrentaram. “Temos esperança porque Deus caminha connosco, caminha ao nosso lado e segura a nossa mão”, disse o Pontífice noutra ocasião.

“Nas suas Memórias (III, n.6), a irmã Lúcia dá a palavra a Jacinta que beneficiara de uma visão: ‘Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente a chorar e com fome, e sem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja, diante do Imaculado Coração de Maria a rezar? E tanta gente a rezar com ele?’ Irmãos e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui venerar a Virgem Mãe e confiar-Lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto, não se perdem; dos seus braços virá a esperança e a paz de que necessitam e que suplico para todos os meus irmãos no Batismo e em humanidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados. Queridos irmãos, rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem os homens; e dirigimo-nos aos Homens com a certeza de que nos vale Deus.”

Sabe-se que Francisco tem o hábito de pedir a quem encontra para rezar por ele. Fez isso logo no primeiro dia de Pontificado, quando apareceu à janela para saudar os fiéis em Roma. É um gesto que já se tornou habitual. Aqui, agradece aos fiéis por virem ao seu encontro. O Papa volta ainda a falar da esperança e da paz, que serviram de mote à sua viagem como peregrino de Fátima. E, seguindo o modelo de Jesus no Evangelho, dirige-se especificamente aos que sofrem (doentes, pessoas com deficiência, presos, desempregados, pobres e abandonados). É a eles, que estão nas periferias, que a Igreja deve fazer por chegar.

“Pois Ele criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um. Ao «pedir» e «exigir» o cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia, 28/II/1943), o Céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada! A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto?» (Jo 12,24): disse e fez o Senhor, que sempre nos precede. Quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou antes. Assim, não subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as trevas do mal e trazer-nos para a Luz.”

O Papa fala muitas vezes da importância de construir uma cultura do encontro para fugir à indiferença que, segundo diz hoje, “gela o coração e agrava a miopia do olhar”. O percurso do próprio Francisco explica como o modelo de Jesus lhe serviu de inspiração nos momentos mais duros da sua vida. “Quando passamos através de alguma cruz, Ela já passou antes.” Nos dois anos de exílio e provação individual impostos a Bergoglio em Córdoba, entre 1990 e 1992, o sofrimento de Cristo esteve sempre presente na mente do jesuíta, como forma de “vencer as trevas do mal e trazer-nos para a Luz.”

“Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.”

Francisco insiste na mensagem que passou logo na primeira entrevista do seu Pontificado: a Igreja deve sair de si mesma, ser missionária, acolhedora e livre. O Papa volta ao conceito da Igreja pobre para os pobres, mas rica em amor.

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