O Ministério Público considera que os instrutores do 127.º curso de Comandos agiram de forma “voluntária” e consciente com o propósito de “maltratarem fisicamente” os recrutas que prestavam provas, sabendo que as condições a que estavam a ser sujeitos poderiam ser fatais.

A informação é avançada pelo Público e consta do inquérito-crime à morte de dois militares no curso de comandos. De acordo com aquele jornal, o Ministério Público acredita que os instrutores estavam cientes dos perigos de morte associados à “privação da água” num contexto de “elevadas temperaturas” e de sujeição “a exercícios físicos violentos”.

Ainda que estivessem conscientes dos riscos de “lesão renal” e de possível “falência multiorgânica e morte”, os instrutores conformaram-se “com esses resultados”, conclui a procuradora Cândida Vilar, que lidera o inquérito-crime à morte de dois recrutas.

Os factos assumem maior gravidade porque, continua o Ministério Público, os instrutores responsáveis pelo curso desvalorizaram os sintomas demonstrados pelos militares que que davam os primeiros sinais de cansaço extremo. Mais: os militares em questão foram ainda castigados e colocados “numa tenda onde a temperatura ambiente era superior à temperatura exterior”.

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Os investigadores acreditam, por isso, que os instrutores, além de revelarem falta de preocupação com o estado de saúde dos militares que estavam a prestar provas, agiram com “desprezo”. Os recrutas do 127.º curso de Comandos foram levados para Alcochete na madrugada de 4 de setembro. Depois, tudo começou a correr mal, como contava aqui detalhadamente o Observador.

Até ao momento, foram já constituídas arguidas 20 pessoas: 17 instrutores, o médico e os dois enfermeiros que prestavam assistência.

Comandos. As 20 horas que mataram os dois recrutas

Novo curso de comandos já registou 40 desistências

O 128.º curso de Comandos registou até ao momento 40 desistências a pedido dos instruendos, prosseguindo a formação apenas 17 dos 57 militares iniciais, disse à agência Lusa o porta-voz do Exército.

Este é o primeiro curso com as novas regras impostas depois da morte de dois instruendos, em setembro do ano passado. Estão na formação, no regimento da Carregueira, em Sintra, 17 formandos, dos quais três oficiais, dois sargentos e 12 praças, adiantou o Exército. No curso anterior, do total de 67 formandos iniciais, receberam a boina e o crachá de Comando 23 militares.