Uma estrela dos negócios no Brasil, acionista da empresa líder em carne processada, o antigo presidente da Câmara de Deputados detido, um deputado próximo do presidente, um “doleiro”, um candidato presidencial e o próprio presidente. Estes são os principais protagonistas da nova bomba na política brasileira que já fez regressar o fantasma do impeachment (destituição), apenas um ano depois de Michel Temer ter substituído Dilma Rousseff, também destituída, na presidência. Um a um, saiba quem são e qual a sua importância para o caso que volta a abalar o Brasil.

JSB, o gigante da carne brasileira

O presidente da JSB, Joesley Batista, é o principal rosto do novo caso que está a abalar o poder político brasileiro. A JSB é considerada a maior empresa de produtos de origem animal a nível mundial, mas começou como fornecedora de cantinas de empresas de construção. O grupo, que hoje emprega mais de 200 mil pessoas, arrancou em 1953 no estado brasileiro de Goiás com uma fábrica de processamento de carne bovina. Hoje está presente em vários setores com grandes marcas de consumo de produtos alimentares, mas também de sabonetes e embalagens e até é accionista da empresa que detém a marca das famosas Havaianas, na qual comprou uma participação em 2015. A JSB teve receitas de 170 mil milhões de reais (50 mil milhões de euros) no ano passado.

Joesley Batista, o milionário da indústria da carne

O grupo JSB foi criado por José Batista Sobrinho, que ainda está na administração, mas a empresa é gerida pelo filho Joesley Batista e pelo irmão, Wesley Batista, que é vice-presidente. Joesley, é apontado como o principal obreiro da grande expansão internacional e diversificação do grupo e está na lista dos principais milionários brasileiros da revista Forbes. Joesley Batista, de 44 anos, é também considerado um dos homens mais poderosos do Brasil, tendo ainda presença na vida social do país, sobretudo depois do casamento com uma antiga jornalista, Ticiana Villas Bôas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O grupo que lidera já esteve envolvido em várias investigações da justiça brasileira e chegou a existir uma ordem judicial para afastar os irmãos Batista do comando da holding J&F que controla o grupo. O empresário, que está fora do país, deverá ser ouvido na próxima semana, no quadro da mais recente investigação judicial, em conjunto com Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES (banco de desenvolvimento detido pelo Estado). A operação Bullish investiga o apoio dado pelo BNDES aos negócios internacionais da JSB, que resultaram em prejuízos para a instituição pública.

Os dois gestores Batista estão agora em Nova Iorque, tendo sido autorizados a deixar o país pelas autoridades judiciais depois de terem afirmado que estavam a receber ameaças de morte, avança a TV Globo.

Michel Temer, o presidente que ganhou com o impeachment

Michel Temer tomou posse como presidente interino do Brasil há precisamente um ano, na sequência do impeachment de Dilma Rousseff. Temer, que é do PMDB, chegou a fazer parte do Governo de Dilma, como vice-presidente, mas afastou-se quando a crise política estalou, na sequência dos escândalos da Petrobras. Michel Temer tornou-se um dos principais defensores da destituição da antiga presidente. O seu governo nasceu envolto em polémica, por não ter mulheres nem negros, e já foi abalado por vários casos que forçaram demissões. Mas esta denúncia é de longe a mais grave para um Presidente que nunca chegou a ser eleito e compromete diretamente Temer no pagamento de subornos a políticos brasileiros. E já se fala outra vez em destituição, tal como aconteceu com a sua antecessora.

Eduardo Cunha, um deputado na prisão

É um dos políticos mais conhecidos do Brasil e está a cumprir uma pena de 15 anos, condenado pelos crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais e evasão de divisas. No início dos anos 90 chegou a trabalhar na campanha de Collor de Mello, um presidente que também passou pelo processo de destituição. Membro do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), foi deputado federal desde 2003 e presidente da Câmara de Deputados, entre fevereiro de 2015 e julho de 2016, cargo em que desempenhou um papel relevante na queda de Dilma Rousseff ao aceitar o pedido de impeachment. Em outubro do mesmo ano foi preso preventivamente e perdeu o mandato de deputado. Isto depois de ter sido acusado de mentir na comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigava a corrupção na Petrobras e que esteve na origem do caso Lava Jato.

Segundo a denúncia feita pelos gestores do JSB, uma parte do dinheiro pago pela empresa em subornos teve como objetivo manter Eduardo Cunha calado. Numa declaração que lhe foi atribuída pelo jornal Globo, o ex-deputado terá avisado. “Se a JSB delatar (denunciar) será o fim da República”.

Rodrigo Loures, o assessor do presidente

Rodrigo Rocha Loures é um deputado do PMDB, considerado muito próximo de Michel Temer, que até já lhe fez elogios públicos. O empresário foi eleito para como deputado federal em 2006 pelo Estado do Paraná. Em 2015, era o assessor parlamentar do então vice-presidente Temer. Rolha Loures foi nomeado assessor especial do gabinete presidencial no ano passado e agora teria sido o escolhido pelo presidente para liderar o delicado dossiê de Eduardo Cunha. Na sequência das denúncias feitas pelos empresários, o juiz do Lava Jato pediu a perda do seu mandato.

Lúcio Funaro, “doleiro” e candidato a delator

Lúcio Funaro é descrito na imprensa brasileira como um doleiro, nome dado no Brasil a quem troca moeda no mercado negro, e apontado como operador de Eduardo Cunha para esquemas de corrupção que estão a ser investigados. Funaro, detido em Brasília desde o ano passado, estaria em negociações com o Ministério Público brasileiro para obter um acordo de delação premiada (denúncia de crimes praticados por terceiros, em troca de um alívio da pena). A justiça brasileira espera que Funaro possa revelar pormenores sobre esquemas de corrupção e branqueamento de capitais de grandes empresas, que são suspeitas de receber apoio financeiro da Caixa Econômica Federal de outras entidades controladas pelo Estado, como contrapartida do pagamento de subornos a agentes políticos.

Aécio Neves, o ex-candidato presidencial sob suspeita

Aécio Neves foi governador do Estado de Minas Gerais e senador desde 2010. Em 2014 concorreu às eleições presidenciais como candidato do PSDB, passando à segunda volta onde perdeu contra Dilma Rousseff. Neves é presidente do Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB) desde 2013. O seu nome apareceu nas delações (denúncias) feitas no quadro da investigação Lava Jato que alegavam ter recebido vantagens ilegais.

Na conversa com os procuradores, Joesley revelou ter pago propina (subornos) da ordem dos 60 milhões de reais (17 milhões de euros) a Aécio em 2014, avança ainda o Jornal Globo, através de notas fiscais frias (faturas falsas) emitidas a várias empresas. O grupo terá ainda financiado partidos políticos para apoiarem a corrida presidencial do senador. A procuradoria geral brasileira autorizou a investigação a Aécio Neves já este ano. Esta quinta-feira, o senador foi afastado do cargo e alvo de buscas, por ordem do juiz, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin. Neves pediu licença da presidência do PSDB,