São cinco da tarde. Samuel Úria começa e faz bem. É um rei do rock’n’roll, em parte queremos ser todos como ele, naquele dia em que chegarmos ao palco. Guitarras, gingar de anca e aquela coisa do “apesar das tragédias vai ficar tudo bem”. É a Primavera, baby. Não está sol, nem por isso, mas está bom. Bom é o que importa. Nesta primeira noite haverá o R&B de Miguel, o hip hop de show gangsta com os Run The Jewels e a dança punk dos Justice. É tudo coisa de calor bom mas cada um sabe de si: que todos tragam uma malhinha.
Atenção, isto de Samuel Úria ser o maior já o sabíamos. E apesar daquele som que falhou, daquelas cordas que desafinaram, continua a sê-lo. Coisas que não mudam, como este Parque da Cidade. Mudar para quê? Perguntamos à organização. A resposta: “mudar para quê?” Era mesmo isso que estávamos a pensar. Até ver ninguém precisa de mais, até ver ninguém quer mais.
As coroas de flores, as toalhas de xadrez que tanto estão na relva como aquecem ombros. As fotos e a internet, vão do público ao palco. Os adultos e os mais pequenos de ouvidos protegidos, o que é tradição desde a primeira vez em 2012 é para se manter. Depois há detalhes, fun facts de festival. Até ver, os ecrãs estão longe de ser gigantes. À entrada não havia distribuição de horários de concertos. Este último pode sempre resolver-se ou ultrapassar-se, já a primeira questão pode incomodar mais. Ainda assim, os sacos/mochila da moda que se passeiam pelo parque têm boa pinta, obrigado.
Ainda bem que há coisas que continuam. É por isso que quatro gajos como os Cigarettes After Sex podem vestir-se de preto e cantar canções para desfazer corações à luz do dia. Quatro acordes podem chegar para explicar que o mundo parece não ter remédio. A voz não estica, está sempre presa no mesmo tom porque a dor está sempre no mesmo sítio. Nada a fazer e ainda bem.
Dream pop. É o que diz o rótulo que a banda recebeu. Há quem dance a isso, há quem brinde a isso e há os que ainda dizem olá a quem chega. Há muito olá a dizer, há muito encontro marcado. O Parque da Cidade é uma bonita sala de estar, com um copo na mão e um abraço na outra. Do lado esquerdo do palco, do lado direito da régie, de frente para aquele bar, mas mais descaído para a ponta se vieres da entrada. Vai ser sempre assim mas enquanto é de dia tudo se vê melhor, tudo isto rola melhor.
Nesta edição de 2017 há 30 mil bilhetes por dia e sexta feira já só é dia santo para quem se adiantou na bilheteira. “Dia de arranque” pode revelar-se expressão mentirosa, parece que tudo está ainda aquecer. É verdade, ainda agora começou, mas vai bem e recomenda-se.